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Paulo Cezar Caju

Por Paulo Cezar Caju Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
O papo reto do craque que joga contra o lugar-comum
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Também fui craque da moda; mas jogadores não podem dar um bico no futebol

O penteado e as roupas são formas de expressão, um grito de liberdade, mas atletas de hoje parecem estar confundindo as prioridades

Por Paulo Cezar Caju Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 3 Maio 2021, 15h36 - Publicado em 3 Maio 2021, 15h25
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  • Rivellino e Caju, pela seleção brasileira, em 1971
    “Eu visto um terno francês Renoma e ele o uniforme da delegação, caretaço” (./Arquivo pessoal)

    Estava assistindo Palmeiras e Santo André — tomei Rivotril antes —e não há a menor dúvida que para o jogador atual o futebol está em terceiro plano. A moda vem em primeiro, a maratona vem em segundo e a bola de vez em quando aparece. O jogo parecia um desfile de modelos velocistas. Como essa rapaziada de hoje corre! Tanto que às vezes esquece da bola. Todos com tatuagens de marcas de beijo, tigres, leões, aves de rapina e caveiras. Tem de tudo.

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    Os penteados são variados e vão do moicano ao que o Neymar esteja usando. As coxas precisam estar bem depiladas e musculosas para o shortinho ser levantado sem maiores problemas. Uma chuteira de cada cor, claro! Só para não acharem que é preconceito de minha parte vou logo avisando que na minha época ganhei o apelido de Craque da Moda, do locutor Valdir Amaral. Não sou contra piercing, sobrancelhas feitas e maquiagem desde que o futebol de qualidade venha junto. Assistam os jogos da NBA e entenderão o que falo.

    Nessa foto com o Riva, de 1972, eu visto um terno francês Renoma e ele o uniforme da delegação, caretaço, da Casa José Silva. E olha que era uma viagem pela seleção brasileira, hein. Me vestir bem, de forma extravagante em algumas ocasiões, não era para afrontar ninguém, mas uma forma de me impor, de conquistar meu espaço em uma sociedade de maioria branca.

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    Sempre frequentei bons restaurantes, adorava a Churrascaria Carreta e o bar Zeppelin, em Ipanema. Vivia no Barril, no Arpoador, point do colunista Ibrahim Sued, de João Saldanha, e de Carlinho Niemeyer, do Clube dos Cafajestes e criador do Canal 100. Usava roupas da Biba, Company, Krishna, Smuggler e curtia belos relógios. Não me constrangia em entrar em lojas caras. Gostava de boates, da Zum Zum, da Sashinha, do Le Bateau e de carrões, como meu Puma mostarda e o Fiat Spider laranja. A Avenida Atlântica era lotada de concessionárias. Mas eu não via jogadores de futebol pretos em nenhum desses espaços, pouquíssimos, raríssimos.

    O penteado, as roupas são formas de expressão, um grito de liberdade. Os jogadores quando entram em campo como se fossem para uma festa vulgarizam a moda e dão um bico no futebol e quem paga o pato é o torcedor. Se já não fosse o bastante, ainda temos que ouvir os comentaristas falando que fulano entrou pela diagonal, saiu pela vertical, quebrou a linha adversária e marretou a bola!

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