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O Som e a Fúria

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“O emo venceu”, diz vocalista da Fresno, sobre novo álbum da banda

Sucesso nos anos 2000, o trio gaúcho celebra 25 anos de carreira com um disco com participações especiais que vão de Chitãozinho & Xororó a Deadfish

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 17 out 2024, 11h12 - Publicado em 17 out 2024, 08h00

Com 25 anos de estrada, a banda gaúcha Fresno celebra nesta sexta-feira, 18, no Espaço Unimed, o lançamento de seu novo álbum Eu Nunca Fui Embora. No dia seguinte, sábado, 19, o grupo viaja para Natal, no Rio Grande do Norte, para participar do festival Mada, na Arena das Dunas. O álbum contou com participações especiais de Chitãozinho & Xororó, Pabllo Vittar, Filipe Catto, Deadfish e NX Zero.

A banda, agora como um trio, formado por Lucas, Vavo e Guerra, era vista de maneira pejorativa no início da carreira por serem “emo”, uma vertente do rock com letras emotivas. Os anos se passaram e, hoje, o estilo foi reabilitado e o preconceito, diminuiu. “O emo venceu”, afirma Lucas, em entrevista a VEJA. O novo disco também conta com uma parceria inédita com o NX Zero, banda que disputa as atenções com a Fresno, e que recentemente voltou às atividades com shows lotados no Allianz Parque, em São Paulo.

Na entrevista, Lucas e Vavao falaram sobre  as participações especiais do álbum, sobre a capacidade da banda de se reinventar ao longo dos anos e fazer parcerias inusitadas para furar a bolha do rock e o retorno do emo. Confira os melhores trechos a seguir. 

O novo álbum Eu Nunca Fui Embora conta com participações especiais de Pabllo Vittar, NX Zero, Dead Fish, Filipe Catto, Deadfish e até Chitãozinho & Xororó. Como é reunir tantas pessoas diferentes em um mesmo trabalho? 

Lucas: O natural seria fazer um projeto para cada tipo de som porque a gente percebeu que temos fãs que se aproximaram por vários motivos diferentes, musicalmente falando. Queríamos envelopar tudo isso em um álbum só porque daria um retrato e uma paisagem mais aberta. O que fazemos musicalmente reflete o nosso público, que é uma galera que escuta, necessariamente, só rock. Tem pop, metal e uma simpatia por vários outros gêneros. Se a gente não aproveitasse as amizades que fizemos no decorrer de 25 anos de banda, seria burrice. Acho que é um álbum de celebração. Temos até uma parceria com Caetano Veloso, na música Hoje Eu Sou Trovão (2016).

Vavo: Essas parcerias na história da Fresno passou a acontecer de uns dez anos para cá. Todas fazem sentido. Todas se encaixam. Nada é forçado. Nenhum artista chegou para cantar uma música que não tivesse suas características.

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Lucas: São artistas que têm uma história conosco, apesar de serem muito diferentes. Como Chitãozinho & Xororó, quando gravamos o Estúdio Coca-Cola (2008). Percebemos que tínhamos muito mais similaridades do que diferenças em nossos sons. Eles voltaram a gravar conosco, agora a música Camadas, que saiu no nosso álbum e também no novo disco deles, José & Durval.

O sertanejo é o ritmo mais popular do Brasil hoje devido à capacidade de seus artistas em fazer parcerias e se apoiarem, sem ficarem numa bolha. Algo que não acontece no rock. Qual é a importância de sair da bolha e ir além da sua base de fãs?

Lucas: A base de fãs é muito importante, mas juntar forças e não viver numa bolha também. Temos um público que defende a banda, que tatua o nome e usa roupas da banda em qualquer contexto. Isso pode provocar na gente um comportamento de bolha. Ao mesmo tempo, não é estrategicamente bom comercialmente falando. Queremos jogar para outros públicos também. Isso vem de uma vontade da banda. O rock já foi a coisa mais popular do Brasil, seja na época do Charlie Brown Jr., do CPM22, Capital Inicial e Jota Quest. O problema é que você vai se ilhando, às vezes de uma maneira limitante. Não dá para pensar que somos alternativos, que o Brasil não tem lugar para a gente. Várias vezes explodimos a bolha e atingimos um público que não é de rock.

Vocês convidaram Pabllo Vittar, uma drag, e Filipe Catto, uma artista trans não binária. Qual é a importância de contar com a diversidade de artistas no álbum?

Lucas: O melhor dessa história é que isso nem passou pela nossa cabeça. Quando convidamos a Pabllo, não era pensando na diversidade e, sim, porque achamos que a música Eu Te Amo/Eu Te Odeio (Iô-Iô) tinha a cara dela. Além disso, a Pabllo já havia nos dito que era fã da banda quando ela ainda era adolescente. Poderíamos até chamar a Xuxa. Imagina o quão maravilhoso seria ter a Xuxa no álbum? No caso da Filipe Catto, eu precisava de uma voz para cantar a música Diga Parte Final, para mostrar o ponto de vista de outra pessoa em um relacionamento amoroso. Acompanhamos toda a transformação musical da Filipe. Quando ouvimos o disco dela cantando Gal Costa, pensamos: “Tá aí o sofrimento que a gente precisava para a música”. Ela deu opiniões sobre a músicas tão boas que entrou nos créditos como compositora.

O álbum conta ainda com uma parceria com o NX Zero. Nos anos 2000, a Fresno e o NX Zero disputavam o mesmo público. Como foi fazer essa parceria com eles?

Lucas: Fizemos shows juntos por cinco cidades no começo do ano. Tudo o que vivemos juntos na música foi muito forte. Não só para o rock, mas também para o público. Como a gente não havia gravado nenhuma música juntos até agora? Aí, o Di Ferrero estava no estúdio conosco e amou a música Se Eu For Eu Vou Com Você. Convidamos para gravar conosco. Ela tem esse clima saudosista, com saxofones.

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Depois de muitas formações, a Fresno se firmou com um trio. Essa é a melhor configuração para a banda?

Lucas: Com essa formação, fica mais claro o papel de cada um. Sinto menos atrito e um alinhamento maior. Não quer dizer que a banda está sempre em paz, mas acho que muitas vaidades já não existem mais. Gosto de pesar as diferenças entre as personalidades que existem na banda e jogar isso a nosso favor. Esse balanço causa um equilíbrio.

Vavo: No palco é diferente porque somos seis. Temos baixista, tecladista e percussionista também.

Afinal, o emo venceu?

Lucas: Acho que sim. Quando o emo surgiu, a simples postura de você ter uma banda com letras que falassem para uma galera mais jovem de seus sentimentos, ficava tachada. Ali nos anos 2000, isso quebrava vários paradigmas. Hoje é muito normal uma pessoa demonstrar suas vulnerabilidades no rock. Agora tem várias festas emo rolando pelo Brasil, com um público que não tinha idade quando surgimos. A gente está vivo e fazendo som. Estamos fazendo coisas novas. Resumindo, o emo venceu demais e isso é muito bom.

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