Salão de Xangai: no mercado chinês, público quer design e tecnologia
Em um dos maiores eventos do setor, apresentações de novos carros enfatizam visual e novas funções - e dados sobre potência ficam em segundo plano

É o primeiro dia do Salão de Xangai, o Shanghai Auto Show. A entrada é permitida apenas a membros da imprensa local e internacional, mas a quantidade de gente é tão grande quanto um dia de evento aberto ao público no Brasil. A escala do National Exhibition and Convention Center impressiona. São 360 mil metros quadrados, equivalentes a mais de 50 campos de futebol. São dois andares, oito pavilhões, reunindo não apenas boa parte dos fabricantes de automóveis do planeta, mas também preparadores, restauradores e empresas de tecnologia.
Fica claro que a competição do mercado interno chinês é brutal. São mais de noventa empresas diferentes. Algumas oferecem um portfólio grande de produtos, dos onipresentes SUVs a sedãs, ainda populares e cobiçados por aqui, e as curiosas minivans, com espaço para seis ocupantes, algumas de perfil executivo, outras mais familiares, e curiosas frentes com grades inspiradas em cachoeiras.
Algumas são conhecidas dos brasileiros. GWM, BYD, Chery já vendem seus veículos no Brasil. Outras estão para chegar, como a Leapmotor, GAC e Geely. Outras fornecem carros que são transformados em modelos de grandes marcas ocidentais. Muitas outras, no entanto, são absolutamente desconhecidas fora da China.
No primeiro dia, dedicado à imprensa, as coletivas em cada estande acontecem com diferenças de vinte minutos. É curioso perceber quais são as características mais importantes para o público chinês. No estande da Leapmotor, startup que é a grande aposta da gigante Stellantis para entrar no segmento de carros elétricos e eletrificados fora da China, a novidade é a apresentação do B01, sedã voltado para o público jovem. O foco é em design, de inspiração marítima, e a paleta de cores, que inclui opções focadas em mulheres, como opções Pantone. Ou na personalização que o painel oferece para o encaixe de enfeites, algo popular por aqui. Nenhum dado sobre potência do motor, aceleração ou altura do solo. Não quer dizer que os veículos não sejam potentes e tecnológicos, mas isso interessa menos ao mercado local.
É interessante notar também a estratégia de globalização das empresas chinesas. A GWM, por exemplo, tem três modelos à venda no Brasil: o compacto elétrico Ora 03, o SUV híbrido Haval H6 e o SUV de pegada off-road Tank 300. No estande do Salão, no entanto, fica clara a diversidade do portfólio. Há três versões do Ora, uma delas de proposta esportiva (e visual retrô inspirado em um clássico alemão), outras tantas da linha Tank e as minivans de luxo da linha Wey. Vários deles não fariam sentido no mercado brasileiro, mas são populares na China.
As marcas ocidentais estão presentes também. Há modelos vendidos em todo o mundo, bem como conceitos apresentados exclusivamente e que não serão comercializados, mas servem para apontar tendências e revelar como aquelas marcas pensam o futuro. Mas há também outros veículos pensados especificamente para o mercado chinês, como os três conceitos apresentados pela Volkswagen.
Como em outros salões, passear sem rumo pelos pavilhões pode revelar grandes surpresas. Há restauradores de carros antigos, que ganham tecnologias atuais e destoam em absoluto dos modelos atuais. Ou preparadores que modificam veículos, como a americana Mansory, conhecida pelas versões customizadas de modelos da Mercedes. Aqui, eles mexem até nas minivans chinesas.
Esse olhar para o mercado chinês atual é um interessante vislumbre do mercado automotivo em outras regiões.
*O jornalista viajou para Xangai a convite da Leapmotor e da GWM