Reflexões da estrada: fugir da rotina é um ritual de ano novo

O Waze deve estar mentindo. É impossível que uma viagem até o litoral norte de São Paulo dure só três horas, ainda mais a menos de cinco dias do ano novo. Mesmo assim, acreditamos que conseguimos driblar as outras milhões de pessoas prestes a descer para o litoral e estamos saindo na melhor hora. Os outros devem ter demorado para carregar o carro. Ou decidido ir outro dia. Talvez aproveitem para trocar os presentes de Natal antes de viajar.

Jogamos as bagagens no porta-malas e pegamos a estrada. Em pouco tempo, descobrimos que, no fim das contas, o Waze estava mesmo mentindo. As três horas viram seis. Ou um pouco mais, contando a parada para o banheiro e para um lanche. Na maior parte do tempo, a velocidade máxima que alcançamos é 15 quilômetros por hora – talvez 20, quando nos distraímos e o carro da frente andou alguns metros. 

O recesso entre Natal e Ano Novo é mais do que um período de folga para muitos. É um estado de espírito. Para se despedir do ano que se encerra e receber o que se inicia, vale de tudo – até encarar horas de estrada. Estoicamente, olhamos pelo vidro e contemplamos a infinita fila de veículos à frente. O que mantém nossa determinação é a vontade de deixar os perrengues no passado e curtir alguns dias longe da rotina.

É um movimento bonito. Milhões de pessoas vão para a praia ou para o interior. Reúnem os amigos, veem familiares, preparam comidas para o jantar da virada (por aqui, o que não pode faltar é lentilha) e festejam a chegada de um novo ciclo. Há uma esperança compartilhada por todos. Mesmo para quem não ganhou na Megasena, o ano vai ser melhor que o anterior.

E por um breve momento, quem tem a chance de viajar nesse período pode esquecer da rotina e curtir esse ritual de transição. Mesmo que as seis horas de trânsito na volta nos lance de volta ao mundo real. 

Opa, o carro da frente andou. Melhor deixar o devaneio de lado e focar a atenção no trânsito.

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