A reunião tensa de gravadora de Adele e músico que acusa cantora de plágio
Em audiência de conciliação ocorrida no Rio de Janeiro, o compositor Toninho Geraes chegou a passar mal após discussões com advogados da gravadora

Em mais um capítulo da disputa judicial entre o compositor Toninho Geraes, autor da música Mulheres, famosa na voz de Martinho da Vila, e Adele, acusada de plágio pela música Million Years Ago, as partes envolvidas se encontraram na quinta-feira, 19, em uma reunião de conciliação no Rio de Janeiro que terminou com choro e falta de consenso.
De um lado estava a Universal Music Publishing Brasil, editora de Adele no Brasil, e do outro o compositor e seus advogados. Segundo uma reportagem do jornal O Globo, a reunião, que durou quatro horas, foi conduzida pelo juiz Victor Torres, da 6ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, e não terminou em conciliação. Foi esse mesmo juiz que expediu na sexta-feira, 13, uma liminar proibindo a execução da música no país.
A cantora Adele e Greg Kurstin, coautor da canção, não participaram da reunião, embora tenha sido disponibilizado um link para a participação remota. Quando o juiz pediu para Toninho contar sua versão da história, o compositor chorou e precisou ser acalmado.
Ao final, o juiz determinou uma perícia para avaliar se houve plágio na canção. A perícia será feita por uma professora da Escola Nacional de Música da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
A pendenga judicial já dura três anos e a multa estipulada para as plataformas, rádios e canais que infringirem a decisão é de 50.000 reais por ato — ou seja, por reprodução da canção. Segundo a avaliação anunciada pelo juiz Victor Agustin Cunha, Million Years Ago possui “integral consonância melódica” com o samba Mulheres, composta por Geraes e gravada por Martinho da Vila em 1995. “Fizemos um vídeo comparativo das duas músicas sobrepostas de forma simultânea que foi essencial para a decisão judicial”, disse Trotta a VEJA. Confira a seguir:
O compositor pede 1 milhão de reais por danos morais e parte dos royalties e lucros obtidos pela cantora e gravadoras desde o lançamento da faixa, parte do álbum 25 de Adele, de 2015. O advogado revela que a determinação da Justiça do Rio é inédita em território nacional e abrange não só o Brasil, mas todos os países signatários da Convenção de Berna para a Proteção das Obras Literárias e Artísticas. “Essas nações não podem se negar a cumprir a decisão”, afirmou Trotta.
Em entrevista a VEJA neste ano, Geraes comentou o caso. “As provas que reunimos são cabais. Vulgarmente falando, é batom na cueca. Não conhecia muito da Adele. Mas, quando ouvi a música, notei que era um evidente plágio.” Sobre a inspiração para a faixa, o compositor revelou que, ao procurar o número de um telefone na gaveta, encontrou fotos de ex-namoradas e pensou: “Já tive mulheres de todas as cores, de várias idades”. “O resto é história. Inclusive, é uma música que pode ser cantada de uma mulher para outra mulher”, disse.