Reflexões da Estrada: como são criadas as boas memórias automotivas
Alguns momentos divertidos ao volante podem se tornar lembranças mais poderosas de uma viagem que passeios por pontos turísticos

Já era noite. Voltávamos de Belo Horizonte rumo à casa alugada na região da Casa Branca, em Brumadinho. O GPS indicou um caminho alternativo, mais rápido, por vias rurais. Entramos em um trecho de terra, completamente deserto. Uma névoa começou a se formar. Em poucos minutos, parecia que tínhamos cruzado alguma fronteira imaginária e entrado em uma cena que parecia um misto de filme de ficção científica com história de terror. O sinal de internet ainda funcionava, então colocamos para tocar uma playlist futurista, com sintetizadores saídos de trilhas sonoras dos anos 1980. Nas curvas, os farois direcionais seguiam a direção do volante e ajudavam a iluminar o caminho no meio do nevoeiro, como se fossem antecipar a aparição de algum alienígena – como o ET de Varginha, já que estamos em terras mineiras.
Era tudo uma brincadeira, claro, e rodamos assim, naquele ambiente que parecia um episódio de Arquivo X, por pouco mais de 30 minutos. Mas foi suficiente para que aquele trecho ficasse gravado na lembrança. É uma das memórias automotivas mais fortes de uma viagem que teve sua boa cota de momentos memoráveis.
Viajar de carro é um barato por várias razões. E uma delas é a própria experiência de dirigir por lugares que talvez nunca passaríamos de outra forma. Se fôssemos de avião para Belo Horizonte, nunca pegaríamos aquela estrada. Em um ônibus, provavelmente estaríamos dormindo.
Aquele trecho, com aquele carro, naquelas condições específicas, e com aquela trilha sonora, se tornou motivo de recordação. “Lembra quando passamos no meio do nevoeiro, perto de BH?”, costumamos dizer. Ou então: “Essa estrada parece aquela sinistra que pegamos em Minas!”.
Não passei por aquela estrada depois, durante o dia. E talvez nem soubesse encontrá-la no mapa depois. Provavelmente não tinha nada de especial. Era uma estrada rural como tantas outras, com seu chão de terra batido e porteiras beirando o caminho. Às vezes, é melhor manter o mistério. As memórias ficam muito mais divertidas assim.