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Uma nova globalização

O Brasil precisa estar atento às transformações

Por Murillo de Aragão Atualizado em 4 jun 2024, 12h20 - Publicado em 2 abr 2022, 08h00

Tanto a pandemia de Covid-19 quanto a invasão russa da Ucrânia atingiram dramaticamente o processo de globalização. As repercussões foram amplas e em quase todos os segmentos. A pandemia afetou o trabalho, as viagens, a cultura e o convívio social. Hábitos trazidos pela Covid vão perdurar por um bom tempo. As políticas assistenciais aumentaram em mais de 20% o meio circulante no mundo, contribuindo para um processo inflacionário. Políticas anticíclicas foram adotadas para evitar a paralisia da economia.

Porém, quando o mundo ainda estava saindo da tragédia pandêmica, a agressão russa na Ucrânia aconteceu para afetar ainda mais a globalização e as relações internacionais. Nunca, em tempos recentes, um conflito teve tamanho impacto na economia planetária. Mesmo que a guerra acabe logo, seus efeitos serão duradouros. As políticas de defesa — antes prioritárias a países em regiões mais turbulentas — passaram a ser um tema geral. A Europa e os Estados Unidos vão se rearmar em decorrência do temor dos ímpetos expansionistas russos.

Mas o conflito na Ucrânia vai mais além das questões tradicionalmente bélicas. As sanções adotadas — pelos países e pelas corporações — contra personalidades e o governo russo são inéditas na história e jogam questionamentos sobre como o mundo livre, defensor da liberdade econômica, vai lidar — de ora em diante — com parceiros econômicos que adotam práticas antidemocráticas. Exemplos significativos estão em curso. O Reino Unido, após décadas sendo um paraíso fiscal de bilionários de origem obscura, agora intensifica uma campanha contra os oligarcas. Outros países também adotam medidas semelhantes.

“Tanto a pandemia quanto a invasão russa impõem reflexões sobre como o jogo da geopolítica vai ser jogado”

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A questão poderá ir mais além quando consumidores começarem a reagir contra produtos de países que agem de forma antidemocrática, não respeitam a boa convivência internacional ou não desenvolvem práticas sustentáveis. Pela pressão dos consumidores, empresas poderão ser mais cautelosas em lidar com regimes amparados em cleptocracias ou que não respeitem os direitos das minorias.

No âmbito da infraestrutura, o mundo da energia está em transformação. Não apenas pela tentativa de redução do uso de combustíveis fósseis. O conflito na Ucrânia, passagem do gás natural russo para a Europa, está impondo uma revisão dos planos energéticos da Europa, que, tampouco, quer ficar na dependência dos humores de Vladimir Putin. Já estão em curso boicotes ao petróleo russo e planos para reduzir ao máximo a dependência do mesmo.

Talvez seja prematuro dizer que viveremos uma nova globalização. Até mesmo pelo fato de que — em sendo um processo — a globalização está em permanente evolução. Novos atores são integrados à dinâmica, bem como novos comportamentos sociais afetam o rumo dos acontecimentos. A reação da sociedade civil à invasão da Ucrânia é um exemplo.

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Ao cabo, tanto a pandemia quanto a invasão russa impõem reflexões sobre como o jogo da geopolítica vai ser jogado. O Brasil, mesmo sendo um player regional, deve ficar atento às transformações que, obrigatoriamente, geram oportunidades e desafios.

Publicado em VEJA de 6 de abril de 2022, edição nº 2783

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