Quem estava na casa 58 do Condomínio Vivendas da Barra, na Zona Oeste do Rio, no dia em que a vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) foi assassinada? Ali morava Jair Bolsonaro, à época, candidato a presidente da República.
Naquele dia uma pessoa, que a polícia identificou depois como Élcio Queiroz, chegou à portaria do condomínio dentro de um carro e disse que seu destino era a casa 58. O porteiro ligou para a casa 58 e ouviu “do seu Jair” a autorização para que Queiroz entrasse.
Como Queiroz dirigiu-se diretamente para a casa 66 onde morava o ex-policial Ronnie Lessa, o porteiro voltou a ligar para a casa 58 e, segundo ele, ouviu “do seu Jair” que conhecia o destino de Queiroz, e que não haveria problema. Estava tudo ok.
Lessa está preso, acusado de ter matado Marielle. Queiroz está preso, acusado de ter dirigido o carro que conduziu Lessa à cena do crime. E nos registros da Câmara dos Deputados, consta que Bolsonaro estava em Brasília naquele dia.
É mais fácil que o porteiro tenha se enganado ao atribuir a “seu Jair” a voz que não era de Bolsonaro do que a Câmara anotar a presença em seu prédio de um deputado que estaria a milhares de quilômetros de distância.
Mas quem era o dono da voz que na casa 58 atendeu por duas vezes a ligação do porteiro? Que da primeira vez permitiu a entrada de Queiroz no condomínio? E que da segunda informou que sabia que o destino de Queiroz era a casa de Lessa?
A levar-se a lei ao pé da letra, a simples citação do nome de Bolsonaro obrigará a transferência para o Supremo Tribunal Federal das investigações sobre a morte de Marielle que hoje correm no Rio. Bolsonaro tem direito a foro privilegiado.
O depoimento do porteiro, as anotações que constam do livro de entrada do condomínio, um vizinho incômodo como Lessa reforçam a narrativa de que a família Bolsonaro tem mais ligações perigosas com milicianos do que apenas se supõe até aqui.