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O Comentarista do Futuro

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Ele volta no tempo para dar aos torcedores (alerta de!) spoilers do que ainda vai acontecer

Um vice-campeão que vai ganhar asas

Com o Bragantino vice-líder do Brasileiro, ‘Comentarista do Futuro’ viaja até 1991 para animar a torcida com notícias sobre uma tal bebida austríaca

Por Claudio Henrique
Atualizado em 13 jul 2021, 13h13 - Publicado em 13 jul 2021, 13h06

9.862 km separam esta aprazível estância de Bragança Paulista da também encantadora Fuschl am See, em Salzburgo, na Áustria. Mas daqui a 30 anos, posso garantir, serão estreitas as ligações entre as duas cidades. A esta altura do texto, vocês, leitores, devem estar se perguntando: “O que este sujeito maluco, que diz ter vindo do futuro, pretende iniciando uma resenha de futebol com aula de geografia e profecias baratas?” Pois nesta manhã de ressaca para os bragantinos (os nascidos aqui), após o empate sem gols que deu ontem o título Brasileiro de 1991 ao São Paulo, trago ótimas notícias do próximo século: deixei 2021 com o Clube Atlético Bragantino entre os grandes times do país, disputando a liderança do Brasileirão com Palmeiras e Atlético-MG. Sim, podem acreditar, tudo graças ao fabricante de uma bebida ainda pouco conhecida mas que já anda botando as asinhas de fora (observem o macacão do Gerhard Berger na F1). Aliás, “dar asas” será a fórmula do sucesso da marca, que vai injetar uma energia e tanto no Braga. Dinheiro não vai faltar: até lá, já estará vendendo mais de 8 bilhões de unidades por ano em mais de 140 países. Um gigantesco conglomerado mundial que, já deu pra adivinhar, terá sede na minúscula Fuschl am See. Sendo assim, e será, nada de tristeza com o vice-campeonato. Corram aos bares para brindar pelo sucesso futuro! Só não poderá ser com a tal bebida, a mecenas do time. Ela ainda sequer chegou ao Brasil.

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Red Bull
Os primórdios da bebida austríaca (./Reprodução)

Em janeiro de 1945, enquanto no Brasil um decreto federal rebatizava este município como “Bragança Paulista”, num pequenino berço do interior austríaco, com apenas 8 meses, mas certamente já elétrico, estava Dietrich Mateschitz, o cara que 39 anos depois criaria esse tal futuro Império de bebidas. Em 2021, de onde venho, seu principal produto deterá 60% do mercado mundial de energéticos – ok, preciso explicar: assim chamaremos este tipo de bebida, cuja fórmula tem ingredientes que fazem a gente ficar ligadão, espécie de café metido a cocaína, mas tudo dentro da lei. Daí o nome que ganhará em inglês, Energy Drink, isso quando começar a ser vendido nos EUA, o que só vai acontecer daqui a seis anos. Em 1984, o tal Dietrich, que já não era de parar quieto, se mandou um dia até a Tailândia, onde conheceu e provou o Kraeting Daeng, um popular tônico local que fazia as vezes do Rebite para os caminhoneiros da Indochina.

Visionário, resolveu adaptar a ideia para o consumo do dia-a-dia, passando os três anos seguintes entre pesquisas e busca de autorizações até lançar seu elixir do dinamismo, em 1º de abril de 1987. Um sujeito assim, que vai lá na Cochinchina descobrir uma Coca-Cola adequada a este mundo cada vez mais acelerado, claro que também será capaz de ir até o interiorzão do oeste paulista revelar ao mundo o Bragantino. O casamento entre marca e time trará à luz um novo ser: o clube-empresa. Ele virá ao mundo, anotem aí, em 2019. Ou seja, em 2021 ainda serão os primeiros passos do rebento. Mas o recém-nascido já estará dando sinais de que logo-logo estará brilhando com carga total. Tipo, assim, o bebê Dietrich.

Será mesmo uma guinada radical e veloz na história do time. No Brasileiro de 2020, já vai fazer bonito, tendo inclusive um jogador, o camisa 10, eleito o craque do campeonato. Com fôlego e entusiasmo renovados, voltará a ceder jogadores à seleção brasileira. Ah, claro, me atento para o fato de, até aqui, o clube jamais ter tido esta honra em sua história. Revelo então mais uma boa nova do futuro, este bem mais próximo: com o título paulista do ano passado e a bela campanha deste vice-campeonato brasileiro, mês que vem o técnico Falcão vai convocar três titulares do Bragantino para disputar a Copa América no Chile. Hummmm… Acho que vou deixar esta informação em segredo, evitando dar ‘spoiler” e estragar a emoção dos convocados. Mas um dos três vocês com certeza sabem quem será: Mauro Silva. A carreira do cabeça-de-área no escrete nacional, aliás, será longa e vitoriosa, participando até da conquista do tão esperado caneco do Tetra (sim, ele virá!). Sempre jogando com aquele porte firme e muito vigor, como um Touro à frente da zaga. Opa… Só percebi agora: o touro será o animal marcante neste Bragantino do futuro. Até no escudo e como mascote. Se cuida, Leão! O futuro é louco. Toro Loko!

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O zero a zero de ontem foi de dar sono. Só bebendo um energético pra aguentar o jogo. Mas, como já disse, aqui no Brasil isso só será possível daqui a um tempinho, a partir de 1999 – ano em que, sinto informar, o orgulho esportivo de Bragança Paulista estará disputando a segunda divisão do campeonato estadual. Telê Santana armou o São Paulo numa retranca de dar desgosto, entrando em campo com uma tropa de choque composta pelos laterais Zé Teodoro, Cafu e Leonardo e os zagueiros Antônio Carlos, Ricardo Rocha e Ronaldão. Isso mesmo: três zagueiros e três laterais, reforçados ainda pelo Bernardo, de plantão na retaguarda. Tudo para fazer valer a vantagem obtida há 5 dias, no primeiro jogo, o 1×0 no Morumbi com aquele gol estranho do Mário Tilico. Dias melhores virão, vos digo, sem medo de errar.

Mauro Silva e Ricardo Rocha, durante São Paulo x Bragantino, na final do Campeonato Brasileiro de 1991, no Estádio do Morumbi -
Mauro Silva e Ricardo Rocha durante a final de 1991 (./Placar)

Na jornada das próximas três décadas, clube e torcida viverão altos e baixos, alternando ascenso e descenso nas muitas divisões do futebol. Mas, ironia do destino, justo ao montar no Touro da parceira é que vão cessar os solavancos. Após cair pela segunda vez à Série C do Campeonato Brasileiro, em 2018 o time vai conseguir voltar à Série B, para, no ano seguinte, já com o suplemento energético do associado, repetirá o triunfo de 1989, sagrando-se campeão no segundo patamar do futebol nacional. A chegada à elite do mundo da bola será em grande estilo. Com a destacada performance em 2020, por um triz não estrará 2021 disputando pela primeira vez a Libertadores da América, mas quando deixei o futuro seguia vivo na Sul-Americana – basicamente a mesma Copa Conmebol de hoje, rebatizada em 2002. Quando retornar pela Máquina do Tempo, devo desembarcar no futuro na véspera do primeiro jogo do Massa Bruta pelas oitavas finais da competição, contra o Independiente del Valle, do Equador. É como eu já disse: daqui a 30 anos, o Bragantino vai voar alto! O mesmo não posso dizer do atual parceiro estampado na camisa: o futuro não vai dar asas à Vasp.

Uma informação importante que deixei para o final talvez não agrade boa parte da torcida: assinada a parceria com a dita empresa, além da envergadura no cenário do futebol, vão mudar também uniforme, cores oficiais, escudo e até o nome do clube. E não adianta insistir, me cercar na porta do charmoso Hotel Carvalho Bragança, onde me hospedei, ou me enviar quilos e quilos da decantada linguiça da região… Não vou revelar o nome da marca. E falo isso não para evitar informação privilegiada que provoque corridas à Bolsa de Valores, até porque em 2021 a corporação ainda será de capital fechado. Meus motivos são mesquinhos, vis, é desforra, vingança, vendeta mesmo. Antes de embarcar para 1991, fiz contato com a companhia solicitando patrocínio para a aventura e riram ao me apresentar como viajante ao passado. E eu nem queria dinheiro. Bastaria mandar alguns packs da bebida energética, que usaria na Máquina do Tempo. Afinal, se acelera e potencializa um time de futebol, deve ser excelente combustível para atingir a velocidade da luz.

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FICHA TÉCNICA

Bragantino 0 x 0 São Paulo

Estádio: Estádio Marcelo Stéfani

Local: Bragança Paulista (SP)

Data: 9 de junho 1991

Horário: 16h00 Árbitro: José Roberto Wright 

Público: 12.492,00

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Bragantino: Marcelo; Gil Baiano, Júnior, Nei e Biro-Biro; Mauro Silva, Alberto e Mazinho; Ivair (Luís Müller), Sílvio e João Santos (Franklin).

Técnico: Carlos Alberto Parreira.

São Paulo: Zetti; Zé Teodoro, Antônio Carlos, Ricardo Rocha e Leonardo; Ronaldão, Bernardo, Cafu e Raí; Macedo e Müller (Flávio). Técnico: Telê Santana

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Escreva para o colunista: ocomentaristadofuturo@gmail.com 

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