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Neuza Sanches

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Negócios, Mercados & Cia
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Escolas privadas: a inadimplência e a solução para oferecer crédito

Entenda por que o Educbank se tornou essencial na educação privada no País, setor com 40 mil escolas particulares e movimentação de R$ 90 bilhões no ano

Por Neuza Sanches Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 28 fev 2023, 09h00
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  • O ensino público – de modo geral – está no fundo do poço: sem recursos para material escolar e uniformes, falta professores, infraestrutura. Problemas como esses chegaram ao ensino privado, que sente falta de melhor administração de recursos e acesso a créditos para resolver problemas imediatos de caixa, sem esvaziar os bolsos dos pais de alunos, preocupados com os altos custos das escolas particulares. De olho nesse nicho foi que nasceu há dois anos o Educbank uma fintech com mais de 200 escolas parceiras, distribuídas por 23 Estados brasileiros. O Educbank em 2022 captou R$ 200 milhões em 2022, numa das maiores rodadas Série A da América Latina, sendo liderada pela Vasta (NASDAQ: VSTA) e acompanhada pelo fundo Marrakech Capital. Com o aporte, a companhia estima transacionar mais de R$ 1 bilhão em pagamentos escolares em um ano.

    O conceito foi idealizado por Danilo Costa, quando administrava uma rede de escolas que ele próprio fundou. Percebeu o problema institucional que a inadimplência e a falta de acesso a capital causavam para o setor, obstruindo as escolas do país de investirem e forçando o gestor educacional a se concentrar na inadimplência ao invés de focar na aprendizagem dos alunos.

    Formado em Direito pela FGV-SP, Costa foi CEO da Vereda Educação, foi VP na RBR Asset, e teve passagens pelo Itaú BBA, BTG Pactual e Machado Meyer Advogados. Aos 27 anos criou no país o conceito de escolas low cost em tempo integral, que foi incorporado por diferentes grupos do setor e hoje atende a milhares de famílias em vários estados do Brasil. É embaixador para empreendedorismo social e inovação da London School of Economics (LSE) no Brasil, foi nomeado MIT Innovators Under 35 e foi homenageado pela EY (Ernst & Young) como Empreendedor do Ano (na categoria Impacto).

    Na prática, o Educbank oferece o apoio financeiro e assume o risco da inadimplência da escola. Em contrapartida, cobra uma taxa de administração pelo valor total transacionado via plataforma. “Nenhum setor se consolidou sem acesso a capital e não será́ diferente com as escolas brasileiras, que necessitam de segurança financeira de longo prazo para investir e inovar – e é justamente isso que o Educbank está permitindo”, declara Danilo Costa, fundador da instituição financeira.

     Qual o nível de inadimplência das famílias com escolas particulares que faz vocês essenciais ao ensino privado?

    Em nossas pesquisas constantes, constatamos que 25% das famílias brasileiras atrasam o pagamento das mensalidades escolares. Ou seja, em média, as escolas tem até 1⁄4 das receitas comprometidas mensalmente. Ao final de cada mês, esse número baixa para 18% de inadimplência. Olhando para a somatória disso durante o ano letivo há uma grande necessidade por capital de giro por parte das escolas, gerando insegurança e imprevisibilidade financeira. Levando isso em consideração, é natural os gestores escolares saírem ao mercado buscando crédito a qualquer custo, uma vez que precisam continuar honrando a folha salarial, os fornecedores e demais contas.Em razão disso, estima-se que 50% da agenda dos diretores escolares é dedicada para organizar as finanças (incluindo o gerenciamento de cobrança).

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    Dessa forma que surgiu a ideia de se criar o Educbank?

    O Educbank surgiu para sanar um problema crônico da educação privada brasileira ao prover segurança financeira e institucional de longo prazo para as escolas. Ou seja, nenhum setor se consolidou sem acesso a capital e não será́ diferente com as escolas brasileiras, que necessitam de segurança financeira de longo prazo para investir e inovar – e é justamente isso que o Educbank está permitindo.

    O ensino privado é essencial no Brasil? Por quê?

    Nunca em nenhuma democracia até hoje nenhum setor conseguiu se consolidar sem educação básica, e não vai ser diferente com o Brasil.Segundo o IBGE, a educação é uma das principais prioridades da família brasileira junto com saúde e moradia. Atualmente, cerca de 9 milhões de alunos estudam em escolas particulares, de acordo com o Censo Escolar.É fundamental que o setor privado, que toda a rede particular de escolas alcance a estabilidade financeira para evitar que o sistema público de ensino seja ainda mais sobrecarregado, uma vez que há um limite de gastos públicos para a educação nos próximos anos.

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    Esse trabalho do Educbank também impacta na mensalidade?

    Estamos trabalhando exatamente para que as mensalidades escolares sejam mais acessíveis. O nosso propósito é ampliar o acesso à educação de qualidade no Brasil, não deixando nenhuma escola para trás.Hoje o que comentam sobre a ‘elitização do ensino privado’ está baseado exatamente neste modelo insustentável das escolas fazerem o adimplente financiar o inadimplente. Esta foi a única forma que os mantenedores escolares encontraram para deixar as ‘contas no azul’: reajustar o valor das mensalidades sempre acima da inflação, vislumbrando isso como uma fonte de recurso e de alívio para o orçamento escolar. A partir do momento que, com o Educbank, as escolas passam a ter previsibilidade financeira e tempo para o seu planejamento estratégico, aquele que era o ciclo vicioso da inadimplência passa a se tornar um ciclo virtuoso da estabilidade e da perspectiva positiva.

    Ou seja, acreditamos muito no potencial das escolas particulares e enxergamos o setor como essencial para alavancar a qualidade de ensino do país. Por sinal o setor de educação básica privada é uma das grandes locomotivas econômicas do Brasil. Segundo estimativas da FENEP, o PIB brasileiro obtém um ganho anual direto e indireto de R$ 126 bilhões, sendo que nos últimos dez anos o número de empregos no setor cresceu 34%. Atualmente, o setor educacional privado é um dos maiores empregadores dentre os empregos formais privados no país, correspondendo a 3,4%.

    As escolas precisam de segurança em relação às famílias? Por quê?

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    Como forma de proteção ao ensino de crianças e jovens, há uma lei federal que prevê̂ a proibição da suspensão das atividades escolares durante o ano letivo por motivo de inadimplemento. Por um lado, isso é formidável: garante que o estudante não sofra interrupções e nem penalidades pedagógicas por qualquer dificuldade financeira que sua família possa passar. Mas por outro lado, a mesma lei federal não criou e nem implementou nenhum mecanismo de apoio às escolas, que são responsáveis por manter o serviço independente das famílias pagarem ou não as mensalidades. Ou seja, apesar de tentar proteger o aluno, esse mecanismo da legislação trabalha de forma contrária aos interesses e necessidades das escolas e da educação brasileira.

    Considerando que há outra regulamentação (Lei de Usura) que veda a cobrança de juros acima de 1%, o comportamento das famílias é instintivo ao se alavancar nas instituições de ensino, priorizando o pagamento das dívidas mais caras, como o cartão de crédito, cheque especial, plano de saúde, aluguel e financiamento de imóvel. O que quero dizer aqui é que a única segurança da escola perante as famílias é entregar um custo-benefício que seja muito relevante, proporcionando uma qualidade educacional acima da média por um valor de mensalidade abaixo da média. Desta forma, as famílias acabam não medindo esforços para pagar os valores atrasados e rematricular os filhos no próximo ano letivo.

    Há despreparo (ou não) de conhecimento financeiro por parte da administração escolar? Em que exatamente?

    Todas as dificuldades que os mantenedores escolares enfrentem diariamente seria humanamente impossível exigir ainda mais deles. Eles já́ são heróis, assim como todos os educadores e os demais agentes de transformação da educação no nosso país.

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    Mas veja bem, segundo levantamento realizado pelo Censo Escolar, apenas um a cada dez gestores escolares tem formação específica para a função. Pois é, somente 10% de todos os mantenedores brasileiros tiveram essa oportunidade. Este é um dado alarmante, mas isso não é falta de interesse dos gestores. O fato deles precisarem dedicar 50% da agenda para a organização financeira da escola, quase não sobra tempo para focar no seu próprio desenvolvimento.

    O intuito do Educbank é servir de suporte gerencial e de apoio financeiro para que os mantenedores possam desenvolver o máximo potencial das suas escolas, minimizando as preocupações e inseguranças financeiras. Com o mantenedor focado no que realmente importa que é a educação, ele pode investir em tecnologia, infraestrutura, formação de professores, projetos estratégicos de crescimento, entre outras iniciativas como a própria formação continuada dele.

    Desde a criação do Educbank o que os diferencia no mercado financeiro? Se comparados aos bancos digitais e/ou tradicionais ou mesmo as fintechs?

    A diferença é que o Educbank tem um nicho específico de atuação. Somos a primeira instituição de fomento à educação básica na América Latina. Criamos uma solução financeira centrada nas necessidades das escolas de ensino básico, que atendem 0 a 17 anos. Não atendemos nenhum outro setor. Para se ter uma ideia, de acordo com o Censo Escolar, no Brasil há mais de 40 mil escolas particulares que movimentam cerca de R$ 90 bilhões anualmente. Ou seja, há um mercado endereçável muito grande e a nossa meta é atender no médio prazo pelo menos 1⁄4 desse total.

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    Há concorrência no País?

    Hoje ainda não há concorrentes realmente diretos, pois o Educbank é a única instituição de pagamentos dedicado à educação básica totalmente B2B (business-to- business), que aporta segurança financeira sem interferir na autonomia e autoridade das escolas no plano operacional, inclusive sem gerenciar a cobrança e sem interferir na relação entre escola e família. Após a nossa criação, novos players inspirados no Educbank surgiram no Brasil, e também estão surgindo na América Latina, como por exemplo no México, Argentina e Colômbia. Porém, são teses diferentes e concorrem indiretamente por aqui, uma vez que ofertam um serviço semelhante (inadimplência zero para as escolas), mas operando como um serviço de cobrança (factoring), o que é diferente da nossa proposta. Enfim, somos um apoiador financeiro das escolas de alto potencial.

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