Black Pantera: os metaleiros politizados que devem incendiar o Rock in Rio
Banda de rock de Uberaba é conhecida por suas canções antirracistas e também está escalada para o festival Primavera Sound, em São Paulo
Pela primeira vez na história do Rock in Rio, o festival acontecerá durante o período eleitoral e os organizadores proibiram a presença de candidatos nos palcos do evento. Manifestações políticas por parte dos artistas, no entanto, não estão proibidas e a banda Black Pantera, uma das primeiras atrações a se apresentar no festival, nesta sexta-feira, 2, no Palco Sunset, tem em sua raiz a contestação política e a luta contra a discriminação racial. A apresentação contará também com a participação da banda de punk Devotos, formada em 1988, em Recife. Quer dizer: os políticos até ficarão de fora do evento, mas a crítica política e as músicas de protesto, certamente não.
Formada em 2014 em Uberaba, no Triângulo Mineiro, pelos irmãos Charles Gama (guitarra e voz) e Chaene da Gama (baixo) e pelo amigo Rodrigo Pancho (bateria), a banda ganhou notoriedade nacional em março deste ano por seu terceiro álbum, Ascensão. O sucesso veio, principalmente, pelas letras contundentes, como Padrão é o Caralho, em que eles cantam: “Jesus não era branco / Não era ariano / A vida começou no continente africano”. Os petardos continuam em outras faixas, como Fogo nos Racistas e Capítulo Negro. “Nós somos uma banda política já no nome. O rock nasceu preto nos Estados Unidos. Lutamos contra o racismo e qualquer tipo de preconceito. A política do Brasil de hoje não nos representa”, disse Charles a VEJA. A capa do disco é um detalhe à parte. Inspirada na capa do livro Torto Arado, de Itamar Vieira Júnior, ela traz uma foto feita por Victor Balde, na província de Meconta, em Moçambique, que mostra duas mulheres que sofreram violência se reerguendo e empunhando facões.
As influências do grupo passam pelo thrash metal, grunge, punk, hardcore e heavy metal. O resultado é um som pesado e raivoso. As letras são todas em português – uma exceção no segmento do heavy metal, no qual pipocam grupos que preferem cantar apenas em inglês. “Queremos que nossas letras sejam compreendidas pelos brasileiros”, diz Chaene. Ainda pouco conhecida entre os brasileiros, a banda já acumula grandes apresentações na Europa, como no festival Afropunk, em Paris, e também nos Estados Unidos. No Brasil, após o Rock in Rio, o grupo já está escalado também para se apresentar no Primavera Sound, em São Paulo, em 3 de novembro.
O trio, que já sofreu inúmeros casos de racismo, faz questão de frisar que o rock and roll “nasceu preto”. “Dia desses fomos tocar em um festival de heavy metal aqui no Brasil e, quando estávamos entrando no lugar, alguém falou para a gente: ‘Vai ter pagode hoje?'”, diz Pancho. “Quer dizer, na cabeça daquele cara, só porque éramos pretos, iríamos tocar pagode”, completa. O insidioso racismo, como se vê, está presente em todos os lugares.