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O Som e a Fúria

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“A música agora é minha prioridade”, diz Karen Jonz, tetracampeã de skate

A atleta lançou recentemente seu primeiro álbum solo, 'Papel de Carta', com canções confessionais e introspectivas

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 9 jun 2022, 14h29

Aos 38 anos, a tetracampeã mundial de skate vertical, Karen Jonz, executou mais uma manobra radical. Desta vez, fora das pistas. Em vez de saltar no halfpipe, ela decidiu soltar a voz e lançou recentemente seu primeiro trabalho solo, o álbum Papel de Carta. A ligação da atleta – e agora cantora – com a música não é algo recente. No passado, ela já havia formado com amigos a banda Violeta Ping Pong. Anos depois, com o marido Lucas Silveira, vocalista e guitarrista da banda Fresno, ela também criou as bandas de pop punk Vaconaut and the Apple Monster, e a indie Kyber Krystals.  Agora, ela se afasta do esteriótipo de “música de skatista”, à la Avril Lavigne, para focar em canções introspectivas com letras confessionais.

Durante os Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2021, o jeito descontraído de Karen chamaram a atenção do público ao usar palavras, digamos, pouco convencionais para descrever a performance das atletas durante as transmissões pela Globo. Pianista desde os oito anos, somente agora que ela decidiu apostar forte na música. “Nos últimos 20 anos, o skate sempre foi a minha prioridade. Acho que agora, pela primeira vez, a música ficou em primeiro lugar”, diz ela em entrevista a VEJA por videoconferência. “Estou em um momento que não estou competindo e minha filha já está um pouco maior. Então, está sendo um momento muito legal e oportuno”, completa. O trabalho tem produção do marido Lucas Silveira e sai pela gravadora BMG. A seguir, os principais trechos da conversa.

Você é tetracampeã de skate vertical, mas a música também sempre esteve presente na sua vida. Como concilia as duas coisas? Elas sempre estiveram ali. Às vezes uma aparecia mais do que a outra. Lancei o disco pela BMG, o que difere de ser um artista independente. Também estou em um momento que não estou competindo, minha filha já está um pouco maior. Está sendo um momento muito legal e oportuno. Gosto de fazer muitas coisas. Às vezes não dá para fazer tudo. Quero tricotar, quero desenhar, quero andar de skate, quero fazer música. Acho que agora, pela primeira vez, a música é uma prioridade maior do que o skate, porque nos últimos 20 anos, o skate sempre ficou em primeiro lugar.

O álbum tem letras confessionais e canções lentas e introspectivas. Fazer esse disco foi uma forma de terapia para você? Sim. Quem me conhece apenas pela TV e por meus comentários nos Jogos Olímpicos não consegue ter uma percepção 100% da minha personalidade. Sou naturalmente assim. Quem conversa comigo por dez minutos, já está sabendo tudo da minha vida e eu já estou fazendo perguntas sobre a vida dela. Sempre lidei com um monte de homem na maior parte da minha carreira e fui cobrada porque eu tinha que ser dura. Eu não podia amolecer. Mas, nos bastidores, não era assim. Teve uma vez que eu estava treinando com um amigo, o Alanzinho, e ele foi duro comigo. Comecei a chorar e precisei lembrá-lo que eu era uma mina, que eu era sensível. Ele ficou em choque. O disco tem momentos mais tristes e introspectivos. É feliz e triste ao mesmo tempo. Eu o descreveria como um smile pintado de cor triste.

Por falar em Jogos Olímpicos, seus comentários ficaram marcados por sua espontaneidade. Você acha que esse aspecto da sua personalidade também transparece nas suas músicas? Acho que tudo se conecta com a minha música. Eu sempre tive esse lance com a comunicação. No papel de comentarista, eu era alguém que sabia o que estava acontecendo tecnicamente e estava fazendo a tradução para um público maior. Se eu estivesse comentando em um veículo de comunicação específico de skate, eu usaria outra linguagem. Acho que com a música é meio que a mesma coisa. De certa forma, eu estou usando as palavras para transmitir um sentimento e conseguir construir algo. Acho que são facetas da mesma coisa. É a mesma habilidade.

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Como foi a participação do seu marido, o músico e vocalista da banda Fresno, Lucas Silveira? Ele fez a produção do disco. Já estamos acostumados a trabalhar juntos. Desta vez, as músicas e as composições ficaram comigo e ele fez a produção. Às vezes, estávamos jantando e conversando sobre aquela parte daquela música ou estávamos no carro ouvindo as músicas. No nosso caso, é super harmônico. Tem vantagens e desvantagens, como não sabermos a hora de parar. Como temos muita intimidade, não temos limites e rolou algumas tretas no estúdio. Ele pedia para eu fazer uma voz que eu não sou capaz, mas ele insistia a ponto de eu dizer para ele: “Se fosse uma artista que não fosse sua mulher, você faria isso também?”.

Você pretende continuar competindo? É um grande mistério. Não tem nada na minha categoria agora. Eu não consigo ficar sem andar de skate, mas no momento não tenho patrocínio no esporte. Estou andando só por diversão mesmo.

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