A pesquisa CNI/Ibope – Retratos da sociedade brasileira – publicada na terça-feira, 13/03/18 mereceu análise de editoriais da grande imprensa, opiniões de respeitáveis articulistas e avaliação de profissionais do marketing político.
Em princípio, a opção mais sensata era dar por encerrada qualquer tentativa de voltar ao tema aparentemente esgotado. No entanto, sem as credenciais teóricas e ocupacionais dos analistas, restava recorrer ao meu olhar de eleitor e político que, ao votar e ser votado, viu, sentiu, e viveu o significado das pesquisas na própria pele. No jogo da competição eleitoral, pesquisa é stress. Pesquisa boa é a que coloca o candidato em vantagem; ruim, são todas as pesquisas desfavoráveis ao candidato. Mas não adianta amaldiçoar a frieza da ferramenta. Importa, isto sim, a boa leitura a ser feita por profissionais competentes dos dados revelados e suas relações com o dinamismo das conjunturas.
Com efeito, a evolução das pesquisas eleitorais mostra sofisticação crescente. Os conhecimentos multidisciplinares interpretam dados, opiniões e fazem uso crescente da neurociência na busca de “emoções ocultas”, feliz expressão do Professor Lavareda que, com João Paulo de Castro, escreveram obra seminal (Neuropropaganda de A a Z, Record, 2017) sobre o funcionamento fascinante e misterioso do cérebro onde jaz o Santo Graal do Inconsciente humano.
Enquanto isso, as pesquisas perseguem a compreensão de sentimentos, desejos e escolhas do eleitor. A leitura da pesquisa CNI/Ibope trouxe-me confirmações e sérias dúvidas. Cerca de 70% de pessimistas e indiferentes à eleição resultam de A política em tempos de indignação (livro de Daniel Innerarity) que vai da apatia à ira dos cidadãos.
No entanto, 86% dos homens e 81% das mulheres afirmam estudar as propostas para decidir em quem vai votar; 75% dos entrevistados não acreditam em promessas de campanhas. Deu um nó no juízo. Coisas que não batem. Já 87% dos entrevistados consideram como característica muito importante dos candidatos “ser honesto, não mentir em campanha” e para 84% “nunca ter se envolvido em casos de corrupção”. Dos 44% declaradamente pessimistas, a metade, 49%, resultam da soma corrupção (30%) e falta de confiança nos candidatos (19%).
Ainda em relação aos candidatos, os entrevistados apontam, como a segunda característica mais importante, a formação e a experiência profissional (77% em assuntos econômicos; 74% ter boa formação educacional). Que assim seja.
Não coloco em dúvida a sincera intenção do eleitor, nem metodologia de pesquisa. Porém, se olhado para trás, o mapa verbal da pesquisa (sentimentos e desejos) não corresponde ao mapa real (efetivas escolhas): o Brasil ocupa o 96o lugar entre os 180 países avaliados no ranking da corrupção.
Para frente, a pesquisa enxerga o Brasil dos nossos sonhos: eleitores esclarecidos; representantes decentes. A conferir.
Gustavo Krause é ex-ministro da Fazenda do governo Itamar Franco