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Professor de Finanças do Insper. Fatos, dados e histórias do mundo do dinheiro
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Da TED ao Pix, o que vem por aí?

O novo sistema de pagamentos permitiu a construção de um sistema financeiro muito sólido, mitigando crises bancárias

Por Ricardo Humberto Rocha
Atualizado em 13 jun 2024, 16h35 - Publicado em 13 jun 2024, 16h25

Em seu ensaio Retorno ao Admirável Mundo Novo (Brave New World Revisited), Aldous Huxley oferece uma reflexão crítica sobre as tendências de sua época e como elas poderiam afetar o futuro. Ele alerta sobre os perigos do totalitarismo, mas também sugere que um futuro mais positivo é possível se a humanidade fizer escolhas conscientes em direção à liberdade e ao autoconhecimento. Uma citação famosa de Huxley que reflete uma visão mais equilibrada do porvir é: “O futuro não é um lugar a que estamos indo, mas um lugar que estamos criando. As estradas para ele não são encontradas, mas feitas, e a atividade de fazê-las muda tanto o realizador quanto o destino”.

Neste artigo, quero compartilhar com você, leitor de VEJA e VEJA NEGÓCIOS, como a crise cambial brasileira de 1999 gerou importantes mudanças no Sistema Brasileiro de Pagamentos. Essa é uma história muito interessante que nos faz refletir sobre como a tecnologia é um vetor relevante de mudanças nas operações em um sistema financeiro. No entanto, ela só faz sentido para gerar mudanças quando contingências econômicas e políticas atuam de maneira intensa, obrigando o Sistema Financeiro a mudar, sempre liderado pelo regulador, que direcionará as novas estradas a serem criadas e o impacto na mudança para melhores relações financeiras.

Em 18 de janeiro de 1999, logo no início do segundo mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, o Banco Central tomou uma difícil decisão que mudou o regime cambial, que era conhecido como regime de bandas, para o de câmbio flutuante. Como consequência, janeiro e fevereiro de 1999 foram meses de muita volatilidade. O final dos anos 1990 havia sido marcado por importantes crises financeiras globais: a crise do México em 1994, a da Ásia em 1997, a de Ucrânia e Rússia em 1998, e, finalizando a sequência de crises, a crise cambial brasileira de 1999. A mudança foi intensa e criou sérias dúvidas sobre se o Plano Real corria riscos e se a inflação poderia voltar. Afinal, o real brasileiro, em janeiro de 1999, desvalorizou-se em 63%. No entanto, a habilidade política do presidente FHC, e das equipes do Ministério da Fazenda e do Banco Central, juntamente com o necessário apoio do Fundo Monetário Internacional, permitiram que o Brasil encontrasse uma nova e importante dinâmica de convivência com o câmbio flutuante. Lá se vão 25 anos de muito aprendizado e muitos sustos.

Você, leitor, deve estar se perguntando como esses fatos narrados se relacionam com a TED ou o Pix. Toda a mudança no sistema de pagamentos no Brasil é fruto da crise cambial de 1999. O apoio financeiro do FMI obrigou uma ampla e profunda revisão do sistema de pagamentos, criando o conceito de reserva, ou seja, recursos disponíveis no caixa dos bancos que não precisam de confirmação, reduzindo a zero o risco de compensação. Isso foi possível com o monitoramento do Banco Central sobre a liquidez do sistema financeiro em tempo real, uma excepcional e inteligente solução implementada oficialmente pelo Bacen em abril de 2002, que deu origem à TED (Transferência Eletrônica Disponível). Ao longo desses anos, o novo sistema de pagamentos permitiu a construção de um sistema financeiro muito sólido, mitigando crises bancárias e trazendo maior liquidez e segurança ao funcionamento dos bancos no Brasil.

Embora a TED tenha revolucionado as transferências bancárias ao permitir a movimentação de fundos no mesmo dia, o Pix vai um passo além ao permitir transferências instantâneas, independentemente do dia ou da hora. Ambas as formas de pagamento coexistem no sistema financeiro brasileiro, oferecendo aos usuários diferentes opções de acordo com suas necessidades. O Pix é um sistema de pagamentos instantâneos desenvolvido pelo Banco Central do Brasil, lançado em novembro de 2020. O Pix surgiu como uma evolução dos sistemas de pagamento, incluindo a TED e o DOC (outro meio, desativado recentemente), com o objetivo de facilitar ainda mais as transações financeiras. Ele permite transferências de dinheiro em tempo real, 24 horas por dia, 7 dias por semana, incluindo feriados. Além disso, as transações via Pix são gratuitas para pessoas físicas, o que o torna uma opção extremamente atraente para o público em geral.

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Enquanto a TED continua sendo uma ferramenta útil, especialmente para transações de valores elevados ou em contextos corporativos em que o horário comercial é relevante, o Pix se destaca pela praticidade e por atender a uma demanda crescente por soluções mais rápidas e acessíveis.

Em resumo, o surgimento do novo sistema brasileiro de pagamentos e a TED foram passos importantes para modernizar o sistema financeiro do Brasil. O Pix, por sua vez, representa a mais recente evolução nesse processo, trazendo mais agilidade e praticidade para os usuários. E o que vem por aí? O real digital, mas essa é uma outra história, que em breve vamos contar. São novas estradas sendo construídas, mudando o dia a dia do mercado financeiro e a vida de seus participantes.

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