É perto do museu do Louvre, mas nem todo mundo passa por ali. Pois vale o detour. Batizada em homenagem ao todo-poderoso cardeal que mandava e desmandava na corte de Luís XIII, a biblioteca Richelieu, que apareceu só vários ângulos projetada nos telões da cerimônia de abertura no Sena, é uma joia que proporciona aquele respiro em meio à maratona da Olimpíada. E que respiro.
Logo de cara, a Sala Oval é um deslumbre, com suas dimensões espantosas em forma de anfiteatro e um teto de vidro que deixa a luz entrar à vontade. Tem gente que vai ali para ler, estudar, apreciar a arquitetura ou dar uma volta pelo acervo instalado no andar de cima, onde fica o museu. Uma área para crianças oferece sofás e telas interativas – um ajuste a esta era feito no espaço que começou a ganhar forma tal como o vemos no século XVIII.
Nestes tempos olímpicos, uns desavisados esbarram com o prédio e nem imaginam o que podem encontrar em seu interior. Aí vem uma surpresa depois da outra.
Subindo ao segundo andar, é difícil se achar entre milhões de obras que promovem um percurso da Antiguidade aos dias de hoje. Inicialmente construída para alojar o vasto acervo da realeza, que já não tinha onde acomodar tantos volumes e objetos (parte deles surrupiados de inimigos nos campos de batalha), o lugar é uma Disney para pesquisadores da história da arte, do patrimônio e de muitas outras zonas do conhecimento humano.
PARA ONDE OLHAR?
Só de gravuras e fotografias, são 15 milhões de obras. A coleção de manuscritos é uma riqueza à parte. Mais de 20 milhões deles foram conservados por lá.
Os estímulos da bela galeria Mazarin (nome em homenagem ao cardeal que encomendou a mansão e primeiro-ministro após Richelieu, além de tutor do menino que se proclamaria Rei Sol, o Luís XIV) começam pelo teto coberto por pinceladas barrocas inspiradas nas Metamorfoses de Ovídeo. Nas vitrines, avista-se uma página de Em Busca do Tempo Perdido, de Proust, toda riscada e reescrita, deixando entrever as hesitações do escritor.
Há ainda partituras de Stravinsky, gravuras originais de Rembrandt e Picasso e fotografias de Nadar. Se não estiverem à mostra, é porque saíram por ora de circulação para evitar exposição excessiva à luz. Mas o que não falta é o que ver. Eis mais alguns itens que vale procurar no museu onde a galeria Mazarin desemboca:
- Partitura manuscrita da ópera Don Giovanni, obra-prima de Mozart
- Um globo do século XVI, o primeiro a conter a palavra “América”
- O manuscrito de Notre-Dame de Paris, de Victor Hugo
- A maior coleção de vasos gregos depois do Louvre
- Raríssimas moedas da França
Dois lembretes antes de sair. Paris possui outras bibliotecas preciosas, como a Saint-Geneviève, do lado esquerdo do rio, bem em frente ao Panthéon. Uma das primeiras a abrir ao público, também no século XVIII, traz na fachada nomes como de Galileu, Copérnico e Shakespeare, todos muito bem representados nas obras guardadas ali dentro, um dos maiores acervos de Paris.
Lembrete 2: bem ao lado da Richelieu fica a Galerie Vivienne, com lojas e restaurantes que, lá no século XIX, plantaram, em pequena escala, o que viria a se tornar o shopping center moderno, com tudo à mão no mesmo lugar. Mas ali é diferente: entre o piso de mosaico e a luz abundante, reina o silêncio.
Feita a pausa, já dá para voltar à maratona – ou seria corrida de 100 metros? – do circuito olímpico que não para.