Como a inteligência artificial muda o jeito que você compra
Personalização, novos canais e agentes que compram no seu lugar. Rafaela Rezende, expert em varejo há duas décadas, fala sobre as mudanças tech no segmento
Você não vai mais fazer compras. Bom, só se quiser, é claro. Mas vai ser possível treinar uma máquina – um agente de IA, para ser mais preciso – que será capaz de negociar no seu lugar. E essa figura high tech vai interagir com outro não humano, representante da loja.
Parece ficção científica, eu sei. Mas esse é apenas um dos cenários que já começam a se desenhar quando falamos do futuro do varejo.
Claro, o comércio (tanto físico quanto digital) não vai sair de cena, mas tem tudo para ser reformulado pela chegada das IAs. Como sempre digo aqui na coluna e para meus alunos: é uma tecnologia de uso geral, então ela vai impactar as mais variadas áreas da existência humana.
Conversei a respeito com Rafaela Rezende, presidente da operação brasileira da VTEX, empresa de tecnologia que desenvolve plataformas de e-commerce para marcas e varejistas no mundo todo.
De que maneira a inteligência artificial impacta o futuro das compras?
Com a IA, a gente não precisa mais pensar em uma jornada única. Conseguimos personalizar a experiência dentro de cada canal. Para mim, tem mais a ver com criar experiências personalizadas do que entender como o algoritmo funciona. Já existem lojas que adotam tecnologia como busca semântica ou contextual, em que você simplesmente dá uma ordem e recebe ofertas a partir daquela intenção de compra.
E quanto à descoberta da marca? Hoje se fala que mais do que otimizar para o Google, é preciso pensar em ser encontrado pelas IAs.
É importante estar presente em diferentes canais, como o ChatGPT, que é um novo canal de aquisição. Mas ele ainda vai precisar por trás ter o checkout, um catálogo, preço, produto, oferta. Antes, o relacionamento entre indústria e varejo era baseado em colocar produtos na vitrine porque alguém pagava por isso. Hoje, com IA, a gente mostra o produto certo para a pessoa certa, na hora certa. Isso mudou radicalmente a relação entre varejo e indústria.
Que tendências você enxerga para o futuro do varejo?
Antes, você precisava saber exatamente o que queria comprar. Hoje, o consumidor tem uma intenção: “quero roupa para festa”, por exemplo. As vitrines já são personalizadas — tanto no digital quanto na loja física. O vendedor também passa a conhecer a jornada do cliente em todos os canais, não só na loja. Outra tendência é usar IA no pós-venda.
Que papéis a IA pode desempenhar, nesse caso?
Mais adiante, veremos máquinas conversando com máquinas. Vamos criar nossos próprios agentes, que vão negociar com os dos estabelecimentos. Isso muda a arquitetura dos modelos e exige que as empresas estejam preparadas para atuar nesse novo cenário.
Nesse contexto, o que acontece com o vendedor humano?
Eu acho que o vendedor humano vira um super-humano. Antes, ele conseguia conhecer profundamente três clientes. Com IA, pode conhecer cem ou mil com a mesma excelência. Porque a tecnologia permite unir personalização e escala, que antes eram antagônicas.
Algumas pesquisas mostram a atividade de vendedor como ameaçada pela IA.
O vendedor continua sendo peça-chave, mas seu papel muda. Ele passa a ser consultor, não mais apenas um agente transacional. Alguém que orienta o cliente de forma personalizada, com base em dados e informações. O e-commerce já substituiu parte da necessidade desse vendedor, mas a quantidade de informações é enorme, então o cliente vai continuar querendo uma venda mais consultiva.







