Protagonista de noticiários de todo o globo em razão de acusações de tráfico sexual, crime organizado e abuso, o rapper Sean “Diddy” Combs, de 54 anos, tem agregado sucesso comercial avesso à enxurrada de críticas que recebe. Segundo dados da empresa Luminate, o catálogo do músico teve aumento de 18,3% de público desde sua prisão preventiva, em 17 de setembro.
Apesar de surpreendente, o aumento não é fenômeno inédito. Quando outro músico, R Kelly, teve crimes de abuso sexual expostos por um documentário, seus números quase dobraram de tamanho. O interesse, porém, sinaliza mais a curiosidade mórbida do público do que apoio ao artista. “A música se torna um canal de informação enquanto as pessoas tentam compreender atrocidades. É como se questionar: ‘Como soaria a música de alguém cujo cérebro funciona assim?'”, explicou o acadêmico George Howard para a Associated Press.
As acusações
O caso vai até 2008 e alega que Combs abusou de suas vítimas “verbal, emocional, física e sexualmente”, tendo as “atingido, chutado e agredido com objetos diversos”, além de “arrastá-las pelo cabelo em certas ocasiões”, causando feridas que só eram curadas após dias ou semanas. Sob seu comando, as vítimas ainda teriam sido forçadas a participar de encontros com outros homens, profissionais do sexo. Batizados de “freak offs” (“batalha de pervertidos”) pelo cantor, os eventos são descritos pelo texto como “performances sexuais elaboradas e produzidas” que ele “arranjava, dirigia, se masturbava durante e, com frequência, filmava”. As tais “batalhas” podiam durar dias e envolviam a participação de múltiplos garotos de programa. Combs também seria responsável por drogar as mulheres para mantê-las “obedientes”. Em uma busca na casa do réu, foram encontrados narcóticos, armas de fogo sem números seriais, munição e mais de 1.000 garrafas de óleo de bebê e lubrificante.
Além dos crimes supostamente ocorridos na casa de Combs, ele também seria líder de uma organização criminosa abrangente, culpada de tráfico sexual, trabalho forçado, coerção e transporte relativo à prostituição, delitos narcóticos, sequestro, incêndio criminoso, propina e obstrução da Justiça. Cientes ou não, todos os seus funcionários seriam parte do crime organizado. Segundo o promotor do caso, Damian Williams, colaboradores do rapper o teriam protegido por meio da violência, com armas de fogo, ameaças, coerção e abuso emocional e físico.
O réu teria usado as ambições musicais de suas vítimas para manipulá-las e os vídeos das “batalhas” para impedi-las de fugir. Além da vida sexual, ele teria controle sobre a moradia, aparência física, registros médicos e localização em tempo real das mulheres.
Até o momento, mais de 50 vítimas e testemunhas foram procuradas pela investigação e o procurador não descarta a chance de mais prisões. No dia seguinte à detenção, Combs se declarou inocente e agora aguarda julgamento, ainda sob custódia.
Quem é Sean “Diddy” Combs
Rapper, produtor e executivo da indústria fonográfica, Combs ascendeu na primeira metade dos anos 1990 após fundar a gravadora Bad Boy Records, que lançou artistas como The Notorious B.I.G. e Carl Thomas. Lançou-se como rapper em 1996, sob a alcunha “Puff Daddy”, com o hit Can’t Nobody Hold Me Down e se manteve produtivo desde então. Fora da música, seguiu investindo em empreendimentos na moda, gastronomia, bebidas e televisão, com os quais construiu patrimônio multimilionário.
Conectado, o rapper era também notório pelas festas estreladas. Em 2019, a Vanity Fair cobriu seu aniversário de 50 anos e listou convidados como Beyoncé, Jay-Z, Kanye West, Kim Kardashian, Leonardo DiCaprio, Pharrell, Cardi B e Ted Sarandos. Em formato de áudio, o convite enviado era dublado pela supermodelo Naomi Campbell, que prometia: “Não existe festa como uma festa do Diddy”. As ligações de calibre do músico estimulam conspirações diversas nas redes sociais, mas nenhum colega famoso de Combs foi citado no caso até o momento.
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