O Som e a Fúria

Por Felipe Branco Cruz

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Cultura

80 anos de Elis Regina: as opiniões contundentes da cantora sobre o Brasil

Biografia da artista vai ganhar versão revisitada com anotações reveladoras sobre a forma como ela via o país e a si mesma

Por Redação
Atualizado em 17 mar 2025, 10h37 - Publicado em 17 mar 2025, 10h04

Elis Regina no show 'Trem Azul', em 1981 (Silvio Ferreira/VEJA)

No dia 17 de março de 1945, há exatos 80 anos, nascia, em Porto Alegre, Elis Regina, uma das maiores vozes da música brasileira. Com a chegada da efeméride, e um trabalho extenso dos herdeiros na gestão do espólio, uma série de homenagens vão sair do papel ao longo do ano. Em uma delas, a mais profunda biografia da cantora que morreu de maneira trágica e precoce aos 36 anos, Elis Regina — Nada Será Como Antes (Companhia das Letras), ganhará neste mês versão revista e atualizada. Seu autor, Julio Maria, adicionou informações inéditas e centenas de declarações marcantes ao livro. É dele a descoberta de um caderninho onde Elis anotava seus planos para o futuro, e opiniões contundentes sobre o Brasil em que viveu.

Da saúde mental à corajosa postura contra a ditadura militar, seus pensamentos impressionam pela atualidade e lucidez. “Talvez isso me cause alguns problemas, mas não faz mal. Eles (os militares) estão loucos, total e completamente, doidos varridos. Uma porção de amigos meus está presa, e o que foi que fizeram? Cometeram crimes? Não, apenas disseram a verdade”, escreveu sobre a ditadura. “Mudam tanto durante o Carnaval que eu às vezes me pergunto se haveria tanta necessidade de uma tal válvula de escape anual se durante o resto do ano a situação fosse também mais livre (…) Quatro dias depois tudo é esquecido e eles recaem na indolência habitual. Ah, odeio isso”, atestou sobre o clima do país.

O livro também revela que a cantora, ao contrário do que se possa pensar, dava ouvidos às críticas que recebia. “Sempre liguei muito para o que diziam de mim. Aprendi na psicanálise que não se pode ser vulnerável diante das pessoas que nos rodeiam. Perdi a confiança em mim e no resto”, desabafou ela certa vez, sem deixar, no entanto, que isso afetasse seu talento musical. “Canto do jeito que acho que tenho de cantar. Se sai de um jeito ou de outro, perguntem a fórmula para os meus pais”.