Bebês de IA viram nova trend das redes sociais
Em um ano marcado por obsessões bizarras, nenês falando piadinhas bobas entram na linha de sucessão da Marisa Maiô e das criancinhas reborn

Tem dias que preencho a coluna com pesquisas, levantamentos, entrevistas. E tem dias, como hoje, em que eu trago o Baby Bebetinho, perfil de Instagram com vídeos de IA que em coisa de quatro dias arrebanhou mais de 100 mil seguidores.
Trata-se de um perfil com vídeos feitos no Veo3, do Google, em que um bebê relata peripécias como “vou esperar minha mãe me trocar para sujar a fralda toda de novo” ou piadinhas como “quem dá trabalho para o papai sou eu, quem dá trabalho para a mamãe somos eu e o papai.”
E as pessoas adoram, revezando-se entre comentar (99% das vezes em tom de zoeira) que é espantoso ver uma criança tão pequena falar tão bem, toneladas de emojis com corações e o “tá amarrado” tipicamente inserido em conversas para espantar o coisa ruim. Embedei vídeos dele aqui no texto, caso você queira ver com os próprios olhos.
Daí, você vai me perguntar o que é que isso muda na sua vida. Olha, eu também pensei nisso, viu?
E decidi falar do Baby Bebetinho, apesar de os números dele ainda não serem gigantes quando comparados ao bolo colossal que é a internet, porque ele me deixou curioso pra procurar mais bebês bizarros (desculpa, Bebetinho) em outro termômetro de manias inusitadas da internet, o TikTok.
Foi tipo abrir a caixa da Pandora. Ou, sei lá, Baby Pandora, para a gente continuar no tema.
Aparentemente bebês de IA são a nova Marisa Maiô, que por sua vez havia tomado o lugar dos bebês reborn na lista de figuras esquisitas deste ano marcado por obsessões bizarras.
Assim como no caso da Marisa, existe um componente de estranhamento que deixa o usuário curioso. Em geral, os bebês que a gente se acostumou a ver apenas emitindo sons fofinhos aparecem dizendo coisas entre o engraçadinho e o impróprio para menores.
E, apesar de eu ter mencionado os bebês reborn, cabe deixar claro que o Baby Bebetinho e seus coleguinhas de creche virtual são OUTRO tipo de esquisitice do berçário. Existem apenas na internet, sem a materialidade do plástico e da borracha.
Mas essas duas recriações dos bebês também se conectam na medida em que falam da fixação contemporânea com crianças, que foi tema de outro texto aqui da coluna, sobre a epidemia de infantilização voluntária. Nele, falei de como a gente busca um retorno à segurança associada ao passado como uma resposta à impossível tarefa de dar conta da vida adulta do século XXI.
E, se você me permite linkedinizar um tantinho a conversa, dá para pinçar algumas lições da trend dos bebês de IA.
A primeira é que a economia da atenção, que sempre privilegiou o que é fora do padrão, se acentuou ainda mais quando a IA tornou possível criar quase qualquer coisa que se imaginar.
@tresoitinho Partiu casa da vovó 🥰 #fofo #inteligenciaartificial #ai #ia #maternidade #vovo #nenem ♬ som original – Tresoitinho
A segunda é que vai ser interessante ver até onde vamos engajar com isso, uma vez que as novidades hoje em dia cansam cada vez mais depressa. Aliás, leia a entrevista sobre Fadiga de IA que fiz com a especialista em cultura de internet Bia Granja.
Por fim, que a nossa relação com humanos que não são realmente humanos vem sendo profundamente transformada pelo conteúdo de IA. É algo que já estava em andamento, como mostravam personagens como Lu do Magalu (aliás, tema da minha pesquisa de mestrado), e que se acentuou com proliferação desses “serumaninhos”.