Faria Lima: o que os banqueiros acham de uma possível vitória de Lula?
As pesquisas indicam - até agora - a vitória do ex-presidente; o mercado financeiro já trabalha com essa possibilidade
Banqueiros da Faria Lima, centro financeiro de São Paulo, e do Leblon, no Rio de Janeiro, já trabalham com a possibilidade de vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições do próximo mês. Essa avaliação foi reforçada pelos resultados das pesquisas de intenção de voto divulgadas pelo Ipec e pelo Datafolha nestas últimas semanas. Lula oscilou pouco ou ficou estável em relação ao presidente Jair Bolsonaro nas duas sondagens, que refletem não só os primeiros dias do horário eleitoral gratuito, como também a sabatina no Jornal Nacional e o debate organizado pelas TVs Band e Cultura, Uol e Folha de S.Paulo.
Em outros tempos, só a menção a essa possibilidade já colocaria o mercado em polvorosa. Mas não foi o que eu ouvi de banqueiros e grandes executivos do setor. Mudou o mercado ou foi Lula e o PT que trocaram de narrativa e não assustam mais?
“O Brasil é o Brasil. Estaremos aqui no dia seguinte (à eleição) como todos os clientes”, me disse um desses banqueiros. “Sempre vai ter um governo com problemas aqui e ali, que não vai agradar totalmente ao setor financeiro”, afirmou outro, acrescentando: “Na verdade, tanto faz um ou outro (ou Lula ou Bolsonaro)”.
A avaliação é de que nem Lula nem Bolsonaro, se eleitos, devem promover uma mudança radical na economia. E tudo o que os bancos não querem é falta de previsibilidade. A tendência seria a manutenção da linha atual de governo, eventualmente com diferenças em relação à ênfase dada na condução das políticas sociais (Lula) ou de menor ingerência do Estado na economia (Bolsonaro). E, claro, esse cenário descarta o temor de um golpe nas eleições.
No caso específico de vitória de Lula, Faria Lima e Leblon já precificam a melhora da imagem do Brasil no exterior, o que em tese poderia abrir as portas para investidores estrangeiros que estão hoje assustados com as notícias de aumento de desmatamento na Amazônia ou de enfrentamento entre o Planalto e outros Poderes. Outro fato mencionado por um banqueiro é que “Lula sabe dialogar”.
Existe, porém, a reclamação de que a campanha petista ainda não deixou claro o que pensa, exatamente, sobre o aumento de gastos e a administração da dívida pública. Seus assessores já disseram que querem mudar as regras do teto de gastos, mas há dúvidas sobre como isso seria feito e seus efeitos. A mexida tem sido vista como necessária para acomodar no Orçamento as “pendências” que vão ser deixadas pelo atual governo, como a promessa de manter o pagamento de R$ 600 do Auxílio Brasil e a desoneração dos preços de combustíveis e energia elétrica. “Essa história de gastar mais no primeiro ano do novo governo não faz sentido”, critica um banqueiro.