Guerra tarifária, recessão mundial e os riscos para o Brasil
Tarifaço anunciado pelos EUA deve pressionar a economia global, com impacto generalizado sobre PIB, emprego e inflação

A guerra comercial desencadeada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está no centro das atenções com seus desdobramentos sobre a economia global — e, por consequência, sobre o Brasil. Embora o País tenha sido, até aqui, alvo de uma tarifa adicional de 10%, o patamar mínimo entre as chamadas “tarifas recíprocas” impostas pelo governo americano, analistas apontam que o impacto mais relevante pode vir pela via indireta: uma desaceleração sincronizada da atividade econômica internacional.
O cenário preocupa agentes do mercado, especialmente porque as projeções para o crescimento do PIB brasileiro neste ano já eram moderadas, em razão da política monetária restritiva e da manutenção dos juros em patamares elevados. Para empresários de setores do varejo e indústria e mercado financeiro – em especial da Faria Lima, centro financeiro de São Paulo – o risco é de um enfraquecimento adicional da demanda externa por produtos brasileiros, redução nos investimentos e aumento da aversão ao risco, com efeitos diretos sobre o mercado de trabalho e o nível de confiança na economia.
Um segundo efeito colateral começa a ganhar visibilidade. Com a realocação de fluxos comerciais globais, há expectativa de aumento nas exportações de países que perderam espaço no mercado americano e que, agora, buscam novos destinos – entre eles, o Brasil. Isso levanta alertas em setores industriais nacionais, como o siderúrgico, que já se mobiliza para evitar uma super oferta no mercado interno. Em 2024, o setor conseguiu a adesão do governo a um sistema de cotas para importação de aço, mas teme que as medidas sejam insuficientes frente à nova dinâmica internacional.
O horizonte de longo prazo dependerá da duração e intensidade de um eventual desaquecimento global, , segundo banqueiros ouvidos pela coluna. Embora exista a possibilidade de o Brasil reposicionar sua pauta de exportações e fortalecer laços comerciais com novos parceiros, a persistência de um cenário recessivo amplia os riscos de estagnação e perda de dinamismo econômico.
Para os consumidores, o maior impacto poderá ser a persistente inflação combinada com deterioração do poder aquisitivo, expectativa de aumento do desemprego e restrição ao crédito. Essa equação tende a comprimir ainda mais o consumo das famílias — especialmente nas faixas de menor poder aquisitivo — e reforçar um ciclo de desaquecimento interno. Em um ambiente de incerteza crescente como esse, será difícil manter o sono em dia.