Até pouco tempo atrás, a espanhola Rosalía era mais conhecida no circuito alternativo da música. Com Motomami, seu terceiro álbum de estúdio, lançado em março deste ano, a cantora deu um salto na carreira que a fez pisar no palco do Espaço Unimed em São Paulo na noite de segunda-feira, 22, como uma verdadeira estrela pop. O posto de diva é confirmado pelas coreografias vibrantes e pelos gritos ensurdecedores de uma plateia devotada, caracterizada na estética motoqueira que é mote da turnê (tanto que a produtora responsável enfatizou a proibição de capacetes de moto na casa de show). Sem abandonar o apelo conceitual, Rosalía revelou uma performance tão múltipla como sua persona.
A cantora fez show único no país, mas promete: “Eu vou voltar ao Brasil, se Deus quiser!”. Para a noite, ela treinou o português, aprendeu a dançar o “quadradinho” (movimento famoso no funk) e fez questão de encher a barriga de pão de queijo. Também declarou que ama Elis Regina e que tem a brasileira e a bossa nova como inspirações. Então, deu uma palinha a cappella de Águas de Março e Você Vai Ver, composições de Tom Jobim. A espanhola, no entanto, ficou devendo uma prévia de sua nova música com o DJ Gabriel do Borel, conhecido por trabalhar com artistas como Anitta e Luísa Sonza. Na semana passada, Rosalía registrou pela Sociedade Americana de Compositores, Autores e Editores (ASCAP) dos Estados Unidos os direitos autorais de uma faixa em parceria com o funkeiro, intitulada La Kilie. Havia grande expectativa de que, talvez, o Brasil pudesse escutar o resultado da empreitada com exclusividade.
Entre caras, bocas e poses, Rosalía se dedicou a interagir com os fãs, recebeu e abriu presentes e colocou os brasileiros para cantar no microfone. O repertório dominado pelas faixas efusivas de Motomami também inclui toques de seu segundo trabalho, El Mal Querer, como as faixas Pienso en Tu Mirá e Malamente. Momentos enérgicos se alternaram com performances mais sentimentais, como a arrepiante De Plata, canção do início de sua carreira com um flamenco mais cru, em que Rosalía mostra sua potência vocal – e chegou até a chorar no palco. Ponto alto também foi a apresentação de Despechá, ao lado de alguns fãs. A composição já era hype antes mesmo de ser lançada oficialmente, em 28 de julho.
Apesar de se enrolar na bandeira brasileira, Rosalía não se pronunciou sobre a política local como muitos artistas vêm fazendo. A sutil manifestação ficou por conta do dançarino Eddy Soares, multiartista brasileiro que acompanha a cantora, e que nos minutos finais do show apareceu nos telões fazendo um L com a mão, em possível referência ao ex-presidente Lula.