Não faltaram guitarras para agitar o Espaço Unimed, em São Paulo, nessa terça-feira, 30. Demi Lovato é uma artista de fases — e os fãs adoram. A ex-estrela da Disney já passou por um batalhão de situações, da fama na infância a uma overdose que quase a matou, em 2018, e vem refletindo essas experiências em sua música. Ela comprovou ser essa metamorfose ambulante em seu primeiro show no Brasil este ano — ela ainda se apresenta em Belo Horizonte e no Rock in Rio (veja datas abaixo). Se em 2009, quando pisou no país pela primeira vez, ela entoou seu pop rock açucarado, e depois assumiu um tom motivacional para falar das batalhas vencidas na vida, agora ela encarnou a roqueira, com vocais poderosos, solos enérgicos e muito poder feminino.
Acompanhada por uma banda só de mulheres, a cantora, que recentemente disse se identificar como não-binário, introduziu as companheiras como quem mostra que comanda o palco, mas não sozinha. Empunhando a guitarra durante boa parte do show, mesclou músicas do novo álbum, Holy Fvck, a sucessos marcantes de sua carreira, como Skyscraper, Here We Go Again, Don’t Forget e Heart Attack, que despertaram a nostalgia da plateia. Nas mais recentes, com um arranjo pop rock divertido, a postura ousada acompanhou as letras libertárias. Dona do palco, abusou da sensualidade ao cantar sobre sexo e o amor romântico, em uma exaltação confiante do próprio corpo. Na raivosa 29, mandou o recado ao ex Wilmer Valderrama com o apoio do fãs. “Obrigada por compartilharem comigo suas histórias”, agradeceu antes de começar a música que critica a diferença de idade da relação.
Sincera como é de costume, Demi recheou a apresentação com canções que falam sobre a saúde mental conturbada e os problemas com vício, tema sempre presente em seus trabalhos. Na plateia, ao contrário de seus primeiros shows no país, quando ainda era uma menina presa à carreira na Disney, não se via muitas crianças e adolescentes — assim como ela, seu público cresceu, e acompanhou de perto os altos e baixos vivenciados ao longo dos anos, da bulimia persistente ao vício em drogas que quase a matou. “Claro, estou sóbria agora e todos estão orgulhosos. Mas sinto falta dos meus vícios”, confessa em Happy Ending, penúltima música do setlist.
Atenciosa, chegou a parar o show duas vezes para pedir ajuda para fãs que passaram mal. Em determinado momento, pediu para que a equipe distribuísse água para a plateia, mas logo retomou a cantoria. Entre uma música e outra, comentou a relação com Brasil. “Amo vocês. Vocês são a melhor plateia”, disse ela, que está em sua oitava passagem pelo país. Demi ainda faz mais um show em São Paulo, na quarta-feira, 31. Depois, segue para Belo Horizonte, no dia 2, e para o Rio de Janeiro, onde se apresenta no palco mundo do Rock In Rio no dia 4.