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Paraná

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Política, negócios, urbanismo e outros temas e personagens paranaenses. Por Guilherme Voitch, de Curitiba

Conversa indica favorecimento à Odebrecht no governo Richa; ouça

Em gravação, ex-chefe de gabinete de Beto Richa sugere a empreiteiro que entre como "cobertura" em licitação que seria vencida pela Odebrecht

Por Guilherme Voitch Atualizado em 11 set 2018, 17h26 - Publicado em 11 Maio 2018, 08h53

Uma gravação obtida pelo blog Veja Paraná mostra que o governo Beto Richa (PSDB) direcionou a licitação de uma Parceria Público Privada (PPP) de mais de R$ 7 bilhões para a Odebrecht. No áudio, o então chefe de gabinete de Richa, Deonílson Roldo, fala que há um “compromisso” firmado para que a empreiteira seja responsável pela obra, a duplicação de mais de duzentos quilômetros da PR-323, no norte do estado. O interlocutor, e autor da gravação, é Pedro Rache, presidente da Contern Construções, empreiteira ligada ao grupo Bertin.

Deonílson Roldo diz que há “um compromisso” para a construção da PR-323 e pede um entendimento com a Contern

O então chefe de gabinete de Richa pede que a empresa participe da licitação como “cobertura”

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Roldo sugere a Pedro Rache que converse sobre a licitação com uma pessoa da Odebrecht

Roldo e Rache combinam o adiamento da licitação para que a Contern possa participar como “cobertura”

No diálogo, Roldo sugere que a empreiteira dispute a licitação como “cobertura”, ou seja, que entre no processo com um preço maior que o da Odebrecht para perder a disputa propositadamente. Em troca, o Grupo Bertin teria ajuda para vender parte do complexo de usinas termoelétricas de Aratu, na Bahia, para a Copel, estatal paranaense de energia. A reunião ocorreu em uma segunda-feira, dia 24 de fevereiro de 2014, na sala de Roldo, localizada no terceiro andar do Palácio Iguaçu, sede do governo paranaense, ao lado do gabinete do governador.

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Em determinado momento, Roldo, homem de confiança de Beto Richa desde quando o tucano foi prefeito de Curitiba (entre 2005 e 2010), pergunta se a Contern tem interesse em participar da licitação da rodovia. Rache responde que sim. O projeto do governo da pista que ligaria Maringá a Francisco Alves, em uma das regiões mais desenvolvidas do estado, era ambicioso: transformar os cerca de 220 quilômetros de pista simples, esburacada e mal sinalizada em uma rodovia modelo, de pista dupla, com 41 viadutos, pistas secundárias e marginais.

Para isso, um investimento de mais de 7 bilhões de reais seria feito. O investimento bilionário viabilizaria a principal obra viária da gestão Richa e seria um trunfo eleitoral para ele e seu grupo. Ao demonstrar interesse na disputa, Rache diz que a Contern vinha estudando o edital e contava com uma força de trabalho de 6.000 homens e 900 equipamentos que tinham sido utilizados no Rodoanel e estavam prontos para ser  postos em ação no Paraná.

Acerto

Roldo explica que o governo do estado já tem “um compromisso” para a obra. “Queria ver até onde a gente pode entrar nesse compromisso, digamos, respeitado”, ressalta. O chefe de gabinete do governador vai além. Pergunta para o executivo se ele pode servir como “cobertura” para a Odebrecht (a beneficiária do compromisso) na rodovia. Em troca, ele promete intervir em um segundo negócio de interesse do Grupo Bertin, dono da Contern.

A construtora entraria na licitação para perder, mas o governo daria carta branca para a Copel comprar parte do complexo de usinas termoelétricas de Aratu, na Bahia, que o grupo Bertin tentava se desfazer. O negócio poderia render “até R$ 500 milhões”, segundo Roldo, e garantiria fôlego à empresa, que naquele momento já enfrentava dificuldades financeiras.

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Na sequência, Roldo pede que o próprio Rache combine o esquema com um representante da Odebrecht. O executivo da Contern nega. “Eu quero atender ao governo, não a Odebrecht”, diz, pedindo que o acerto seja intermediado pelo próprio Roldo, que aceita a condição.

Rache diz, então, que topa participar do acerto mas que precisaria de tempo para levar a proposta para a direção do grupo. Por isso, pede que o prazo para a entrega dos envelopes seja prorrogado. O chefe de gabinete promete solucionar o problema. Por fim, Rache pergunta se a proposta tem o aval do governador Beto Richa. Roldo dá a entender que sim.

O executivo se despede, deixa o Palácio Iguaçu e entra em um táxi. A conversa toda foi gravada por ele usando um iPhone S4 escondido no paletó e permaneceu desconhecida até o momento. O objetivo do áudio, segundo apuração do blog, era “proteger” a Contern para negociações futuras com o governo do Paraná. Naquele momento, a possibilidade de um favorecimento da Odebrecht na licitação já era ventilada no mercado.

Relação

A gravação joga luz na relação da Odebrecht com Richa, cujas investigações foram parar nas mãos do juiz Sergio Moro após o tucano perder o foro privilegiado com sua renúncia, em março, para disputar as eleições 2018. O ex-governador aparece nas planilhas da propina da empresa com os codinomes “Piloto” e “Zangão”, segundo a força-tarefa da Operação Lava Jato. O ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura, Benedicto Júnior, afirmou em sua delação premiada que a construtora chegou a direcionar  2,5 milhões de reais por meio de caixa dois para a campanha do tucano à reeleição naquele mesmo ano de 2014.

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O executivo disse que a verba foi alocada na PPP da rodovia. “Era o único projeto [da Odebrecht] que existia no Paraná. [Se o projeto fosse adiante], ia ser lançado como despesa, ele ia onerar o projeto: ou diminuir na minha margem ou na nossa capacidade de dar desconto”, disse Júnior, em seu depoimento.

Em 2014, a licitação da PR-323 chegou a ser prorrogada por um mês, conforme prometido por Roldo. A Contern, porém, não entrou na disputa e o consórcio capitaneado pela Odebrecht venceu a licitação sem concorrentes. Com os reveses sofridos na Lava Jato, a empresa nunca conseguiu viabilizar a duplicação e o contrato foi quebrado em 2016.

A negociação entre o Grupo Bertin e a Copel tampouco se concretizou. Roldo permaneceu até o final do governo Beto Richa como secretário de Comunicação. Por indicação de Richa, a atual governadora Cida Borghetti (PP) o manteve na estrutura do governo. Atualmente ele é diretor de Gestão Empresarial na Copel.

Por meio de sua assessoria, o Ministério Público Federal informou que “foi enviada ao órgão uma cópia do referido áudio. Foi solicitada a entrega do áudio original formalmente para que fosse realizada uma perícia, o que não ocorreu até o momento.”

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Outro lado

Procurado pelo blog, o governador Beto Richa declarou que nunca houve direcionamento para a Odebrecht tocar as obras da rodovia e que ele desconhece qualquer reunião ocorrida entre o seu chefe de gabinete e representantes da Contern. Roldo disse que “nunca houve compromisso com a Odebrecht”. “Nunca falei disso com o diretor da Contern.” O grupo Bertin, por meio de sua assessoria de imprensa, afirmou que em “nenhum momento recebeu sinais de que o referido processo licitatório estaria direcionado para uma ou outra determinada construtora.”

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