Março é mês das fortes ventanias, de rudes silvos, e dos seres impulsivos, como assinalam versos do jornalista, poeta e professor João Carlos Teixeira Gomes, falecido ano passado, quando se aproximava dos 85. Comemorados (em memória) dia 9, por amigos e admiradores em Salvador, Rio de Janeiro e outras partes do país, a exemplo das terras do rico roteiro de seu livro “Glauber, este Vulcão”, biografia do colega do colégio Central e amigo do peito, cineasta genial, também um ser de março, entregue aos seus sortilégios, igual ao “Pena de Aço da Bahia”. Nesta semana, o mês da poesia abriu espaço para abrigar um dos episódios mais grosseiros e indecorosos, do cada vez mais trôpego e – a julgar pela mais recente pesquisa do Datafolha – irrecuperável governo do “Mito” Jair Bolsonaro: A saída de Pazuello – que tarda a desencarnar do posto na Saúde e na hierarquia do poder – e sua substituição pelo cardiologista Marcelo Queiroga.
Fato cercado de situações constrangedoras, a ponto de culminar com uma das mais vergonhosas exposições públicas, das “tripas” do governo, de que se tem notícia na história recente do País. Um show de insegurança e vacilações, somado a cenas de escárnio para com a sociedade à beira do caos, em face do avanço inexorável da Covid-19 que bate na casa dos 290 mil mortos no País.
Abalos de idas e vindas em meio a jogadas, pressões, armações e notícias falsas, ardis e ameaças, até a torpe tentativa de desqualificar e demolir a carreira da médica Ludhmila Haijar – primeira opção de nome para substituir o ministro da Saúde – revelada à sociedade como profissional de alto nível técnico e científico, com projetos e prioridades definidos para enfrentar o desastre da pandemia.
Primeiro foi o escarcéu entre quatro paredes do Palácio da Alvorada, domingo, 14, na conversa com o presidente, para a qual a cardiologista fora convidada, que virou uma armadilha. Em seguida a recusa da Dra Haijar, – ofendida em cena aberta na guerra suja tocada por bolsonaristas descontentes com a possibilidade da médica assumir o posto de Pazuello. Ela não só recusa como afasta qualquer acordo ou barganha com questões de princípios. Em termos elevados e civilizados, informou que “não havia convergência técnica com o presidente Bolsonaro”. Falou das pressões e ameaças lançadas contra ela e seus familiares e disse mais: “Acho que o cenário é bastante sombrio. O Brasil vai chegar, rapidamente, a 500 mil, 600 mil mortos e não só isso, mas todo o impacto que essa doença terá em longo prazo, sequelas e consequências que não estão sendo pensadas”. Ponto.
O esquema palaciano então bateu o martelo com o nome da segunda opção: o cardiologista Marcelo Queiroga, o quarto titular e mais nova incógnita à frente da Saúde na Era Bolsonaro. E é o que se viu. Na primeira coletiva, desconfortável e inseguro, ao lado de Pazuello – que sinaliza não querer “largar a rapadura” – Queiroga parecia um daqueles tipos do teatro de Mamulengos, nos tiques,, medindo palavras nas referências ao mandatário. Pede aprovação do ex a cada resposta às questões dos jornalistas: “Não é mesmo, Pazuello?” E cai a cortina no opaco final do primeiro ato. E a sombra da pandemia cobre o Brasil, ceifando mais vidas a cada dia. Na quinta, 17, entre muitos, levou o Major Olímpio , politicamente traído, sofrido e amargurado senador por São Paulo. E paro aqui, neste março das ventanias, porque ouço alguém chorar lá fora.
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta.E-mail:vitors.h.@uol.com.br