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O Som e a Fúria

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Suposta filha escondida de Freddie Mercury quer reescrever a história

Em 'Com Amor, Freddie', uma mulher de 48 anos diz possuir dezessete cadernos autobiográficos da autoria do astro e ser sua prole secreta

Por Thiago Gelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 10 set 2025, 09h01

Acaba de chegar às livrarias e ao e-commerce brasileiros uma obra que pretende redefinir tudo que se sabe sobre a vida de um dos astros mais emblemáticos do rock do século XX: Freddie Mercury, o vocalista operístico do Queen, que viveu 45 anos frenéticos e hedonistas antes de morrer em 1991 por decorrência da aids. Conhecido pela história de amor que viveu com Mary Austin, mas também pelos numerosos encontros e namoros com homens e festas exuberantes, Mercury é normalmente retratado como um artista festeiro tragicamente morto pela pandemia que assolou o mundo entre os anos 1980 e 1990. A biógrafa Lesley-Ann Jones, porém, argumenta que os intervalos entre turnês e noitadas eram um tanto quanto mais domésticos — isso porque o músico teria uma filha desde 1977, escondida do mundo em nome da própria privacidade.

A herdeira misteriosa não revela seu nome, mas é dona de dezessete cadernos supostamente redigidos pelo cantor, fotos e vídeos caseiros — nenhum dos quais disponibiliza ao público, mas que Jones jura ter visto. Em Com Amor, Freddie (tradução de Gabriel Zide Neto; Rocco; 378 páginas; R$ 79,90 ou R$ 39,90 em e-book), sob a alcunha de “B.“, a mulher de 48 anos narra as histórias que Mercury lhe deixou escritas ou lhe contou pessoalmente ao longo dos primeiros 14 anos de vida. A veracidade das alegações, porém, é muito incerta.

Se verdadeiras, as histórias pintam um retrato bem diferente do filme Bohemian Rhapsody (2018) e do que ficou cristalizado no senso comum. O motivo para a revelação do conhecimento que possuí após quase cinco décadas de sigilo, aliás, é o próprio longa-metragem oscarizado, que a entrevistada considera totalmente descabido e repleto de inconsistências históricas e subjetivas — opinião compartilhada pela biógrafa, que já publicou outros dois livros sobre o cantor, Freddie Mercury: A Biografia Definitiva (2013) e Love of My Life (2021).

Por que B. procurou Jones

Com Amor, Freddie (tradução de Gabriel Zide Neto; Rocco; 378 páginas; R$ 79,90 ou R$ 39,90 em e-book)
Com Amor, Freddie (tradução de Gabriel Zide Neto; Rocco; 378 páginas; R$ 79,90 ou R$ 39,90 em e-book) (Rocco/Divulgação)

Ciente do quão difícil é acreditar na história que conta, o livro já começa justificando o encontro entre a biógrafa e B. O primeiro contato teria ocorrido ainda na pandemia de Covid-19, via e-mail com 26.000 palavras, após o lançamento de Love of My Life. Surpreendida pela compreensão da autora sobre Mercury, B. disse que só ela poderia ter acesso ao material escondido. Outra opção teria sido o jornalista David Wigg, a quem ele concedeu múltiplas entrevistas ao longo da vida, mas B. o descartou como ato de respeito pelo suposto pai, que nunca o contou sobre o diagnóstico de HIV, apesar da oportunidade nos últimos anos de vida. Ainda que disposta a conversar com a autora remota e presencialmente, B. também convenientemente se recusou a compartilhar o material que tem para publicação por acreditar que ele pertence somente à ela, de forma que o livro não compila os tais cadernos do roqueiro, mas é inteiramente parafraseado pela figura misteriosa.

Segundo a obra, B. é extremamente reservada, quer continuar assim, não dará mais entrevistas e não ganha nada com as vendas do livro, nem com qualquer adaptação que venha a ser feita dele. Ela também oferece um argumento a favor da própria existência: uma mancha abaixo do olho esquerdo de Mercury, imperceptível em fotos ou vídeos, mas conhecida por qualquer um que tenha interagido com ele cara a cara. “Se eu não fosse quem digo ser, como é que saberia de uma coisa dessas”?

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O nascimento de B.

Em 1976, Mercury estaria emocionalmente exaurido pelo namoro com David Minns, que o livro retrata como um parceiro violento que não aceitava a ideia de viver em triângulo amoroso com Mary Austin. Quando o cantor visitou uma amiga francesa cujo marido viajava, ambos tiveram uma noite juntos. Assim teria sido concebida B. Apesar da origem em adultério, a menina diz ter sido aceita pelo padrasto, que permaneceu casado com a mãe. Na certidão de nascimento, é o nome dele que que está escrito. Como ele estava viajando e Freddie teria sido o único parceiro da mulher no período, um teste de DNA não foi realizado.

Apesar do sigilo para o mundo, os três nunca teriam escondido a verdade da garota, que alega ter estudado em diferentes colégios voltados para filhos de famosos, onde a discrição é regra. Ela viveu o primeiro ano de vida na Inglaterra, depois se mudou para a Suíça e retornou a Londres em 1985, de onde partiu novamente em 1991. Também tinha residência no sul da França. Hoje, não diz onde mora, mas nega estar em um país anglófono. Ela promete que poucas pessoas souberam de sua existência, entre elas Mary Austin e outro namorado do cantor, Joe Fannelli. Os colegas do Queen ficaram de fora da lista exclusiva.

Freddie Mercury segundo B.

Uma vez autoafirmada, B. então narra a vida do cantor de cabo a rabo, história que o próprio teria deixado escrita nos dezessete cadernos, descritos por Jones como completamente preenchidos, chegando a 555 mil palavras. O relato é minucioso e começa na infância. Nascido Farrokh Bulsara, passou os primeiros anos entre Zanzibar e a Índia, onde estudou em internato. É descrito como tímido, mas esclarecido. Devoto ao Zoroastrismo, Freddie não teria tido questões sobre a própria sexualidade, já que a divindade Aúra-Masda é tanto masculina quanto feminina. Segundo B., ele sempre foi um homem bissexual polígamo. Também o descreve como profundamente religioso e dedicado a estudos teológicos. Concluindo que apenas os dezessete Gathas de Zoroastro foram de fato escritos por Zaratustra, viveu devoto a eles e negou dogmas e a religião organizada, assim driblando crenças conservadoras de alguns fiéis. “Ele provavelmente praticava os princípios de Zaratustra mais detidamente do que a maioria dos zoroastrianos”, diz B. Apesar da mãe católica, os ensinamentos religiosos foram passados à menina.

Ele teria sido um pai presente à própria maneira, comprometido a ligações de telefone, viagens para visitá-la e aos longos textos que a deixou. B. não o critica como patriarca em momento algum. Ela ainda descreve a relação entre Mercury e a família persa como muito harmoniosa e diz que ele se identificava com os colegas de banda Roger Taylor e John Deacon, mas nunca foi verdadeiramente próximo de Brian May.

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Quando começa a descrever a vida sexual intensa de Mercury, a narradora se torna mais moralista e cheia de julgamentos. Descreve práticas do sadomasoquismo como “desprezíveis” e o auge da libertinagem do artista como “sórdida”. Sempre o coloca na posição de vítima, à mercê de aproveitadores e do próprio “monstro” autodestrutivo que tinha dentro de si. Mais do que drogas como a cocaína, alega que a ninfomania era sua sina. A persona de “macho man gay”, como diz, não passaria de farsa de um homem em apuros. O plano verdadeiro seria chegar aos 40 ou 45 anos, sossegar, engravidar Mary Austin e viver uma vida pacata. São constantes a frases que hierarquizam o sexo casual e os namoros apaixonados com homens abaixo da longa relação com Mary. Para um livro que pretende revelar o lado caseiro do astro, é surpreendente o espaço reservado para especulações sobre sua identidade sexual.

Certos trechos possuem insinuações espantosamente homofóbicas: “Outra revelação significativa”, escreve Jones, “é que Freddie nunca precisou de drogas ou de álcool na sua relação com Mary. Por outro lado, tinha que consumir vastas quantidades de entorpecentes para transar com homens”. B., então, ergue a bizarra pergunta: “Freddie era um homossexual que também transava com mulheres, ou um homem hétero que também transava com homens”? Pouco depois, a suposta filha diz que Freddie pedia a Deus para não ser mais quem era “por que aquele Freddie transgressor estava destruindo a vida dele” e “tinha levado a melhor sobre o homem gentil que adorava e se sentia totalmente seguro na vida doméstica com Mary”.

Tudo isso teria sido admitido por ele com minúcia peculiar em textos escritos com a filha criança em mente. Para isso, B. dispõe de um outro malabarismo: ele a pediu que lesse certas partes só depois dos 25.

A pedra no sapato

A falta de qualquer prova material já complica a existência de Com Amor, Freddie. Também não ajuda que a obra seja inteiramente construída em cima de uma gritante contradição: as confissões de uma filha secreta, altamente reservada, que repentinamente enxerga validez em vomitar os podres do pai. Nenhuma pedra no sapato, porém, é maior do que a recusa de Mary Austin. Segundo a obra, a ex-namorada sabia de tudo e manteve o segredo em respeito ao amado. Questionada pelo The Times, entretanto, ela foi categórica: “Freddie era gloriosamente aberto” — diferente do que dito no livro de Jones — “e não posso imaginá-lo como alguém que manteria, ou seria capaz de manter, algo tão bom como um segredo de mim ou dos outros que eram mais próximos a ele”.

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Austin diz que uma filha teria sido motivo de muita alegria para o cantor, mas sequer se recorda de ouvi-lo discutir a formação de uma família. A veracidade por trás da história a deixaria “abismada”. Ela espera que as informações do livro não sejam lidas como inequívocas.

A editora original da obra, Whitefox Publishing, disse em nota: “Levamos a sério questões de precisão, legalidade e ética. Trabalhamos para garantir que nossos projetos estejam sujeitos ao escrutínio legal e editorial”.

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