Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Imagem Blog

Noblat

Por Coluna Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
O primeiro blog brasileiro com notícias e comentários diários sobre o que acontece na política. No ar desde 2004. Por Ricardo Noblat. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.

Por que os tiranos enchem a boca falando de “povo”? (Por Juan Arias)

Para eles, o povo é formado pelos mais incultos, pelos mais pobres, pelos que ficam sempre à margem das pessoas que detêm o poder

Por Juan Arias
30 abr 2021, 12h00

Não deve ser uma casualidade que os ditadores e tiranos adorem falar de “povo”. No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro sempre se refere ao povo. Dias atrás, disse a seus seguidores que está “aguardando o povo dar uma sinalização” para tomar decisões.

Quem é esse povo ao qual os ditadores sempre se referem? Em suas bocas, “povo” soa como um rebanho que segue fielmente as ordens do déspota. É a massa que obedece às cegas as ordens do tirano de plantão que a hipnotiza para torná-la objeto passivo de seus caprichos.

Para eles, o povo é formado pelos mais incultos, pelos mais pobres, pelos que ficam sempre à margem das pessoas que detêm o poder e decidem o que é melhor para eles. Eles não precisam pensar. O tirano pensa por eles.

Para os regimes autoritários, da qualquer cor política, basta oferecer miragens ao povo. O povo não tem direitos. Deve apenas seguir as ordens do dono do rebanho.

A diferença entre democracia e ditadura é que para a primeira existe a sociedade —plural, crítica, criativa, pensante— e, para a segunda, existem apenas as massas que esperam ordens do pai patrão que pensa e decide por elas.

A civilização é criada com o diálogo, a crítica e a polêmica.

A sociedade é construída com liberdade para criar e decidir em conjunto. A civilização supõe um confronto de ideias para chegar às melhores soluções na tentativa de oferecer oportunidades para todos. As pessoas têm sua individualidade, cada uma é diferente e tem o direito de discordar e dialogar. Uma civilização respeita e defende as diferenças. As tiranias anestesiam as massas. A civilização se enriquece com a dissensão e o pluralismo de ideias.

Continua após a publicidade

Nunca gostei do grito de “o povo unido jamais será vencido”. A verdade é que esse povo do qual os ditadores tanto gostam acaba sempre derrotado, mesmo quando tem a ilusão de ter vencido. Acaba sempre dominado e nos braços de outra ideologia.

O povo do qual os autoritários gostam é aquele ao qual nunca ofereceram igualdade de oportunidades para avançar na vida. Por isso, nos regimes sem democracia, com desigualdades sociais cruéis, seus líderes idolatram o povo, que para eles é mais fácil dominar e enganar.

Não por acaso, os regimes totalitários são os que menos valorizam a educação e a cultura, os pilares que nos permitem ter nossa própria visão do mundo.

É mais fácil escravizar os incultos, os que não são capazes de interpretar o mundo e de fazer escolhas, porque eles já recebem o prato pronto, sem que possam escolher a comida. Não é isso que fazemos com os animais?

O que diferencia as pessoas é se elas nascem em um país no qual todas têm as mesmas oportunidades de avançar na vida ou no qual os dirigentes é que decidem quem terá direito à cultura e ao pensamento e quem deverá se contentar com as sobras dos privilegiados. Nos países onde não se oferece igualdade de oportunidades é que se formam a massa que não precisa pensar, as elites decidem por ela.

Continua após a publicidade

A escravidão existe desde o início da humanidade. Sempre foi negado aos escravos o direito ao estudo. Aqui no Brasil, até não muito tempo atrás, era normal que a escola fosse só para os filhos dos ricos. Os pobres, dizia-se, “devem trabalhar, como seus pais sempre fizeram”. Quando a escravidão foi abolida, não foi oferecida aos libertos a possibilidade de se culturalizar. Não por acaso, o que os políticos chamam de povo nada mais são do que os herdeiros da escravidão, aos quais se ensina a virtude da obediência, nunca a liberdade de pensamento e de decisão.

A linguagem nunca é inocente e costuma estar repleta de significados muito diferentes.

Desconfie sempre de quem enche a boca falando de povo, porque já foi impregnado pelas ideologias intolerantes e escravistas. As ovelhas não recebem nome e sobrenome. E é significativo que os pobres e sem cultura não costumem ser chamados por seus nomes próprios por seus “donos”, e sim por apelidos. É que não são vistos como pessoas. São povo, massa, gado. Será que também não têm alma?

As elites costumam dizer: “Chame minha secretária, meu cozinheiro, minha empregada, meu motorista”. O povo não tem nome próprio. Mas até nossos animais de estimação são chamados pelo nome.

É urgente rever nossa linguagem, que sempre nos trai.

Continua após a publicidade

As palavras carregam em seu ventre o significado que vamos dando a elas.

Hoje, liberdade, direitos, respeito às diferenças, construção conjunta de uma civilização de diálogo sem donos nem senhores de ninguém, sem ódios nem divergências sangrentas, tudo isso é o que chamamos de democracia. Todo o resto é fascismo.

Escrevo esta coluna neste 25 de abril, aniversário da Revolução dos Cravos de Portugal. Por esse motivo, uma poeta brasileira escreveu no Facebook:

Morte aos déspotas de todos os tempos.

Para os que já morreram,

Continua após a publicidade

que morram suas ideias.

Que suas armas

se transformem

em livros e flores.

Que um dia cada vida possa viver

Continua após a publicidade

a sua própria arquitetura de sonhos,

talentos.

Que o pão se multiplique,

que o amor seja o pão.

(Transcrito do jornal El País)

Publicidade

Imagem do bloco

4 Colunas 2 Conteúdo para assinantes

Vejinhas Conteúdo para assinantes

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.