O rock explodiu nos anos 50 à base de três acordes e letras que falavam de carros velozes, romances ingênuos e diversões juvenis. Influenciados pelos pioneiros e de olho no sucesso deles, jovens músicos com mais bagagem musical pensaram o seguinte: por que não entramos nessa? Nasciam assim as sementes do chamado rock progressivo, estilo capaz de reunir em longas suítes guitarras distorcidas e influências de música clássica. Nas poucas brechas em meio aos longos exercícios de exibicionismo instrumental, os cantores entoavam estrofes falando de fadas, mundos extraterrestres e questões existenciais. O negócio vendia horrores e enchia estádios, com performances nos palcos que não faziam feio aos sacrifícios de guitarras de Jimi Hendrix. Elas incluíam exibição de slides psicodélicos, esfaqueamento de órgão Hammond com facas de samurai e capacetes em chamas.
A obra-prima desse movimento, Close To The Edge, do grupo britânico Yes, completa 50 anos neste mês. Ao lado de Pink Floyd e Genesis (da fase Peter Gabriel), o Yes formou a santíssima trindade do rock progressivo. Ele também representa o que há de melhor e o de pior no gênero (o sentido de inovação que se perde em meio aos excessos alimentados pela pretensão artística). O estilo dos dois membros-fundadores forneceram algumas das caraterísticas mais marcantes do Yes: a voz diáfana de Jon Anderson e o pesado baixo Rickenbacker de Chris Squire. No auge do grupo, juntaram-se a eles um trio de virtuoses: o baterista Bill Bruford (fã de jazz), o guitarrista Steve Howe (craque em execução de peças de violão clássico) e o tecladista superstar Rick Wakeman (famoso por se exibir em capas de lantejoulas em meio a paredes de pianos e sintetizadores).
Foi esse quinteto que lançou em setembro de 1972 o álbum Close To The Edge. Com mais de 20 minutos de duração, a faixa-título começa com uma trovoada instrumental e alterna momentos com direito até a um certo swing a um estrondoso solo de órgão de tubos gravado dentro de uma catedral. Influenciado por autores como o alemão naturalizado suíço Hermann Hesse, o hippie Anderson entoa versos-cabeça como “Eu crucifiquei meu ódio e segurei a palavra dentro de minha mão/Há você, o tempo, a lógica, ou as razões que não entendemos”. No lado B do álbum (sim, era a época de ouro do vinil) há duas outras músicas que seguem até hoje obrigatórias nos shows da banda, que segue na ativa, mas tendo apenas Howe da fase Close to The Edge: And You And I e Siberian Khatru.
O Yes nunca mais gravou outro disco com a mesma formação desse álbum. Rick Wakeman saiu e voltou algumas vezes à banda, mantendo em paralelo uma carreira-solo que teve como auge com o lançamento de Journey To The Centre of The Earth, inspirada na obra do escritor francês Julio Verne e com superprodução de coral e orquestra, o que o levou a ser apelidado de Cecil B. DeMille do rock (o cineasta em questão ficou famoso por filmes bíblicos como Os Dez Mandamentos). Foi esse tipo de postura que levou os astros do rock progressivo a se tornarem alvos prediletos do movimento punk do final dos anos 70, que pregava justamente o contrário, ou seja: a simplicidade e a volta furiosa às raízes do espírito do rock. Assim, o Yes e outros do gênero passaram a ser ridicularizados e tratados como dinossauros.
Curiosamente, no início dos anos 80, depois de um breve hiato, o Yes ressuscitou com um acento pop em plena era da MTV, capitaneado pelo guitarrista sul-africano Trevor Rabin e catapultado pelo hit Owner of a Lonely Heart, que se tornou o maior sucesso da história da banda (eles tocaram esse repertório no primeiro Rock In Rio, de 1985). Os fãs mais radicais torcem o nariz para essa fase, preferindo Close To The Edge, que soa hoje deliciosamente datado após 50 anos de estrada.