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Paris é uma Festa

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Histórias da cidade olímpica fora das arenas

Saint-Denis: será que o santo faz mais um milagre?

O subúrbio que leva o nome do padroeiro de Paris, recauchutado para os Jogos, é ainda a área mais pobre da França

Por Monica Weinberg, de Paris
Atualizado em 4 ago 2024, 07h13 - Publicado em 4 ago 2024, 07h13

A 7 quilômetros do centro, Saint-Denis oferece competições para todos os gostos – o centro aquático abriga a natação artística e o polo aquático e o Stade de France (palco da dolorosa derrota do Brasil para a França na final da Copa de 1998) é sede do rúgbi e do atletismo. Também a Vila Olímpica fica nestas bandas em que os turistas, salvo os que querem assistir a uma partida de futebol, não costumam pisar.

Mas olha que vale a pena. Ali está a catedral de Saint-Denis, o primeiro exemplar da arquitetura gótica francesa, que ganhou a fachada de hoje, além das rosáceas que a inundam de luz, no século XII, e virou a necrópole dos reis da França.

A história do santo que dá o nome à igreja já compensa um mergulho por ali. Em algum ponto do século III, Denis veio da Itália a Paris com carisma e lábia afiada e, assim, arrebanhou fieis para o catolicismo num tempo em que eram os romanos os senhores do pedaço.

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Cantor Pharell segura tocha olímpica no topo da Catedral de Saint-Denis (Stephane De Sakutin/Getty Images)

O desfecho não surpreendeu. Denis foi logo decapitado e, segundo a lenda, pegou a própria cabeça e desceu inabalável as colinas de Montmartre – nome derivado do que à época seria o Monte de Marte, mas que, depois, recebeu outra explicação: era o Monte do Martírio, o martírio de Saint Denis.

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O périplo de Denis teria se estendido por seis quilômetros. Eis que, enfim, ele se viu sem forças justamente no lugar em que, em sua homenagem, surgiu a igreja. Lá o homem convertido em santo foi enterrado em local assinalado na cripta.

Convencidos do milagre, muitos parisienses se lançaram à fé cristã. Detalhe: o hoje padroeiro de Paris pode ser avistado na fachada da Notre-Dame, ele e sua cabeça debaixo do braço.

NADA DE DESCANSO

De Felipe III a Pepino, o Breve, de Henrique IV a Luís XIV, e ainda Maria Antonieta e o marido Luís XVI – todos foram sepultados, em eras diferentes, na basílica. Pareciam descansar em paz, alheios ao fato de a monarquia absolutista ter sido substituída pelo poder dos insurgentes. Nada disso. Eram tempos de terror na Revolução Francesa, e eles abriram seus caixões bradando: “Vamos limpar as cinzas impuras desses tiranos!”

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Os restos mortais dos ex-soberanos foram então lançados a uma vala comum, e o material dos caixões onde repousavam acabou sendo usado para fins revolucionários. Passado um tempo, os Bourbon tiveram nova passagem pelo poder (nunca como antes), e Luís XVIII ordenou, em gesto simbólico, que o que sobrara dos monarcas retornasse à Saint Denis, hoje lotada de túmulos.

O QUE SERÁ, SERÁ

O projeto olímpico injetou recursos e deu uma repaginada no subúrbio que detém os piores indicadores socioeconômicos de toda a França. Escolas e condomínios degradados foram reformados e os tratores colocaram abaixo galpões industriais há meio século ociosos para ceder lugar ao verde. Sem um anteparo no caminho, agora dá para alcançar o Sena a pé.

Com alta concentração de imigrantes pobres, africanos e árabes, a área em que o santo fez história deu uma melhorada e, depois dos Jogos, os apartamentos da Vila, agora habitados pelos atletas, vão virar apartamentos – quem sabe trazendo avanços àquele naco ainda tão distante da Paris dos cartões-postais. Bem que Saint-Denis podia dar uma forcinha.

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