Salvo um ataque de arrependimento súbito, Luiz Datena, apresentador de programa policial na Rede Bandeirantes de Televisão, e Regina Duarte, por 50 anos a namoradinha do Brasil na tela da Rede Globo, ingressarão, hoje, no espetáculo da política para reforçar a natureza da política do espetáculo.
Os dois estarão em Brasília e em lados opostos – o que pouco significa porque o PMDB ao qual Datena se filiará nunca se manteve distante de governo algum. E Datena é tão próximo de Jair Bolsonaro quanto Regina se tornou desde que descobriu no ex-capitão a melhor alavanca para desalojar o PT do poder.
Há muito tempo que Datena se vê tentado a disputar um cargo público, e desiste na última hora. Afastada das novelas há anos, Regina não resistiu ao primeiro convite que recebeu para brilhar no palco da Esplanada dos Ministérios. Haveria melhor palco para ela? A Esplanada atrai os holofotes e câmeras de todo o país.
Mais tarde, Datena decidirá se será candidato a prefeito ou a vice-prefeito de São Paulo, ou se outra vez arquivará suas ambições políticas para não abrir mão da fortuna que ganha. É o mesmo dilema que enfrentará Luciano Huck, dono do Caldeirão nas tardes de sábado na Globo, e aspirante a candidato a presidente em 2022.
O dia seguinte de Regina terá a ver com sua disposição para engolir sapos indigestos. Ou com sua habilidade para manter-se na corda bamba, pressionada por um lado por seus colegas artistas que se acham maltratados pelo governo; e, por outro, por Bolsonaro que acha que artista bom é só artista que o apoia.
A vida de Regina não será fácil. O autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, guru dos Bolsonaros, queixou-se que alguns dos seus discípulos ficaram desempregados com a chegada de Regina à Secretaria de Cultura, onde finalmente tomará posse. E foi logo avisando que a escolha dela para o cargo passou por seu crivo.