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Jô Soares: “Não estou entre os dez mais bem pagos”

Ao ir para a Rede Globo, o apresentador entrou na lista dos mais bem pagos do showbiz brasileiro

Por Neuza Sanches Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 5 ago 2022, 15h46 - Publicado em 5 ago 2022, 11h12
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  • É um desafio escrever sobre Jô Soares. E sempre foi assim, por um par de anos, durante toda minha passagem como subeditora de Cultura de VEJA. Jô era inteligente e afiado como poucos nos seus múltiplos papéis, fosse como humorista, escritor, dramaturgo ou diretor de teatro e de cinema, além do saber enciclopédico quando o tema da conversa enveredava pelo jazz.

    A cada entrevista tinha de me preparar como se fosse defender uma tese de doutorado, porque Jô não admitia (nem tinha paciência) para informações equivocadas e perguntas rasas.

    No fim dos anos 90, quando ele tomou a decisão de levar o seu talk show do SBT para a Globo, VEJA saiu com uma reportagem de capa sobre o ranking dos maiores contratos do showbiz nacional. E lá estava ele entre os dez mais bem pagos da cultura nacional, numa lista de mais de 100 nomes, entre músicos, apresentadores de televisão, diretores de cinema e de teatro.

    “Não estou, não entre os dez da sua lista”, afirmou Jô quando fui entrevistá-lo, depois de quase um mês de apuração e checagem dos dados. “Você está, sim, entre os dez mais bem pagos do nosso showbiz”, contestei. “Tá bom. Se você sair com essa matéria, vai me arrumar problema com a minha ex-mulher, que vai reivindicar uma parte maior de pensão”, respondeu ele, aos risos. “Já pago um dinheirão para ela e para o meu filho. E outro tanto para advogados e para o empresariado. É tudo muito caro para manter essa lista de gente.” Naquela época, fiquei um tanto decepcionada com a pressão dele. Afinal, pensava eu, ele é rico e iria ficar ainda mais.

    O diretor de redação da revista na época me chamou e perguntou se eu tinha certeza sobre a apuração, já que Jô o havia procurado e reclamado dos dados. “Sim, tenho. E, se ele sair da lista, perderemos a credibilidade, pois ele é um dos mais bem pagos da nossa Hollywood.”

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    Veja Ed. 1448
    (./VEJA)

    A capa foi publicada. O que Jô Soares previu se concretizou. Ele me ligou logo na segunda-feira seguinte à publicação: “Tá satisfeita? Você me arrumou um problema. Mas eu admiro a sua coragem. Poderia ter recuado e me tirado da sua lista por causa da minha pressão, e não fez isso. Você é realmente uma ótima jornalista”. Embora ele tenha ficado algum tempo sem falar comigo, acabamos nos reaproximando. A partir daí, falávamos quase sempre por telefone, num tempo em que não existia os aplicativos de mensagem.

    Quase duas décadas depois, nos encontramos nos corredores da Globo em São Paulo. Ele se preparava para apresentar seu programa. Andava devagar, peso da idade, peso das cirurgias que precisou fazer. “E aí, menina, como você está?” Fiquei emocionada pelo respeito. Perguntaram se queria fazer uma foto com ele. Respondi que não era o caso. A admiração por ele nunca precisou de imagens congeladas. Foi um privilégio ter conhecido um verdadeiro estadista da cultura nacional, que deixou – esse sim – um legado.

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