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Olhares Olímpicos

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O blog da redação de VEJA na Olimpíada

A derrota do ‘dream team’ de um só

Por Fábio Altman Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 30 jul 2020, 22h05 - Publicado em 16 ago 2016, 16h24

O tempo e o desenho do salto com vara fazem da modalidade a mais teatral do atletismo. O ritmo dos saltos, um atrás do outro, a escolha das alturas, o acerto e o erro, tudo somado compõe um belo espetáculo esportivo. Disse a VEJA o mito Sergei Bubka, um pouco antes da Olimpíada do Rio: “É como um musical. É preciso cantar, dançar e atuar dramaticamente. O saltador com vara é um atleta universal cuja tarefa é associar corrida a ginástica, do mais alto nível.” Para quem viu pela televisão a prova de segunda-feira no Estádio Olímpico do Engenhão, colou na memória uma disputa de extrema qualidade – “sublime”, na definição do diário esportivo francês L´Équipe –, de mãos dadas com as caras e bocas de Renaud Lavillenie, assustado com o desempenho de Thiago Braz e irritado com a torcida. Um a um, os adversários foram caindo fora. Sobraram Thiago e Renaud. O brasileiro errou sua primeira tentativa nos 6m03, mas acertou a segunda. Renaud, recordista mundial, com 6m16, errou duas vezes nos 6m03 e pôs o sarrafo para 6m08. Não conseguiu ultrapassá-lo. Recorde olímpico para o paulistano de Marília, abandonado pela mãe na infância, criado pelos avós maternos (tal qual Simone Biles).

Foi sublime o duelo, sem dúvida. Thiago teve a frieza dos grandes. Renaud saiu comparando a barulhenta torcida brasileira, sem hábito com o atletismo, realmente irritante, aos alemães que vaiavam o negro Jesse Owens nos Jogos nazistas de Berlim, em 1936. Foi bobagem tão acintosa que ele teve de pedir desculpas depois. O salto com vara, enfim, é magnificamente olímpico. A ele só os fortes sobrevivem – e mesmo os muito fortes por vezes perdem a cabeça ao enfrentar sequência esportiva tão tensa. Foi o que aconteceu na Olimpíada de 1992, em Barcelona, com o maior de todos, o ucraniano Bubka, que faz a metáfora do esporte com o teatro. Ele era como o Dream Team de uma pessoa só. Não havia como derrotá-lo. Era mais favorito que o francês Lavillenie no Rio. Mas Bubka fracassou. O Estádio de Montjuic silenciou. Havia gente emocionada na plateia. Recordista mundial, chegara à Espanha com 14 melhores marcas sucessivas. Decidiu começar a brincadeira com 5m70. Uma, duas, três vezes, e nada. Foi uma das maiores surpresas da história de todos os Jogos. O ouro de Thiago Bráz, ao derrotar o invencível Lavillenie, agora também faz parte desse rol de improbabilidades.

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