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No ambiente, por inteiro

O modelo produtivista hegemônico no mundo leva a uma urbanização irracional, que cria grandes megalópoles que soterram cursos d´água

Por Chico Alencar
Atualizado em 5 jun 2018, 14h00 - Publicado em 5 jun 2018, 14h00
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  • Hoje quero refletir com você sobre… nós! Nós, os humanos, que somos compostos da mesma matéria dos nossos semelhantes animais e vegetais. Nós, que temos alguns elementos físico-químicos que há nos minerais. Nós, que somos Terra, que somos planetários.

    Há uma nova consciência que, superando a condição de “dominadores” da natureza, percebe-nos como parceiros de tudo o que pulsa e constitui. Somos água, terra, fogo e ar. Pela primeira vez em dois milênios de Igreja Católica, um papa, Francisco, lançou uma linda encíclica sobre isso: Laudato sì – “Sobre o cuidado da casa comum”. Celebrar a Semana do Meio Ambiente significa pensá-lo por inteiro: nós dentro dele.

    É imperativo também bradar contra riscos e retrocessos. O modelo produtivista hegemônico no mundo leva a uma urbanização irracional, que cria grandes megalópoles que soterram cursos d´água e produzem objetos descartáveis que se acumulam. As áreas pobres dos grandes aglomerados são desassistidas: no Brasil, 48% das casas ainda não têm coleta de esgoto! Elas são movidas sobretudo a energia fóssil, poluidora, engarrafadora. A recente greve dos caminhoneiros colocou a nu, além da exploração da categoria, os perigos dessa dependência.

    No Brasil atual, o meio ambiente está sob forte ataque. Temos nada menos que 2.775 espécies ameaçadas, incluindo insetos polinizadores. Desses, 290 são vegetais, como o faveiro-de-wilson. A conjuntura agrava o quadro: o (des)governo Temer realiza ofensiva jamais vista. Ele despreza a ecologia, colocando os órgãos públicos de proteção à nossa rica biodiversidade à mercê dos acertos partidários, indicando para cargos de direção gente sem competência e compromisso. Também oferece Medidas Provisórias – como a 820/18 – que abrem espaço a “jabutis” para favorecer a intervenção em terras indígenas, e sua segmentação. Sua base agronegociante de sustentação, além da famigerada PEC 215, que acaba com a possibilidade de criação de áreas indígenas, se empenha agora na aprovação do PL 490/07 e no PL do Veneno, que libera amplamente o uso de agrotóxicos.

    Por outro lado, os biomas do Cerrado, da Caatinga e dos Pampas, que representam 35% do território brasileiro, continuam a sofrer forte barreira no Congresso para serem inscritos na Constituição como patrimônio nacional.

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    Mas não basta denunciar essa ofensiva e resistir a ela. O problema não é só do Poder Público e das empresas devastadoras e poluidoras: é também de cada um de nós. Vale nos indagarmos, por coerência: como estamos tratando o nosso lixo, ainda que poucas cidades realizem a coleta seletiva? Fazemos uso esbanjador da preciosa água que chega às nossas torneiras? A indução ao consumo contínuo nos atinge, de modo a comprarmos mais coisas e gastarmos mais energia do que o necessário?

    Mais do que nunca é preciso lembrar do ensinamento de Albert Einstein: “a natureza, quando agredida, não se defende: ela apenas se vinga”. Saibamos ser parte dela, e não seus algozes!

    *Chico Alencar é professor, escritor e deputado federal (PSOL/RJ) 

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