Palavras são como jovens craques: quando menos se espera, sapecam um drible desconcertante na gente. É o chamado “jogo-moleque” da língua portuguesa. “Seleção”, por exemplo, tornou-se nome próprio dos times que representam um país, mas obviamente é uma alusão (claríssima!) à “escolha”. Assim, o nosso Escrete Canarinho poderia perfeitamente se chamar “Triagem Brasileira”. O importante é que estão em campo “os melhores”, o suprassumo do nosso futebol. Daí eu ter chegado do futuro ansioso e curioso para ver de perto, aqui no Chile, este time brasileiro que tem Márcio Bittencourt, Neto, Sílvio, Mazinho Oliveira e João Paulo como titulares na Copa América de 1991. O futebol também faz das suas piruetas irresponsáveis, caro leitor! Brasil e Equador, cuja distância no futebol sempre foi continental, daqui a 30 anos estarão em outra disputa: a de campeão na América Latina em vítimas e casos de Covid-19, vírus que será o bicho-papão em 2021, de onde venho. Explique-se: futebol sul-americano e pandemia estavam batendo bola quando deixei o século 21. Mas era só “bola-fora”.
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Ah, julho de 1991… Que louco voltar a poder ligar a TV nesses dias pós-Guerra do Golfo – a primeira vez na vida que achei que o mundo ia acabar! Pensei algo parecido ao ver ontem aquela cabeçada do Equador na trave brasileira, já nos segundos finais da partida. Que sufoco! Ganhamos ali ó, na conta, 3×1, mas já adianto que desta vez não vai dar Brasil nessa Copa América. Pudera. A habilidade e o refino que Falcão esbanjava como jogador só estamos vendo nos ternos do novo treinador. Alerta de spoiler: não será ele o único a iniciar a carreira de treinador já na seleção, sem nunca antes ter comandado um clube. Daqui a menos de 10 anos, o futebol brasileiro repetirá esse equívoco ao alçar ao cargo outro volante de sucesso com a camisa verde-amarela. Mas este terá a vantagem de manter na função as caneladas que cometia nos gramados. Aguardem!
Mas voltemos ao time do Falcão. Márcio Bittencourt, até vocês já devem imaginar, terá que guardar com carinho as fotos desta Copa América, pois esta camisa ele não veste mais. O nosso bravo centroavante Silvio “Mariola” também não fará história em nosso selecionado. Mas ainda vai rodar muito por aí, inclusive na Europa, até terminar a carreira, em 2005, no escrete do Coruripe, time de Alagoas. Outro jogador do Bragantino escolhido pelo técnico para a competição, Mazinho Oliveira, não demora a gravar seu nome na história, mas de uma forma nada gloriosa: em 1995 será contratado por um popular time brasileiro para formar o que chamaremos de “ataque dos sonhos”, mas vai acabar perfilando-se no banco mesmo. Se liga, Paulo Roberto! Seleção é escolha dos melhores! Quer saber? Vou entregar logo: Falcão não chega ao fim do ano no comando do Brasil. Rechitégui falei! – e não me perguntem o que é isso.
Justiça seja feita: a defesa que se segurou como pôde ontem no Sausalito tem uma, digamos, “espinha dorsal” que nos levará a glórias no futuro da seleção. Para o próximo técnico que assumir já deixo aqui uma dica. Taffarel, Ricardo Rocha, Márcio Santos, Mauro Silva e Branco: não deixem esses rapazes de fora das próximas convocações. Principalmente o último. A propósito, na próxima Copa, nos Estados Unidos, registre-se uma estratégia que deve ser seguida à risca. Anotem aí, por favor: falta longe da área contra a Holanda? É o Branco que bate.
Apesar da pressão que sofremos ontem, a história mostra que o Equador é um freguezaço do Brasil. Já demos de 9×1 e 9×2 neles! E também mandamos um belo e sonoro 7×1 – placar que o tempo fará se aderir pra sempre ao nosso futebol. O importante é que vencemos, com aquele golzinho do Luiz Henrique aos 44 do segundo tempo – e não é força de expressão, foi aos 44 mesmo. Mas em 30 anos a gente não vai dar assim tanto valor a uma conquista de Copa América, podem acreditar! Culpa dos dirigentes do esporte no continente, que vão decidir competir com a Libertadores e realizar um torneio desse tipo quase todo ano.
Em 2021, de onde venho, será uma batata-quente que ninguém vai querer pegar. Preocupados com os números crescentes da pandemia que já revelei aqui, Colômbia e Argentina vão pular fora, desistindo de sediar a competição. E adivinhem quem vai levantar o dedinho e “pedir a bola”, se oferecendo pra receber este maravilhoso e virulento evento esportivo? Nós, claro, obra e graça de outro comandante, uma espécie de “Falcão do Planalto”. Placar da peleja quando entrei na máquina do tempo:
Brasil – 463 mil mortes por Covid; Equador – 20.572 mortos. Uhu! Mais uma vez estamos dando de goleada
FICHA TÉCNICA
Data: 15-07-1991
Competição: Copa América: Estádio Sausalito
Cidade: Viña Del Mar (Chile)
Árbitro: Juan Francisco Escobar Valdez (Paraguai
Brasil: Taffarel, Mazinho, Ricardo Rocha, Márcio Santos, Branco, Mauro Silva, Márcio, Neto (Luís Henrique), Mazinho, Sílvio (Careca), João Paulo.
Técnico: Falcão
Equador: Ramírez, Montanero, Tenorio, Quiñónez, Capurro – Bravo, Carcelén (Garay), Ron (Burbano), Aguinaga – Muñoz, Avilés.
Técnico: Dušan Draškovic
Gols:
1º tempo: Mazinho Oliveira (8’); Carloz Munhoz (12’);
2º tempo: Marcio Santos (9’); Luiz Henrique (44’);