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Câmbio: “O ‘Pix internacional’ irá impactar todo o mercado financeiro”

Executiva vê nova era do mercado cambial no País com mudanças preparadas pelo Banco Central

Por Neuza Sanches Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 10 out 2022, 11h26 - Publicado em 8 out 2022, 09h00
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  • O mercado de câmbio primário – formado por operações de exportações, importações, entradas e saídas financeiras e acessível a qualquer pessoa física ou jurídica – movimentou no Brasil, no primeiro semestre de 2022, US$ 843 bilhões. Trata-se de uma diferença de US$ 96 bilhões comparando com o mesmo período de 2021 que ficou em US$ 747 bilhões. Ou seja, um crescimento de 13%.  Isso mostra que após dois anos estagnado por causa dos efeitos da pandemia, o setor está em franco crescimento, coincidindo com medidas a ser adotadas pelo  Banco Central para desburocratizar as operações e ampliar o número de players – reduzindo, assim, a concentração de movimentações nos grandes bancos. “Há um fluxo de serviços cambiais cada vez maior”, afirma Ana Tena, CEO da Travelex Confidence.

    Formada em administração e direito, Ana sempre gostou da área financeira. Passou por bancos como HSBC e Citibank, onde exerceu a atividade de CFO. Agora, está à frente da Travelex Confidence, corretora que opera no Brasil há sete anos, com trajetória de 20 anos em outros países, e conta hoje com quatro milhões de clientes e atendimento em 110 lojas de câmbio espalhadas pelo País, abertas nos mesmos horários dos shoppings. “Luxo, hoje, é o atendimento pessoal, porque está ficando cada vez mais difícil falar com alguém”, diz ela. O grupo tem ainda um banco de câmbio para fazer remessas internacionais e auxiliar nas transações em importações e exportações. Ou seja, trabalha no atendimento de B2B e B2C.

    Atualmente, o mercado de câmbio no Brasil é considerado extremamente regulado e burocrático, com mais de 100 especificações para transações como remessa e pagamento internacional, além dos impostos. “Mas o impacto da nova legislação para a pessoa jurídica – como o setor de agronegócios – deverá ser significativo, na medida em que simplificará as transações cambiais”, completa. Ela deu a seguinte entrevista à coluna:

    Como está hoje, no pós-pandemia, o mercado de câmbio no Brasil?

    Durante a pandemia, houve uma diminuição no turismo. Mas agora o mercado de câmbio se expandiu por causa da globalização e da venda de produtos e serviços externos, apesar da retração do turismo no Brasil. O home office, por exemplo, mudou muito esse mercado, porque se pode trabalhar no País e também fora dele, e o mercado de câmbio acabou tendo impacto nesse sentido no atendimento dos profissionais. Então, há um fluxo de serviços cambiais cada vez maior. Não é somente um mercado relacionado ao turismo. O brasileiro acaba sendo beneficiado porque tem acesso a produtos globalizados.

    Qual é o estilo do brasileiro?

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    É completamente americano. Ou seja, o dólar é sempre recorrente como base de investimento. Hoje, entre 50% e 60% do fluxo cambial é relacionado ao dólar, porque é a referência de todas as outras moedas no mundo. Ou seja, o dólar ainda é o melhor hedge cambial – de proteção cambial – tanto para pessoa física quanto jurídica, porque a volatilidade da moeda brasileira é muito grande. E variações de 3% a 4% no câmbio do exportador pode impactar na margem de lucro. Para a pessoa física também: se você tem um filho que estuda lá fora e poupa em reais para depois fazer o pagamento em outra moeda, vai enfrentar grande volatilidade do real.

    O Brasil está prestes a  mudar a legislação do mercado de câmbio, que deverá ocorrer no fim de dezembro. Quais são as principais mudanças e impactos dessa nova legislação?

    Em relação à pessoa física, ela vai desburocratizar e desregulamentar muitos itens, para se ter acesso ao mercado internacional com mais facilidade. O impacto para pessoas físicas vai ser muito pequeno. Por exemplo, hoje, o limite de recursos em espécie que cada passageiro pode portar ao entrar ou sair do Brasil é R$ 10 mil. Com a nova lei, este limite passa a ser USD 10 mil. É um dos pontos que temos discutido com a Febraban e com o Banco Central.

    E para pessoa jurídica, qual o impacto?

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    O mercado de câmbio no Brasil é extremamente regulado e burocrático. Existem mais de 100 classificações para enquadrar uma transação, com impostos diferentes e registro no Banco Central. Com a nova legislação, por exemplo, transações de até US$ 50 mil poderão ser classificadas em apenas dez naturezas. Vai simplificar ao desburocratizar e dar maior facilidade e agilidade nas transações. Ou seja, vai flexibilizar para que cada instituição financeira crie o seu formato. As operações poderão ser formalizadas por e-mail, sem a necessidade de se fazer um contrato e ter de assinar e a corretora ter de fazer essa guarda do contrato durante anos. Hoje, as instituições têm de passar por um banco para fazer suas operações como pagamentos internacionais. Com a mudança as instituições de câmbio também poderão pedir licença para ter a conta internacional e fazer as movimentações livremente. E isso vai permitir mais players no mercado.

    Essa regulamentação ajudará a criar um ‘Pix internacional’?

    Sim. Terá de ser feito em fases até o dia em que o cliente conseguir fazer a operação de forma imediata – vai e volta –, como é hoje com o Pix no Brasil. É um processo que tem de ser faseado e feito de forma a dar segurança para o usuário. Não podemos ter o risco de enviar o recurso para um lugar e ele não chegar.

    O ‘Pix internacional’ vai impactar os players desse mercado?

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    Sim, haverá um impacto em todo o mercado financeiro. E também haverá oportunidade. É um caminho sem volta. O brasileiro poderá fazer uma transação mais simples com menor esforço de serviços prestados. Mas todo o mercado financeiro está se adaptando a esse novo ambiente. Hoje, as corretoras trabalham com teto de US$ 300 mil. Acima disso, as transações têm de ser feitas por bancos, que não têm essa limitação. Isso poderá mudar.

    E como fica o IOF? Haverá algum impacto?

    Sim, haverá impacto no IOF, previsto para que seja reduzido paulatinamente até 2029, quando estará zerado, por acordo internacional com a OMC (Organização Mundial do Comércio).

    Há algum impacto com o resultado das eleições presidenciais?

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    Sim, as eleições impactam. Mas é uma volatilidade temporária. A volatilidade no mercado nacional é o ‘novo normal’. Até porque tem influência global também e não somente na questão interna. Há muitas incertezas internas e externas. É o que sempre falo: volatilidade e incerteza viraram o nosso ‘novo normal’. Mas seja quem for que venha a presidir o País, as instituições estão fortalecidas. É um caminho sem volta.

    O brasileiro está preparado para todas essas mudanças?

    Em mercados complexos tem de se ter educação financeira, e o Brasil tem um grande caminho a ser percorrido. A desintermediação que está vindo será muito favorável para o usuário do sistema financeiro, mas tem de haver uma melhora na educação financeira do brasileiro. E assim se terá um sistema mais transparente e haverá mais players que oferecerão produtos e cada vez mais garantias.

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