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Um Mundo Muito Louco

O Brasil, em um momento de crise geopolítica, deve focar nos fundamentos. Quais são eles?

Por Murillo Aragão 6 fev 2025, 10h20

O mundo de hoje é uma tragicomédia que encontra paralelo na cinematografia internacional: uma mistura de Austin Powers com Dr. Strangelove, temperada com pitadas de It’s a Mad, Mad, Mad, Mad World. Com um detalhe perigosíssimo: tudo é real. Os sinais de insanidade estão por toda parte, intensificados pelo uso deliberado da “Teoria do Louco” (Madman Theory) pelos Estados Unidos, agora sob o novo mandato de Donald Trump.

Em poucos dias, o que antes eram meras suspeitas de medidas radicais transformou-se em realidade, com impactos significativos para a geopolítica global. Essa estratégia, que visa projetar a imagem de um líder imprevisível e disposto a tomar decisões extremas para proteger os interesses nacionais, foi inicialmente desenvolvida por Richard Nixon durante a Guerra do Vietnã. Não deu certo. Os Estados Unidos foram derrotados.

A retórica agressiva de Trump, o abandono de acordos multilaterais e uma abordagem unilateralista intensificaram as tensões geopolíticas com potências como China e Rússia, além de fragilizarem alianças históricas, como a estabelecida com os países da OTAN. Estamos, claramente, diante de um novo cenário global. Como bem disse William Waack na abertura de seu programa no dia da posse de Trump, vivemos uma nova era.

A mera suposição de que o Brasil poderia apoiar a substituição do dólar como moeda nas negociações entre os países do BRICS gerou ameaças veladas de imposição de sobretarifas sobre produtos brasileiros. No entanto, a questão é mais complexa para os Estados Unidos. O comércio entre os dois países atingiu um patamar histórico em 2024, com exportações brasileiras totalizando US$ 40,3 bilhões — um aumento de 9,2% em relação ao ano anterior — enquanto as importações de produtos norte-americanos somaram US$ 40,6 bilhões, resultando em um déficit comercial de US$ 0,25 bilhão para o Brasil. Apesar da relação comercial robusta, o Brasil não apresenta superávit comercial com os EUA desde 2009. Assim, punições econômicas podem não trazer ganhos significativos para Washington. Além disso, sob a doutrina Celso Amorim, que ainda orienta a diplomacia brasileira, o Brasil retaliaria de forma imediata.

Sem decisões claras de punições ao Brasil, o país deve adotar uma postura cautelosa. Afinal, a eficácia da Teoria do Louco reside na percepção de controle por parte de quem ameaça o caos. O comportamento privado de Nixon era muito mais calculado do que sua persona pública sugeria. Trump, contudo, parece incorporar o caos tanto publicamente quanto, possivelmente, em sua prática de governar. Essa indistinta fronteira entre estratégia e personalidade complica a avaliação de seu legado em política externa. Trump é um mestre na manipulação da percepção ou sua imprevisibilidade é genuína, reflexo não de uma estratégia, mas de um temperamento pessoal? Talvez a resposta resida justamente nessa ambiguidade, que pode ser tanto sua arma quanto sua fraqueza.

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Nas palavras da banda brasileira Os Mutantes, em sua “Balada do Louco”, encontramos uma reflexão que ecoa no subtexto dessa estratégia: “Dizem que sou louco por pensar assim / Se eu sou muito louco por eu ser feliz / Mais louco é quem me diz / E não é feliz, não é feliz.”

O Brasil, em um momento de crise geopolítica, deve focar nos fundamentos. Quais são eles? O mundo pós-Guerra Fria mudou desde o atentado de 11 de setembro, e, com Trump, essas transformações são ainda mais relevantes. Mas estão em curso. O Brasil possui uma agenda interna imensa de desafios e deve manter-se atento e, ao mesmo tempo, discreto diante da confusão global, focado em ser um país melhor. Por fim, mesmo sendo uma das maiores economias do mundo e uma potência na geração de alimentos e commodities, temos poucas “figurinhas” para trocar na mesa internacional. Em tempo de muda, passarinho não canta.

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