Lembro-me que ao terminar o mestrado e doida para ingressar no doutorado fui freada pela minha ex-sogra que me veio cheia de preocupações e, a seu modo, com boas intenções: você só está olhando para você, seu marido precisa de atenção, você está abandonando a sua família, sua filha está ficando adolescente e está ficando sem mãe!, depois não diga que não avisei!
Boba que sou, pensei em desistir. De parar de estudar. Minha filha Nara, ainda uma criança na época, percebendo que eu estava muito tempo em casa, questionou:
— Você não está fazendo mais nada?
— Não. Acabou. Mamãe agora vai ficar mais tempo com você. Não é legal?
— Puxa… o que eu vou dizer agora para as minhas amigas?
— Como assim?– Perguntei sem entender.
— Quando você fazia mestrado, eu dizia orgulhosa que você estava estudando. Que ia, como é mesmo o nome do que você fez? Isso, que estava se preparando para a defesa e coisa e tal. E agora… o que vou dizer sobre você?
Era tudo o que precisa ouvir. Naquele mesmo dia, mandei um e-mail marcando uma hora para conversar com aquele que foi o meu orientador.
Agora vejam, enquanto estudava, não estava deixando de ser uma boa mãe, pois estava sendo um exemplo para minha filha.
No Dia Internacional da Mulher, desejo que menos culpa seja colocada na nossa conta. Que tenhamos paz para estudar, para ler e escrever. E que se der na louca de uma esposa querer ter uma vida acadêmica em pleno matrimônio, que a sogra converse com o seu filho para compreendê-la e apoiá-la.
Que as mulheres se ajudem nesse sentido e que a responsabilidade de um casamento feliz ou de uma separação pare de ser só (ou principalmente) da mulher. Isso, penso eu – coisa rara de se observar na nossa sociedade que aponta o dedo para a mulher por tudo de errado que acontece dentro de um lar –, seria um grande exemplo de igualdade.
Texto publicado originalmente publicado por Elika Takimoto, professora e coordenadora de Física do CEFET-RJ e escritora, em seu Facebook.
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