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Paulo Cezar Caju

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O papo reto do craque que joga contra o lugar-comum
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A prisão de Ronaldinho Gaúcho e o mundo de fantasia do futebol

Alguns jogadores podem se meter em confusões, mas continuarão sendo idolatrados pela torcida. Seus golaços e acrobacias em campo soterrarão as lambanças

Por Paulo Cezar Caju Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 16 mar 2020, 17h05 - Publicado em 16 mar 2020, 16h52
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  • Minha relação com a torcida sempre foi de amor e ódio. Nunca tive um estrategista de marketing para me transformar em ídolo e jamais medi palavras para dizer o que pensava. Eu era garoto quando meu pai foi enrolado por dirigentes do Botafogo. Ouvia suas reclamações e aquilo me revoltava. Não me conformava quando, já jogador, era barrado em restaurantes por ser negro. Minha diferença é que botava a boca no trombone e isso gerava antipatia dos dirigentes, os mesmos que deram uma volta no meu pai.

    Construí minha carreira batendo e apanhando. Hoje quando me perguntam sobre essa história confusa de Ronaldinho Gaúcho e do irmão Assis acho curioso. Muita gente, até hoje, me olha torto por eu ter passado boa parte de minha vida mergulhado em cocaína e álcool. Há 20 anos estou limpo, nem chopinho. Nunca roubei ou passei a perna em ninguém, mas continuam me olhando com desconfiança.

    Alguns jogadores, como o Ronaldinho Gaúcho, podem se meter em confusões e cometer fraudes que continuarão sendo idolatrados pela torcida. Passam a imagem de bom moço. Ronaldinho Gaúcho deixará de ser ídolo? Duvido muito. Seus golaços e acrobacias em campo soterrarão todas as lambanças. Desconstruir a imagem de um ídolo não é simples. É como se o torcedor não quisesse enxergar nada de errado em seu herói, ofuscasse seu lado monstruoso. É um mundo de fantasia.

    Se Ronaldinho sair da prisão e circular pelo centro da cidade será cercado por torcedores que pedirão autógrafos e selfies. O mundo funciona assim. O planeta está contaminado por um vírus muito mais devastador que o “Corona”. É o vírus da mediocridade, da insensatez e da estupidez. Mas em um ponto esse vírus agiu corretamente, afastou o torcedor dos estádios, afinal ninguém merece pagar para ver Flamengo x Portuguesa, Vasco x Fluminense, Botafogo x Bangu, Corinthians x Ituano e Palmeiras x Inter de Limeira. Sem falar, no Grenal, o clássico troglodita.

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    É inadmissível como o Sul preserva esse perfil machão, de batalha campal, totalmente ultrapassado. É tudo que nosso futebol não precisa. Por isso, sigo na minha torcida por Fernando Diniz, que vai ajeitando o São Paulo, e Jorge Sampaoli, que estreou vencendo no Galo. Roger Machado segue no Bahia e tomara que continue. Por falar em Roger, os jogos da Copa do Nordeste são muito agradáveis de ver. O Fortaleza, de Rogério Ceni, outro para quem torço muito, continua jogando bonito e venceu o Náutico. É um futebol leve, veloz, que valoriza os pontas.

    O Flamengo também vem priorizando o futebol ofensivo. Precisamos dessa ousadia, chega de nos contentarmos com pouco, com esse futebol covarde que se alastrou como um vírus pelos estádios do Brasil. Em tempo, na coluna da semana passada citei os novos chavões dos comentaristas e treinadores, e o pessoal lembrou de mais uma: leitura de jogo. Só faltava essa! Futebol não se lê, se joga!

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