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Paris é uma Festa

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Histórias da cidade olímpica fora das arenas
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O quadro mais adorado e os mais desprezados do Louvre

A Monalisa eclipsa as obras que ficam à sua volta, tudo ao lado do Sena, onde a Olimpíada parisiense começou

Por Monica Weinberg, de Paris
9 ago 2024, 06h42
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  • O Louvre é um mundo, literalmente. Estão guardados ali fragmentos da história que promovem uma viagem completa por todas as eras, e mais um pouco. O melhor é pinçar uns capítulos e mergulhar neles. Mesmo com essa vastidão de opções, a multidão que se aventura por aqueles corredores nunca deixa para trás uma obra, que vem a ser a mais famosa da arte ocidental – a Monalisa, pintada por Leonardo da Vinci entre 1505 e 1506 e retocada, como era de praxe para o mestre, até 1517.

    O Louvre fica colado ao Sena, palco da festa de abertura e onde os atletas disputaram o triatlo e a maratona atlética. Ao longo dos Jogos, porém, as filas na porta do ex-palácio que abrigava os reis da França e Napoleão Bonaparte converteu em museu não deixam dúvida: o povo quer esporte e arte. Nem que seja para dar só uma olhada na Monalisa…

    O quadro pode decepcionar o observador à primeira vista: é menor do que o esperado, um tanto escuro e ainda fica escondido por detrás de um vidro. Chegar perto da tela e apreciar seu sfumato, técnica na qual da Vinci se notabilizou, que produz um efeito esfumaçado suavizando as linhas, é missão para os muito pacientes. Mas compensa: os olhos da senhora de sorriso misterioso – meio triste, meio feliz, meio irônico – não desgrudam do visitante. O cenário vai se tornando distante, distante, cada vez mais remoto. Nada parece fora do lugar.

    DIAS COMUNS - Aglomeração: normalmente só é possível contemplá-la a 4,5 metros de distância -
    DIAS COMUNS - Aglomeração: normalmente só é possível contemplá-la a 4,5 metros de distância – (Christophe Petit Tesson/Getty Images)

    ATÉ PICASSO VIROU SUSPEITO

    Leonardo já era um velho homem quando François I, o monarca francês que apreciava os renascentistas, o convidou para trabalhar em sua corte. Ele, que morava em Florença, topou, mas não fez mala pesada. Dentre as telas que carregou, lá estava a Monalisa, que, segundo se conta, teria provocado paixão fulminante no rei. Logo virou o centro de sua coleção de italianos que, três séculos depois, seria pendurada no Louvre.

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    A tela não causava esse frisson todo naquele tempo, mas ao adentrar o museu passou a ser vista por mais gente e apreciada. Até que um fato que em nada tem a ver com sua beleza lhe deu fama como nunca: em 1911, a Monalisa evaporou da parede onde ficava, o que se reparou (imagine) no dia seguinte. O caso ganhou alta repercussão e enredou o poeta Guillaume Apollinaire, que chegou a ser preso, e depois Picasso, também feito suspeito, mas logo dispensado.

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    Gigantesco O Casamento em Caná, de Paolo Veronese (Reprodução/Reprodução)

    Dois anos mais tarde, acharam a obra de da Vinci em poder de um italiano que alega ter surrupiado o quadro com um propósito nacionalista: o que era da Itália não deveria ficar na França. Mas ficou.

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    Esse ano, a Monalisa foi alvo da fúria de duas ativistas que, ao lançar uma sopa na direção do santo vidro protetor, diziam querer “chamar a atenção para a causa da agricultura sustentável”. Em 2022, arremessaram uma torta contra o quadro – tempos antes havia sido uma xícara.

    Pior foi em 1956, quando um ácido danificou a porção inferior da tela e uma pedra ainda lhe causou dano, felizmente imperceptível. “A fama da Monalisa não tem apenas a ver com seu apuro técnico, sua beleza, mas também com as histórias que a acompanham”, avalia Felipe Martinez, doutor em história da arte da Universidade de Amsterdã.

    OS MAIS ESNOBADOS

    O burburinho em torno da Monalisa acaba ofuscando a linda coleção de venezianos, também da época da Renascença, espalhados nas paredes em volta, na mesma sala. Eles são bem vivos, cheios de cores intensas que contrastam entre si. Já os florentinos eram mais ciosos da linha, do desenho e de tons que se harmonizavam.

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    Bem atrás da Monalisa, chama a atenção o gigantesco O Casamento em Caná, de Paolo Veronese, que retrata uma festa em que os noivos estão ao longe, quase que esquecidos, enquanto lordes e ladies aproveitam o banquete. Destino cruel ficar onde está: ninguém dá as costas para a Monalisa.

    Ah, e há outros Da Vincis imperdíveis na Galeria dos Italianos. Depois, é admirar o Sena e apostar que a temporada para banho ali vai mesmo abrir em 2025.

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