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Led Zeppelin: biografia diz o que é real ou mito nos escândalos da banda

Bob Spitz é o autor do livro mais afiado sobre a monumental banda de rock

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 3 jun 2024, 17h07 - Publicado em 3 Maio 2024, 06h00

Poucos meses após lançar seu primeiro álbum, em 1969, os britânicos do Led Zeppelin viram sua popularidade explodir nos Estados Unidos — e no mesmo ano começaram a gravar o segundo disco num estúdio de Los Angeles. Entre uma sessão e outra, eles ficavam hospedados no luxuo­so Chateau Marmont, com seus bangalôs de fácil acesso, perfeitos para a presença das groupies, meninas entre 13 e 18 anos que não conseguiam entrar nos shows por ser menores de idade, mas zanzavam livremente no hotel. Em dado momento, o empresário da banda, Peter Grant, entrou num dos quartos dos roqueiros e deparou com cena forte: uma menina estava amarrada à cama pelos pulsos e tornozelos. Após perguntar o que estava fazendo ali, ela respondeu: “Não sei, mas vocês não param de entrar aqui e transar comigo”. Sem se abalar, Grant disse: “Ah, ok. Tenha um bom dia”.

Led Zeppelin: A biografia – Bob Spitz

Led Zeppelin: A biografia, de Bob Spitz (Belas Letras; tradução Paulo Alves; 720 págs.; 149 reais)
Led Zeppelin: A biografia, de Bob Spitz (Belas Letras; tradução Paulo Alves; 720 págs.; 149 reais) (./.)

A obscena (e real) história confirma: a banda que deu ao mundo as espetaculares Kashmir e Whole Lotta Love não só elevou a música a um patamar de fúria nunca antes visto, como também foi a epítome da tríade sexo, drogas e rock’n’roll. Sua trajetória ganha seu registro mais criterioso e completo pelas mãos do escritor e jornalista Bob Spitz no livro Led Zeppelin: A Biografia, lançado nos EUA em 2021 e cuja primeira tradução para o português chega às livrarias brasileiras no próximo dia 10. Ainda que excessos de todos os tipos tenham de fato ocorrido, as andanças do grupo ensejaram ao longo dos anos um apanhado de causos cabeludos criados por fãs ou fofoqueiros que, ávidos por mais perversões, botavam a imaginação para funcionar. Não por acaso, o Led Zeppelin se tornou uma das bandas mais biografadas da história, com cerca de 150 títulos publicados. Com a exaustiva missão de discernir o que é mito ou real, Spitz passou cinco anos mergulhado em vasta pesquisa, que envolveu centenas de entrevistas e viagens a locais marcantes. Ao navegar por águas tão tortuosas, o autor usou sua experiência como biógrafo dos Beatles, e também de famosos tão díspares quanto Julia Child e Ronald Reagan, para contar a saga do grupo despido de paixões.

Led Zeppelin – Led Zeppelin [Disco de Vinil]

FARRA - Com groupies num bar: sexo, drogas e rock’n’roll na altura máxima
FARRA - Com groupies num bar: sexo, drogas e rock’n’roll na altura máxima (Michael Ochs Archives/Getty Images)
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Ao avançar na missão de separar o joio do trigo, Spitz praticamente soluciona casos como o do suposto roubo de 200 000 dólares do cofre do hotel Drake, na Nova York de 1973, investigado por anos pelo FBI e contado em outras biografias como uma falha de segurança. O episódio, na realidade, foi um modo que o empresário da banda encontrou para não declarar o dinheiro no Reino Unido e escapar de impostos que comiam até 90% da renda. Outro mistério desvendado é a história de que Jimmy Page teria apenas desmaiado em 1977, antes de um show no estádio Pontiac Silverdome, nos EUA. O guitarrista, na verdade, sofreu uma overdose de heroína e foi resgatado pelo chefe da turnê, Richard Cole. Page constantemente subia ao palco chapado, errava notas e não sabia quando parar em seus solos. “Robert Plant ficava fitando Jimmy com um olhar que dizia: ‘Que porra você está fazendo?’”, diz no livro o engenheiro de som Benji LeFevre.

The Beatles: A biografia – Bob Spitz

As farras geralmente acabavam em confusões causadas pelo baterista John Bonham, o Bonzo. Ele chegou a jogar televisores do oitavo andar de um hotel na Sunset Boulevard, em Los Angeles. Na época, alguém relatou ter visto um piano vertical também cair, mas Spitz descarta essa versão devido à fonte apócrifa. Além disso, Bonzo era violento. Ele tentou enforcar uma pessoa durante uma discussão e provocou uma briga com Glenn Hughes, do Deep Purple, ao jogar um papelote de cocaína no rosto dele. Certa vez, no avião da banda, agarrou uma comissária de bordo por trás, deu um mata-leão nela e levantou sua saia para tentar estuprá-­la — foi impedido a tempo pelo empresário Grant. Diante de tudo, não surpreendeu ninguém, tristemente, sua morte por overdose de álcool em 1980. “Senti que precisava dar ao leitor uma noção do mau comportamento da banda na estrada, mas fui muito criterioso em como apresentar esse material para equilibrá-lo com a música e não transformar meu livro em uma sucessão de histórias escabrosas”, disse o biógrafo Spitz a VEJA (leia abaixo).

NO AUGE - Os músicos diante de seu famoso avião: dinossauros setentistas
NO AUGE - Os músicos diante de seu famoso avião: dinossauros setentistas (Cortesia de Bob Gruen/.)
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Houses Of The Holy – Led Zeppelin [Disco de Vinil]

Enquanto nos palcos o Led Zeppelin se mostrava uma potência inigualável — os solos de Page com arcos de violinos, guitarras de dois braços e o uso de instrumentos como teremim inspiraram uma geração — , o comportamento errático fora deles marcou o fim da inocência dos anos 60, sepultando de vez a geração paz e amor e pavimentando o caminho para que grupos de heavy metal como Black Sabbath pudessem vingar. O espírito transgressor dos roqueiros foi louvado por décadas, mas hoje, ironicamente, as atitudes do Led Zeppelin nos bastidores seriam complicadas — fato que impactou, inclusive, a pesquisa para o livro. Avessos a entrevistas, os remanescentes Robert Plant, Jimmy Page e John Paul Jones haviam aceitado falar com Spitz em 2017. A agenda, porém, coincidiu com a eclosão do movimento feminista #MeToo. Sem explicações, os três cancelaram os encontros — provavelmente, diz o autor, com receio de que aquelas histórias retornassem aos holofotes. Os acordes selvagens fizeram história — mas nos dias atuais aquela inconsequên­cia lendária certamente provocaria ruídos de condenação.

“Plant não pronuncia nome de Page”

O americano Bob Spitz falou a VEJA sobre a biografia do Led Zeppelin, a chance de uma volta da banda e o tema de seu próximo livro:

BIÓGRAFO - Spitz: ele não conhecia o Zeppelin até fazer o livro
BIÓGRAFO – Spitz: ele não conhecia o Zeppelin até fazer o livro (Nicholas Hunt/Getty Images)
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O senhor é autor de biografias tão distintas quanto a dos Bea­tles e as de Julia Child e Ronald Reagan. Como os escolheu?  Diante dos personagens, sempre me pergunto: “Eles mudaram a cultura?” e “Foram amados?”. Tenho 20 000 vinis. Porém, quando meu editor me convidou para escrever sobre o Zeppelin, não tinha nenhum álbum deles. Para falar a verdade, eu era um pote vazio e foi como se os tivesse ouvido pela primeira vez.

Afinal, há alguma chance de retorno do Led Zeppelin? Não. Plant terminou a banda enojado com o comportamento de Jimmy, com seus solos de vinte minutos. E, depois, outros vinte minutos de solos do Bonzo. Ainda por cima, veio a morte de Karac, filho de Plant. A perda do (baterista) Bonzo foi só a gota d’água. Hoje, Plant não pronuncia o nome de Page. Refere-se a ele como “ex-colega de banda” ou “ex-guitarrista da nossa banda”.

Qual sua próxima biografia? Os Rolling Stones. São sessenta anos de banda, tenho muita história para contar sobre sua trajetória. Eles amam o Brasil, e músicas importantes surgiram por aí.

Publicado em VEJA de 3 de maio de 2024, edição nº 2891

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