O governo Lula 3 vem sofrendo com a inconstância de apoio dos partidos aliados no Congresso. Por causa da fragilidade dessa relação, cresce a demanda por uma reforma ministerial após as eleições municipais de outubro. A futura mudança visaria assegurar maior apoio no Parlamento e fortalecer o governo para a campanha eleitoral presidencial que começará no ano que vem.
A mexida na Esplanada também deve se destinar a promover alguns ajustes em pastas ligadas ao PT e à cota pessoal de Lula que não apresentaram a performance desejada. Já entre os demais aliados, o objetivo será robustecer a retaguarda do Executivo no Legislativo. Entretanto, as expectativas podem ser frustradas. No cenário atual, a capacidade de ampliação do número de votos pró-governo é restrita. A expansão pretendida mira os partidos de centro e de direita da Câmara dos Deputados que possuem cargos no primeiro escalão e são decisivos para o desempenho governista. E, aqui, leia-se: União Brasil, Progressistas, MDB, PSD e Republicanos.
Nessas legendas, a capacidade de entrega de votos já se encontra praticamente no limite. Há divisões internas significativas que impossibilitam maior adesão ao Palácio do Planalto. As franjas oposicionistas nessas bancadas são bem consolidadas e se alinham ao ideário bolsonarista. Além de uma visão programática mais distante da atual gestão, esses grupos são bastante suscetíveis às pressões da militância digital de direita. Dessa forma, há pouquíssimo espaço para conquistar apoios nesse núcleo.
“No cenário atual, a capacidade de ampliação do número de votos pró-governo é restrita”
Segundo levantamento da Arko Advice sobre o comportamento da base governista, os índices médios de apoio dessas siglas são: MDB, 57%; União, 58%; Progressistas, 60%; PSD, 61%; e Republicanos, 64,5%. Os níveis máximos de fidelidade chegaram a girar em torno de 70%, e os mínimos, na faixa de 35%. As oscilações se devem a fatores como a discordância em relação à pauta em discussão e a deficiência na articulação do governo. Mesmo com uma reacomodação ministerial, dificilmente os tetos de apoio serão ultrapassados.
Portanto, o governo não deve nutrir a ilusão de que terá maioria estável em um Congresso que é, majoritariamente, conservador nos costumes e liberal na economia. É essencial projetar dificuldades que podem surgir no horizonte. À medida que o fim do mandato se aproxima, a tendência é que alguns partidos comecem a se engajar em projetos próprios e se afastem do governo, buscando atender a suas agendas particulares e interesses eleitorais. Essa fragmentação pode complicar a governabilidade e a implementação de políticas do Executivo. A relação requer pragmatismo, vigilância constante e articulação eficiente.
Já que a reforma pode não dar a maioria que deseja, por que fazê-la? A inteligência política indica que o governo, para se manter forte, deve ser popular, articulado, ter boas narrativas e se comunicar bem. Em nenhum desses quesitos o governo se sai bem. Uma reforma pode dar a Lula articulação e narrativas para que consolide seu eventual favoritismo em 2026. Em especial, pelo fato de que o presidente precisa retomar o papel de ser o grande organizador do país, deixando de lado declarações plenas de obviedades e platitudes.
Publicado em VEJA de 28 de junho de 2024, edição nº 2899