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Professor de Finanças do Insper. Fatos, dados e histórias do mundo do dinheiro

O que é um Fundo de Investimento

Como funcionam e como evoluíram ao longo da história esses instrumentos para aplicação segura do dinheiro

Por Ricardo H. Rocha
23 dez 2024, 15h34

Você sabe avaliar qual a melhor classe de ativos para seu momento atual? A decisão de investimento implica uma série de conceitos, envolvendo, além da relação risco x retorno, os princípios de suitability que levam a questões importantes para sua tomada de decisão.

Neste artigo, vou levar a você, leitor de VEJA e VEJA NEGÓCIOS, alguns conceitos de uma classe de ativos muito importante, os Fundos de Investimento.

Classe de Ativos é um grupo de investimentos com características semelhantes, que possuem comportamentos parecidos em relação a risco, retorno e funcionamento no mercado.

Pense em uma classe de ativos como uma “categoria” ou “grupo” de opções para investir o seu dinheiro. Cada classe tem características específicas que ajudam o investidor a escolher onde aplicar seus recursos, dependendo de seus objetivos e tolerância ao risco.

Uma das principais classes de ativos que o investidor pode optar são os fundos de investimentos, um tipo de investimento que se caracteriza como um condomínio, em que os investidores possuem o mesmo direito e as mesmas obrigações.

Dados da Anbima, a Associação das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais, apontam em 9,5 trilhões de reais o patrimônio líquido da indústria de fundos no Brasil.

Para os fundos que são regulados pela resolução CVM 175, existem 3 milhões de investidores, 678 gestores e 78 administradores de fundos.

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A indústria de fundos possui arquitetura única visando a transparência e o dever fiduciário, permitindo ao investidor informações sobre a volatilidade do tipo de fundo escolhido.

O conceito de suitability é simples: é a obrigação das instituições financeiras de verificar se um investimento combina com o perfil de cada investidor. Ou seja, antes de recomendar qualquer produto financeiro, a instituição deve avaliar os objetivos do cliente, sua situação financeira e o quanto ele entende sobre investimentos. O objetivo é garantir que a escolha seja segura e apropriada para aquela pessoa.

A Anbima criou um conjunto de regras claras para ajudar as instituições nesse processo. Isso ajuda a padronizar como os produtos e os perfis de investidores são classificados.

Desde 5 de setembro de 2023, novas regras começaram a valer, incluindo:
• Classificação mais precisa dos produtos e dos perfis dos clientes.
• Criação de um sistema de pontuação de risco para os investimentos, facilitando a comparação.
• Definição de limites de risco que cada perfil de investidor pode assumir, como o perfil conservador, que agora pode investir em produtos com pontuação de risco de até 1,5.
• Novas regras para produtos que contêm criptoativos.

Essas mudanças buscam proteger o investidor e garantir que ele escolha investimentos adequados ao seu perfil e objetivos.

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Os fundos de investimento utilizam na sua arquitetura o conceito de barreira de informação ou Chinese Wall, de forma que os gestores tomem a decisão de alocação escolhendo os ativos em função do tipo de fundo e sua política de investimento, os administradores e a responsabilidade do cálculo da cota. E aos custodiantes cabe o dever de confirmar a existência dos ativos em nome do fundo. Essa separação de atividades garante maior transparência e melhor governança. Como o fundo é uma classe de ativos coletiva, o cálculo da cota utiliza o conceito de apreçamento de ativos, conhecido popularmente como marcação a mercado – MTM.

Esse processo evita a transferência de riqueza entre os cotistas do mesmo fundo. Imagine a seguinte situação:
1. Hoje, um investidor aporta R$ 1.000 em um fundo de investimento. O fundo comprou títulos e ações.
2. Hoje, esses ativos perderam valor e, na prática, cada cota do fundo deveria valer R$ 950.
3. Se a marcação a mercado não fosse feita, as cotas ainda seriam vendidas a R$ 1.000.
4. Um novo investidor poderia entrar no fundo pagando mais do que ele realmente vale, ou você poderia sair do fundo levando mais dinheiro do que deveria.

Esse tipo de situação é injusto. A marcação a mercado evita isso, ajustando o valor das cotas para refletir exatamente o preço justo a cada momento.

Gostaria de alertar ao leitor que a leitura da documentação de investimento é muito importante para o perfeito entendimento não só do cálculo da cota mas também para compreender as regras de liquidez.
Cabe um destaque especial à edição de novembro da revista VEJA NEGÓCIOS, que apresentou um excelente guia sobre fundos de investimento, imperdível.

Algumas curiosidades sobre fundos de investimento e sua história:
Os fundos de investimento surgiram no século XVIII, marcando o início da ideia de investimento coletivo. Em 1774, na Holanda, Abraham van Ketwich criou o fundo Eendragt Maakt Magt (“A união faz a força”). Esse fundo foi projetado para reunir recursos de pequenos investidores e aplicar em uma carteira diversificada, reduzindo riscos e democratizando o acesso ao mercado financeiro.

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No início do século XIX, a ideia se expandiu pela Europa, destacando-se a fundação do Comercial Shares Corporation (CSC) em 1822, na Bélgica. Esse fundo é considerado um marco na estruturação de fundos modernos, sendo pioneiro na diversificação de investimentos entre ações, títulos e bônus de governos.

Nos Estados Unidos, o conceito evoluiu rapidamente no início do século XX.

Em 1924, foi lançado o Massachusetts Investors Trust, considerado o primeiro fundo mútuo moderno. Ele introduziu práticas de governança, gestão ativa e diversificação de carteiras que se tornariam padrões globais. O mercado americano floresceu nas décadas seguintes, especialmente após a criação da Investment Company Act de 1940, que regulamentou os fundos de forma rigorosa.

O Surgimento dos Fundos no Brasil

Os fundos de investimento chegaram ao Brasil na década de 1950, em um período de expansão econômica e institucionalização do mercado financeiro. Embora tenham começado timidamente, inspirados nos modelos europeus e americanos, tornaram-se fundamentais para a democratização do acesso a investimentos no país.

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Uma das iniciativas pioneiras foi o fundo CSC 7, administrado pelo Banco Crefisul, que é considerado um dos primeiros fundos estruturados do Brasil. Inspirado nos modelos internacionais, o CSC 7 foi projetado para captar recursos de pequenos e médios investidores, investindo em títulos públicos e privados e promovendo a diversificação de carteiras. O Banco Crefisul desempenhou um papel essencial no desenvolvimento desse veículo financeiro, introduzindo práticas de gestão que influenciariam os futuros gestores.

Avanços Regulatórios e Expansão nos Anos 1970

A década de 1970 foi um marco para os fundos no Brasil. A criação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), em 1976, trouxe maior segurança jurídica e regulatória para o mercado de fundos. Isso incentivou o surgimento de novos produtos e consolidou a confiança dos investidores.

Os fundos de investimento começaram a se diversificar, com destaque para os fundos de renda fixa, que dominavam o mercado devido às elevadas taxas de juros que já predominavam naquela época. Essa era também viu os primeiros passos para a criação de fundos voltados para ações e debêntures.

Crescimento nos Anos 1990 e Popularização

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A estabilização econômica promovida pelo Plano Real em 1994 foi um divisor de águas para o mercado de fundos de investimento no Brasil. Com a inflação controlada, mais investidores começaram a buscar opções seguras e rentáveis para seus recursos, levando ao crescimento exponencial do setor.

Na década de 1990, os fundos multimercados começaram a ganhar espaço, permitindo estratégias mais arrojadas e diversificadas, como investimentos em ações, câmbio e derivativos. Essa flexibilidade atraiu investidores de diferentes perfis.

Fundos de Investimento no Século XXI

Nos anos 2000, o avanço da tecnologia e da educação financeira impulsionou a popularização dos fundos no Brasil. Surgiram produtos voltados tanto para investidores institucionais quanto para pessoas físicas, abrangendo diferentes níveis de risco e objetivos financeiros.

Os fundos imobiliários (FIIs) e os fundos de índice (ETFs) começaram a ganhar destaque, atendendo à demanda por investimentos específicos e de fácil negociação. O número de investidores também cresceu significativamente, especialmente após 2016, com a queda da taxa de juros e o maior interesse em renda variável.

Prezado leitor, os fundos de investimento permitem ao investidor uma oportunidade de acessar diversos ativos mesmo com valores modestos e não só isso, com o crescimento da distribuição dos produtos pelas plataformas de investimento é possível acessar produtos que antes eram muito distantes das pessoas físicas.

Em breve vamos apresentar os indicadores de performance e risco que estão disponíveis para os cotistas.

Vamos apresentar os índices de Modigliani e Modigliani (M²) Sharpe, Treynor, Duration e muito mais.

E contar a história desses incríveis pesquisadores de finanças, que contribuíram na construção da Teoria de Portfólio iniciada por Harry Markowitz em 1952.

A coluna se despede de 2024 agradecendo a você, leitor de VEJA e VEJA NEGÓCIOS, que nos prestigiou ao longo do ano, desejando Boas festas e um excelente 2025.

Um agradecimento mais que especial ao jornalista Jose Roberto Caetano, redator-chefe de VEJA NEGÓCIOS, pelas orientações, sugestões e críticas que permitiram à coluna buscar sempre a melhor dinâmica para levar ao leitor informações úteis e de uma forma agradável sobre dinheiro e suas histórias. Obrigado, Beto!

Até breve!

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