Quando se discutem soluções para a mobilidade em mercados como a Europa, em que carros elétricos já representam 12% dos novos emplacamentos, os microcarros surgem como uma alternativa interessante. Além do tamanho diminuto, são econômicos, baratos e de baixa manutenção. Prova disso é o Microlino, inspirado na Romi Isetta, que já vendeu mais de mil unidades e segue como um dos mais carismáticos à venda atualmente. No Japão, embora os elétricos ainda sejam minoria, há um movimento de lançamentos no setor, e o país tem tradição em veículos de tamanho reduzido. Até nos Estados Unidos, terra dos carros gigantes, há um número crescente de startups apostando nos pequenos modelos.
Aqui, no Brasil, no entanto, parece que a moda ainda não pegou. Quem lembra do Smart, que comportava apenas dois passageiros e chegou a ganhar até versão conversível? Embora simpático, era caro e virou apenas uma curiosidade. Por que isso acontece? O consultor Cassio Pagliarini, da Bright Consulting, especializada no setor automobilístico, fala sobre o vácuo de legislação existente.
Por que os microcarros ainda não vingaram por aqui?
Tem certo vácuo de legislação. Carros normais precisam atender exigências de eficiência energética, de equipamentos e os crash tests. São obrigados a ter airbags, controles eletrônicos de estabilidade, ABS e outros equipamentos. E normalmente os microcarros não têm essas funções, porque são feitos para ter uma dirigibilidade mais limitada, um uso mais limitado, e um preço mais acessível. A Citroen, por exemplo, está trazendo o veículo Ami para o mercado, mas está direcionando esse produto para condomínios e empresas. Não são veículos para serem emplacados porque eles não atendem às normas brasileiras, principalmente de impacto, frontal e lateral.
Mas eles são populares em outros mercados.
Eles são fortes em outros mercados porque existem legislações que permitem sua circulação de uma forma mais abrangente. Aqui, no Brasil, ainda não existe uma abertura de legislação que existe em outros mercados.
Você acredita que eles possam ganhar popularidade aqui no Brasil?
Eu acredito sim na possiblidade de termos veículos mais acessíveis. Sob a questão de crash test, segurança e equipamentos, basta ver o exemplo das motos, que não fazem crash test. Um triciclo também não. E eles rodam por aí. Precisa uma compreensão do que é necessário fazer em termos de atitude de legislação para que eles rodem nas vias públicas, onde podem rodar e com quais limitações.