Nas últimas semanas, Drake e Kendrick Lamar têm se enfrentado em uma batalha pública (e lírica). Os rappers começaram trocando farpas em uma série de diss tracks, termo usado para músicas com insultos que são típicas do hip-hop, mas a rixa escalonou rapidamente e agora envolve até mesmo acusações criminais. Kendrick, vencedor de um prêmio Pulitzer em 2018, diz que o rival não assume a paternidade de uma suposta filha e também o acusa de pedofilia. Já o canadense Drake afirma que Kendrick comete violência doméstica contra a noiva.
Em meio a tudo isso, um tiroteio suspeito ocorreu em frente à mansão de Drake, em Toronto, na madrugada do dia 7 de maio. Na ocasião, um segurança do cantor ficou gravemente ferido. A polícia do Canadá está investigando o incidente, mas afirmou que ainda é cedo para apontar culpados. Por enquanto, não há indícios de que o ocorrido tenha alguma relação com a rixa do músico com Kendrick Lamar.
O conflito entre os dois deu seus primeiros sinais em 2013, quando Kendrick alfinetou o colega de profissão em uma música. “Geralmente sou amigo dos caras com quem estou rimando/ Mas isto é hip-hop”, diz o rapper na faixa Control, de Big Sean, na qual participa como convidado. Logo na sequência, Kendrick menciona uma série de artistas, incluindo Drake, e avisa: “Eu tenho amor por todos, mas estou tentando matar vocês” — um disfemismo para superá-los na indústria musical.
Na época, Drake comentou sobre o verso em uma entrevista à Billboard: “Me parece um pensamento ambicioso, só isso. Sei muito bem que Kendrick não está me matando em nenhuma plataforma. Quando esse dia chegar, poderemos revisitar o assunto”, ironizou o canadense.
Nos anos seguintes, os artistas continuaram trocando farpas aqui e ali, mas foi apenas em 2023 que a rixa entre eles ganhou força. O lançamento de First Person Shooter, colaboração entre Drake e J. Cole, reacendeu o conflito em outubro do ano passado. Na faixa, Cole afirma que ele, Drake e Kendrick Lamar são os “três grandes” rappers de sua geração.
Apesar de bem-intencionado, o verso não agradou Kendrick, que se ofendeu com a insinuação de que ele e Drake estariam no mesmo nível de habilidade. Sua resposta veio na canção Like That, com Metro Boomin e Future, lançada em 26 de março. “F****-se as indiretas, First Person Shooter/ F****-se os ‘três grandes’, cara, grande sou apenas eu”, dispara o vencedor do Pulitzer no trecho mais polêmico da faixa.
J. Cole foi o primeiro a revidar. Em 5 de abril, ele lançou 7 Minute Drill, música cheia de insultos direcionados à Kendrick. “Você quer um pouco de atenção, ela vem com extensões”, diz a letra, que continua: “Senhor, não me faça acabar com esse cara, porque eu gosto dele/ Mas se a coisa ficar feia, neste microfone, vou humilhá-lo”. Faixa final de um álbum sugestivamente chamado Might Delete Later (“Talvez Eu Apague Mais Tarde”, em tradução livre), 7 Minute Drill foi deletada das plataformas de streaming dois dias depois. “Agi de uma forma que me faz sentir espiritualmente mal”, declarou Cole, que pediu desculpas publicamente durante um show e em seguida se ausentou do conflito.
Depois de muita expectativa, Drake, que até então não havia se pronunciado, rompeu o silêncio no dia 19 de abril. O rapper lançou a faixa Push Ups, na qual debocha das incursões musicais de Kendrick no pop. Uma segunda faixa de Drake, Taylor Made Freestyle, foi lançada em 24 de abril. O título é uma brincadeira com o termo “taylor made”, que em inglês pode significar “feito sob medida” ou “feito pela Taylor” — uma referência à cantora Taylor Swift, com quem Kendrick colaborou na faixa Bad Blood. A música foi retirada do ar pouco depois: Drake usou inteligência artificial na faixa para simular a voz de Tupac Shakur, rapper morto em 1996, e foi ameaçado de processo por violação de direitos intelectuais pelos herdeiros do músico.
A retaliação de Kendrick também veio em dose dupla. Inicialmente, ele respondeu aos insultos de Drake com a música Euphoria, lançada no dia 30 de abril. “Você age como um degenerado, cada atitude sua é desagradável”, alfineta o artista. “Um manipulador patético, posso sentir o cheiro das suas mentiras/ Você não é um artista de rap, você é um golpista na esperança de ser aceito”, disse ele em um verso.
Na faixa, ele ainda faz um apelo para que Drake não leve a rixa para o lado pessoal e deixe as famílias de ambos fora da discussão — “Não fale sobre família, cara/ Envolver a família é coisa séria”. Kendrick é pai de duas crianças pequenas com sua noiva Whitney Alford. Já Drake é pai de Adonis, de 6 anos, fruto da relação com sua ex-namorada Sophie Brussaux.
Apenas três dias depois, Kendrick lançou uma segunda diss track, 6:16 in LA, produzida por Jack Antonoff — colaborador frequente de Taylor Swift, detalhe que foi interpretado como mais uma indireta à Drake. O canadense foi ligeiro em sua resposta, e no sábado, 4 de maio, lançou a faixa Family Matters (“Assuntos de família”, em tradução livre). Como o próprio título sugere, ao longo dos quase 8 minutos de duração da música, Drake tece acusações duras em relação à vida familiar de Kendrick. “Você é o Messias negro casando com uma rainha mestiça/ E traindo ela com uma branquinha só pra melhorar sua autoestima”, diz a letra. No último verso da música, ele ainda acusa o rapper de cometer violência doméstica contra a noiva. “Eles contrataram uma equipe de gerenciamento de crise pra fazer sumir o fato de que você bateu na sua rainha/ A imagem que você quer passar não é real, você tá morto”, canta Drake.
Menos de uma hora depois, Kendrick lançou meet the grahams, música em que fala sobre cada integrante da família de Drake — incluindo seu filho, mãe, pai e uma suposta filha de 11 anos que o rapper canadense mantém em segredo. Logo em seguida, o vencedor do Pulitzer também lançou a faixa Not Like Us, na qual acusa Drake de ter relações sexuais com menores de idade: “Fala aí, Drake, ouvi dizer que você gosta das novinhas/ É melhor você nunca ir parar em uma cela de prisão”, dispara. A imagem escolhida para a arte de capa da música mostra a mansão de Drake em Toronto coberta por setas utilizadas em um aplicativo que indica a localização de predadores sexuais registrados.
A última alfinetada, até o momento, veio de Drake. No domingo, 5 de maio, o canadense lançou a faixa The Heart Part 6, na qual nega que tenha uma filha escondida e diz que ele mesmo vazou o boato para Kendrick: “Planejamos por uma semana e depois te passamos a informação/ Uma filha de 11 anos, aposto que ele acredita”. O rapper também negou a acusação de pedofilia. “Só para esclarecer, sinto nojo, sou muito respeitado/ Se eu estivesse transando com meninas jovens, prometo que teria sido preso/ Sou famoso demais por essa m**** que você acabou de sugerir”, canta Drake em um verso da música.
“Só transo com Whitneys, não com Millie Bobby Browns, eu nunca olharia duas vezes para nenhuma adolescente”, diz o rapper em outro trecho polêmico da canção — Whitney é o nome da noiva de Kendrick. Já Millie Bobby Brown é a estrela de Stranger Things com quem Drake mantém uma amizade desde 2017. Na época em que eles se conheceram, a atriz tinha 13 anos, e Drake, 31. A proximidade entre os dois causou estranhamento quando Millie revelou o teor das mensagens de texto que trocava com o rapper: “Nós trocamos mensagens outro dia, e ele disse, ‘Estou com tantas saudades de você’, e eu, ‘Estou com mais saudades de você’”, disse a jovem em 2018.
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