A Unio Partners, uma das principais boutiques de assessoria financeira independente do País, está otimista em relação ao desempenho do setor de fusões e aquisições neste segundo semestre, mesmo com o Banco Central sinalizando uma eventual retomada de alta da Selic – hoje, em 10,50% ao ano. A avaliação é de que os próximos meses deverão ser mais movimentados do que na primeira metade do ano. E parte do impulso para esse resultado deve vir da regulamentação final da reforma tributária, que vai entrar agora em discussão no Senado. “A reforma tributária é extremamente determinante no cenário de M&A, principalmente no Brasil, cuja carga tributária representa muito no resultado das empresas”, afirma Marcelo Serro Azul, sócio-fundador da empresa.
Formado em administração de empresas pela FGV-SP, Serro Azul trabalha na área de fusões e aquisições desde 2016, quando começou sua carreira na Lincoln International. Em 2019, conheceu Marco Dorigon e João Albanese, com os quais fundou a Unio Partners. Desde então, a casa já assessorou 14 transações e movimentou mais de R$ 3,5 bilhões.
Segundo estudo da TTR Data, empresa especializada em dados e pesquisa de mercado, até maio o segmento de fusões e aquisições movimentou cerca de R$ 80 bilhões, o que representou queda de quase 4% em relação ao mesmo período de 2023. Mas a retomada já é sentida no mercado, diz Serro Azul, que falou à coluna.
Qual o impacto da reforma tributária no mercado de M&A?
E por quê?
A reforma tributária é extremamente determinante no cenário de M&A, principalmente no Brasil, cuja carga tributária representa muito no resultado das empresas. Evoluir para a reforma é uma mensagem excelente para o cenário internacional, porém o momento atual é de incertezas, pela falta de respostas sobre temas críticos. Não ter exatidão sobre as alíquotas, de que forma serão tratados riscos tributários e créditos tributários históricos representa um risco importante para M&As em discussão, e isso afeta o apetite de investidores estrangeiros e locais. Mas essas mudanças, uma vez resolvidas, podem fazer com que investidores externos entendam como positiva a simplificação do sistema tributário e classifiquem o mercado brasileiro como mais atrativo, o que é positivo para o País.
Quais as perspectivas para este segundo semestre sobre esse mesmo, dado o cenário econômico do País – juros altos e sem perspectiva de queda?
O ciclo de corte de juros neste ano no Brasil já parece ter acabado e, principalmente, com a possível manutenção de juros nos EUA, mesmo que exista a expectativa de um corte ao longo do segundo semestre, a tendência é de um maior fluxo de capital para o exterior, o que deve fazer com que a reabertura de janela para IPOs e FONs não seja tão imediata, refletindo também na retomada mais gradual no mercado de M&As. Ainda assim, estamos notando maior atividade de empresas líderes em setores historicamente aquecidos em M&A (como educação e saúde). Por isso, acreditamos que o segundo semestre será mais movimentado, ainda que menos do que o esperado no início do ano.
E quais setores terão mais impacto em função desse novo cenário dos juros?
Acreditamos que indústria e varejo/consumo serão os setores que terão maior impacto com a provável manutenção da taxa de juros no Brasil até o final do ano. Para o setor industrial, uma taxa de juros-base em 10,50% sinaliza ainda um custo de capital alto para financiamento de capital de giro e investimentos, gerando dificuldade para expansão. Já em varejo/consumo, uma taxa-base ainda em 2 dígitos desestimula o consumidor, pois representa crédito caro.