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Paulo Cezar Caju

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O papo reto do craque que joga contra o lugar-comum

A seleção que me fez chorar na quarentena

Um grupo com Pelé, Garrincha, Nilton Santos e Didi não pode ser comparado a nenhum outro na história do futebol

Por Paulo Cezar Caju Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 7 abr 2020, 13h16 - Publicado em 7 abr 2020, 12h53

Estou fugindo do coronavírus, em Angra, na casa de meu amigo Wilson de Souza Filho, rubro-negro e boleiro dos bons. Não estou vendo TV, nem acompanhando o noticiário, mas continuo atendendo ligações e uma delas foi de um jornalista da revista France Football. Falamos sobre minha carreira, polêmicas, títulos e derrotas. No fim, fez aquela pergunta que o pessoal da resenha adora: qual a melhor seleção brasileira, a de 58 ou a de 70? Me lembrei de um vídeo do Afonsinho e sua reação ao ver uma foto do time de 58 formado. Ele chorou e falou “esses são os santos de meu altar”.

Esse sentimento resume o que essa geração representou para nós. Um grupo com Pelé, Garrincha, Nilton Santos e Didi não pode ser comparado a nenhum outro na história do futebol. Realmente são os santos do altar de quem enxerga esse esporte como uma arte. A de 70 foi fantástica, mágica, inesquecível! Pela qualidade dos adversários pode ser considerada a melhor Copa de todos os tempos, afinal estreamos contra a seleção tcheca, campeã europeia, com Petrás e Kuna, depois contra a Inglaterra, de Banks e Bobby Moore, campeã mundial, e Romênia, vice-européia. Depois, Peru, do técnico Didi, Uruguai, de Ancheta, e a final contra a Itália, de Mazzola. O nível era muito bom. Mas, olha, não dá para esquecer da de 50, do grande Barbosa, Zizinho, Jair da Rosa Pinto, Chico, Friaça e Ademir Menezes. Era um timaço!

A de 62 era praticamente a de 58, mas tinha Amarildo, o Possesso, que mostrou o seu potencial quando precisou substituir Pelé. A de 82, nem se fala, Zico, Falcão, Éder. Carregam um peso cruel por não terem trazido o caneco. O futebol tem dessas coisas. Sobre as outras seleções não me sinto confortável porque o estilo passou a ser outro, muita retranca e um futebol pragmático, sem a magia de outrora. Mas coloco Rivaldo, Romário, Bebeto, Ronaldo Fenômeno e Ronaldinho Gaúcho na galeria dos maiores do mundo.

Respondi para o jornalista da France Football que a de 58 foi incomparável, mas pelo nível enfrentado pela de 70 o ideal seria colocar uma em cada tempo. Quando terminei a ligação procurei uma foto de 58 no Google: Gylmar, Djalma Santos, Orlando, Bellini, Nilton Santos, Zito, Didi, Garrincha, Zagallo, Vavá e Pelé. De repente, Wilson, meu amigo, cutucou o meu ombro e quis saber por que eu chorava. Mostrei a foto e ficamos os dois vidrados como se aqueles artistas da bola estivessem bem ali na nossa frente, entrando em campo para mais um espetáculo.

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