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‘Milton é sagrado’, diz Esperanza Spalding sobre álbum com o músico

O cantor brasileiro e a baixista americana lançam novo trabalho com canções em português e participação de Paul Simon

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 6 ago 2024, 11h07 - Publicado em 5 ago 2024, 00h01

Aos 81 anos, Milton Nascimento lança na próxima sexta-feira, 9, seu primeiro álbum Milton + Esperanza, após a turnê de despedida dos palcos que ele realizou com imenso sucesso no ano passado. O disco sai em parceria com sua fã declarada, a multipremiada baixista americana Esperanza Spalding, de 39 anos. Em comum, a dupla guarda devoção ao jazzista Wayne Shorter, amigo de longa data de Milton, que morreu no ano passado.

No álbum, Esperanza canta em português, assim como Paul Simon, além de participações especiais de Dianne Reeves, Lianne La Havas e dos brasileiros Tim Bernardes, Maria Gadú, Guinga e Lula Galvão. Esperanza conversou com VEJA sobre o lançamento e contou que a única participação especial que não conseguiram foi com Paul McCartney, de quem Milton é fã declarado. “Se algum dia houver uma faixa bônus, tem que ser com McCartney”, contou a artista.

A relação de Esperanza com Milton já é antiga. Os dois tocaram juntos no Rock in Rio em 2011 e Esperanza participou nos Estados Unidos de alguns shows da turnê de despedida de Milton. Para além de interpretações de clássicos de Milton, como Cais e Saudade Dos Aviões Da Panair, cujos vocais Esperanza entrega em português, há também releituras de Beatles, como A Day in the Life, e Earth Song, de Michael Jackson. Outro luxo é a participação da Orquestra Ouro Preto nas músicas Wings For The Thought Bird (composta por Esperanza especialmente para Milton) e Morro Velho. De Wayne Shorter, a dupla gravou When You Dream, que fecha o disco. A maioria das gravações do álbum aconteceram no Brasil, em um estúdio no Rio de Janeiro e também na casa de Milton, no bairro do Joá. A seguir os melhores momentos da entrevista:

Capa do álbum 'Milton + Esperanza'
Capa do álbum ‘Milton + Esperanza’ (//Divulgação)

Sua relação com Milton Nascimento é antiga. Qual é a sua primeira memória de ouvir as músicas dele? Ouvi pela primeira vez assim que cheguei a Berkeley. Eu já conhecia um pouco de música brasileira. Acho que foi minha amiga brasileira Amanda, que é baixista. Ela veio ao meu quarto e colocou um disco para eu ouvir. Achei poderoso, sagrado. Ainda me sinto assim em relação à música dele e também à música de Wayne Shorter. Isso abriu várias portas para ouvir a música dele e também do Clube da Esquina.

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Em 2011, você tocou com ele no Rock in Rio. Como foram os bastidores daquela apresentação? Eu senti que ensaiamos pouco. Que não tivemos tempo suficiente para realmente aprender a música. Lembro-me daquela sensação de: “esta é a maior oportunidade da minha vida”. Na época, era a maior coisa que já havia acontecido para mim. Havia tantas coisas acontecendo na minha vida, na turnê e eu só lembro de pensar: “droga, eu gostaria de ter ensaiado melhor as músicas dele”. Mas foi tão incrível. Ele é uma bênção para a humanidade. Lembro que na noite do Rock in Rio estava chovendo muito antes do show. A equipe estava enlouquecendo e todo mundo cobrindo os instrumentos e pensando se iríamos ter que cancelar o show. Ele estava lá atrás, calmo. Perguntei se ele não estava preocupado. Ele olhou para mim e disse: “nunca chove quando eu toco”. E quando chegou a hora do show parou de chover.

Como surgiu a oportunidade de gravar esse álbum em parceria com ele? É algo que desejei há muito tempo e até esqueci, porque me parecia impossível. Sempre que temos um artista favorito, imaginamos um dia trabalhando com eles, mas não achamos que isso realmente possa acontecer. É uma inspiração, apenas. Eu sempre desejei esse disco, mas nunca me pareceu que haveria uma possibilidade real de fazer isso. Mas a história da origem desse disco não é nada sensacional. Eu estava em Boston conversando com o filho dele. Ele estava fazendo a turnê de despedida dos palcos. Eu tinha me apresentado com ele em Nova York. Então, o filho dele disse que eu deveria produzir um álbum com o Milton. Pensei que se fosse fazer isso, teria que ser no Brasil. Viajei para o Rio e começamos a gravar. 

Você canta em português no álbum. Já se sente a vontade falando e cantando em português? Eu me conecto muito com o significado das letras de Milton e de Márcio Borges. São tão profundas. Tento me concentrar nisso, porque sei que não estou falando perfeitamente, mas tenho a sensação do significado delas. Isso é tudo que posso fazer. Falo um pouco de português, mas ainda é vergonhoso.

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Milton Nascimento está com 81 anos e a saúde dele vai bem. Mas é preciso cuidado devido à idade avançada. Como foi a dinâmica de gravação de vocês dois? Sim, ele tem as limitações físicas, mas é somente isso. Por dentro, ele é a mesma pessoa. O mesmo cérebro. O mesmo coração. O mesmo humor. A mesma memória. E, claro, a mesma paixão pela música. Portanto, tudo o que precisamos fazer era ser sensíveis às mudanças na sua fisicalidade. É como uma árvore ou um espírito. Ele se torna mais refinado, bonito e profundo com o tempo. Senti isso mais do que suas limitações físicas. Claro, talvez ele não se mova como um jovem de 25 anos, mas ele é um rapaz de 81. Definitivamente, senti isso com o Bituca. Ele sempre foi muito humilde. Ele é a essência pura do ser. 

Há várias participações especiais no disco, como Paul Simon, Dianne Reeves, Lianne La Havas, além de brasileiros como Maria Gadú, Tim Bernardes, Lula Galvão e Guinga. Faltou alguém?  Milton queria muito cantar com Paul McCartney. E isso simplesmente não aconteceu. Foi a única coisa que não deu certo. Se algum dia houver uma faixa bônus, tem que ser com McCartney. Foi o único sonho que não se tornou realidade. 

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