Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana

O Leitor

Por Maicon Tenfen Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Lendo o mundo pelo mundo da leitura. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

O brasileiro não estuda, mas é louco por cerimônias de formatura

Nada se compara à mediocridade dos nossos estudantes, nem o cinismo e a picaretagem de um Brás Cubas

Por Maicon Tenfen 11 dez 2017, 02h09
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Se tem uma coisa que brasileiro detesta é estudar. Perdemos sempre que inventamos de competir com o estrangeiro, e não falo aqui dos nórdicos ou das demais nações europeias, mas das republiquetas africanas e dos países mais pobres da América Latina. Perdemos inclusive quando competimos com nós mesmos, haja vista a queda vergonhosa que os nossos índices de aproveitamento sofreram nos últimos 20 anos.

    Mas isso não significa que desprezamos as pompas da educação. Pelo contrário: amamos os diplomas e as honrarias na mesma medida em que odiamos uma prova de linguística ou uma apostila de cálculo diferencial. Está na nossa literatura, em Machado, até agora a melhor radiografia do espírito nacional. “Talvez espante ao leitor a franqueza com que lhe exponho e realço a minha mediocridade”, diz em 1881 o personagem-narrador de Memórias Póstumas de Brás Cubas.

    Que prossegue:

    “Não digo que a Universidade me não tivesse ensinado alguma; mas eu decorei-lhe só as fórmulas, o vocabulário, o esqueleto. Tratei-a como tratei o latim: embolsei três versos de Virgílio, dois de Horácio, uma dúzia de locuções morais e políticas para as despesas da conversação (…) Colhi de todas as coisas a fraseologia, a casca, a ornamentação, que eram para o meu espírito, vaidoso e nu, o mesmo que, para o peito do selvagem, são as conchas do mar”.

    Ah, se em 2017 os estudantes ainda decorassem a casca das matérias para as despesas da conversação! Parece que agora a regra geral é o formando bater no peito e gritar bem alto que passou os quatro ou cinco anos da faculdade sem entrar na biblioteca. Não é de admirar que muitos estejam nas redes sociais afirmando que a terra é quadrada ou que Hitler era um político de esquerda.

    Continua após a publicidade

    Você nunca viu um Brás Cubas ao vivo?

    Basta comparecer a uma das cerimônias de formatura do chamado Ensino Superior que abundam nesta época do ano. Eis um retrato fidedigno da educação brasileira: amor pela simbologia e ódio pelo conteúdo. Valendo-se da ritualização medieval que tenta promover os formandos a nobres distintos da plebe, as instituições de ensino, na luta por mais visibilidade no mercado, transformaram as formaturas em showzinhos de marquetagem.

    A cena que se repete no palco é de uma clareza assustadora: quanto mais malandro é o Brás Cubas da vez, mais comemora na hora de receber o “canudo”. Pula, grita, rebola, alguns até viram cambalhotas. É como se estivessem tirando um sarro do mundo, como se dissessem “consegui, apesar da minha indolência, mas só consegui porque vocês, professores, são mais medíocres do que eu”!

    Continua após a publicidade

    Os pais vão ao delírio — foi para esse momento que pagaram as caríssimas mensalidades —, mas a verdade é que toda simbologia funciona como uma faca de dois gumes. Geralmente, aquelas latinhas que os formandos recebem em triunfo vêm vazias, o que constitui uma excelente metáfora do nosso sistema de ensino. Estudantes ocos de conhecimento recebem diplomas que, comprados com dinheiro público ou privado, sequer existem no “rito de passagem”.

    Nada em troca de nada — um saldo justo, afinal.

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.