Avatar do usuário logado
Usuário
OLÁ, Usuário
Ícone de fechar alerta de notificações
Avatar do usuário logado
Usuário

Usuário

email@usuario.com.br
Super BlackFriday: Assine VEJA a partir de 7,99
Imagem Blog

O Som e a Fúria

Por Redação Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Pop, rock, jazz, black music ou MPB: tudo o que for notícia no mundo da música está na mira deste blog, para o bem ou para o mal

O filme que reforça Bruce Springsteen como a voz do sonho americano

Aos 76 anos, ele se reafirma como símbolo político contundente, ao mesmo tempo que um momento crucial de sua carreira é examinado em cinebiografia

Por Thiago Gelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 19 out 2025, 08h00

Na faixa que abre e dá nome a seu clássico álbum Nebraska, de 1982, Bruce Springsteen foi capaz de desmistificar a paisagem grandiosa e idílica do Meio-Oeste americano em questão de uma estrofe: “Eu a vi no jardim, rodopiando um bastão / A levei para passear / E dez inocentes fomos matar”. O efeito era mais que poético: com a letra, o cantor dramatizava os crimes do assassino em série Charles Starkweather, que aterrorizou o estado homônimo dos Estados Unidos nos anos 1950. Gravada em casa com um aparelho de fita cassete de baixa qualidade, a canção, assim como as nove demais do disco, tinha ar fantasmagórico, como se tivesse sido resgatada das entranhas do cancioneiro americano. Em nada parecia com os hits de rock que o artista havia lançado em três trabalhos anteriores, como a dançante Hungry Heart ou a eufórica Born to Run. Uma vez divulgado, o álbum não teve turnê, não emplacou singles nas rádios e não levou Springsteen a conceder entrevistas. Mas seu impacto — musical, mas também político — perdura até hoje.

Com Nebraska, Springsteen revelou uma assombrosa parte de si ao mundo, mas logo mudou de tom. Em menos de dois anos, voltou à rota da fama estratosférica com Born in the U.S.A. (1984), que animava multidões apesar de falar da triste história de um soldado no Vietnã. Assim, o álbum acústico fora da curva ficou na memória de seus fãs mais dedicados, sempre envolto em mistério. Mais de quarenta anos depois, sua criação é revista pela cinebiografia Springsteen: Salve-me do Desconhecido (Springsteen: Deliver me from Nowhere, Estados Unidos, 2025), dirigida por Scott Cooper e com exibição na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo em 22, 26 e 28 de outubro, antes de chegar aos cinemas do país, no dia 30. Debruçado sobre o período de concepção do álbum, o longa é protagonizado pelos atores Matthew Pellicano Jr. na infância e, na fase estelar, pelo premiado Jeremy Allen White (leia a entrevista abaixo), de O Urso. O roteiro elucida como se moldou o roqueiro transmutado em símbolo nacional capaz de evocar patriotismo, mas também denunciar as mazelas de seu país.

LENDA VIVA - O roqueiro em show de 1980: ele esbanja energia e acidez no palco até hoje
LENDA VIVA - O roqueiro em show de 1980: ele esbanja energia e acidez no palco até hoje (Michael Ochs Archives/Getty Images)

Filho de uma secretária e de um motorista, Springsteen teve uma infância simples e marcada por agressões do pai, que lidava com o alcoolismo e sequelas mentais do serviço militar durante a Segunda Guerra, o que provocou no cantor o próprio quadro de depressão — que trata desde os anos 1980. Inspirado por Elvis Presley e Little Richard, demonstrou dotes musicais aos 7 anos. Em 1972, aos 23, formou a E Street Band e gravou o disco de estreia, Greetings from Asbury Park, NJ, em referência ao estado onde cresceu, Nova Jersey. De lá para cá, vendeu mais de 140 milhões de discos e venceu vinte Grammys sem abandonar um mantra: a fidelidade total às raízes musicais dos EUA. Ressaltava, por exemplo, a herança do blues no rock quando levava o saxofonista Clarence Clemons ao palco, assim como carregava o folk e o country em si por meio das letras extensas com as quais narrava batalhas do trabalhador humilde.

Esse papel de menestrel e, ao mesmo tempo, consciência musical de seu país ganhou ainda mais relevância na era Trump. Em maio, o cantor deu pontapé em nova turnê em Manchester, na Inglaterra, e deixou claro: “A América que amo e sobre a qual escrevi, que tem sido fonte de esperança e liberdade por 250 anos, está nas mãos de uma administração corrupta, incompetente e traiçoeira”. Em resposta, o presidente o chamou de sem talento, o mandou calar a boca e o acusou de receber propina do Partido Democrata, ao lado de Beyoncé e outros famosos. Fãs que admiravam seu patriotismo, mas não seus posicionamentos políticos, o abandonaram — mas outros redobraram seu culto a Springsteen. Aos 76 anos, ele é mais audacioso e cheio de vitalidade que muitos de seus sucessores da nova geração, raramente tão incisivos em seus protestos. Não é difícil entender por que sua vida dá um filme: há meio século, não há voz que capture melhor o sonho americano, mesmo nos momentos em que ele parece pesadelo.

Continua após a publicidade

“Protestar é indissociável do Bruce”

O ator Jeremy Allen White conta como conviveu com Bruce Springsteen para interpretá-lo e cantar seus hits no filme Salve-me do Desconhecido.

TRÊS GERAÇÕES - Springsteen, Matthew Pellicano Jr. e White (da dir. para a esq.): cantor aconselhou atores
TRÊS GERAÇÕES - Springsteen, Matthew Pellicano Jr. e White (da dir. para a esq.): cantor aconselhou atores (Bobby Bank/GC Images/Getty Images)

Como conheceu Springsteen? Nós nos encontramos três meses antes das filmagens, em um show dele em Londres. Fiquei maravilhado com a facilidade com que ele me acolheu instantes antes de cantar para 90 000 pessoas. Depois, no set, foi ótimo ter a presença dele para garantir que estávamos sempre sendo honestos e autênticos. Eu estava nervoso com o papel, então ele me enviava mensagens ao fim de cada dia elogiando momentos que o haviam impressionado.

Continua após a publicidade

Foi desafiador emular a voz tão conhecida? Ouvi muito as músicas dele, mas também artistas que o inspiraram: Bob Dylan, Rolling Stones, Otis Redding, Townes Van Zandt e Sam Cooke, entre outros. Ele canta de maneira suave em Nebraska, então não foi tão difícil permanecer no tom. Mas me esforcei muito para emular o fraseado rústico do disco. Foi um desafio divertido que me aproximou dele. Mesmo que não cante tão bem quanto Bruce, agora temos essa experiência compartilhada.

O atual clima político dos EUA influenciou sua interpretação? Filmamos antes que Bruce se pronunciasse sobre Trump, então não pensei tanto sobre isso, mas é parte indissociável dele. Em sua música ou em sua postura, ele sempre protestará contra o que vê como injusto. Após o show de Manchester, enviei a ele uma mensagem para dizer o quanto o admiro e como estava orgulhoso de vê-­lo falar livremente. Ele respondeu: “Obrigado, mas é o que eu faço, nada mudou de verdade”.

Publicado em VEJA de 17 de outubro de 2025, edição nº 2966

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

SUPER BLACK FRIDAY

Digital Completo

A notícia em tempo real na palma da sua mão!
Chega de esperar! Informação quente, direto da fonte, onde você estiver.
De: R$ 16,90/mês Apenas R$ 3,99/mês
SUPER BLACK FRIDAY

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai por menos de R$ 7,50)
De: R$ 55,90/mês
A partir de R$ 29,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$47,88, equivalente a R$3,99/mês.