Quase um mês se passou desde o deplorável episódio em que o jogador de vôlei e medalhista olímpico Wallace de Souza estimulou a violência contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em redes sociais. Na ocasião, Wallace publicou uma foto em um estande de tiro e, em uma interação con seus seguidores, pegou carona em uma pergunta de um deles se arma era para dar um tiro no presidente. Animado, abriu uma enquete infame sobre o assunto em seu perfil.
Passado o escândalo inicial, vieram os pedidos de desculpa do atleta seguidos de suspensões do COI e de seu clube, o Cruzeiro. Na segunda-feira 27, o procurador do Superior Tribunal de Justiça Desportiva do Vôlei (STJDV), Fábio Lira, decidiu arquivar a representação contra o jogador feita pela Advocacia-Geral da União (AGU). Com a medida, o Cruzeiro já vislumbra a possibilidade de reverter as suspensões e trazer Wallace de volta aos jogos — desde o incidente ele segue, mesmo suspenso das disputas, treinando normalmente com a equipe.
O caso de Wallace aponta para um desfecho bem diferente de outro acontecimento semelhante ocorrido há cerca de um ano e meio. Em junho de 2021, outro medalhista olímpico da seleção masculina de vôlei, Maurício Souza, então ligado ao Minas Tênis Clube, fez comentários homofóbicos em redes sociais e acabou demitido do clube imediatamente após o incidente. No entanto, mais que o rigor do empregador do atleta, o que pesou nesse caso foi a pressão pública dos patrocinadores.
No incidente envolvendo Wallace e o Cruzeiro, os apoiadores do time, Unimed-MG e Arcellor Mittal, divulgaram notas indignadas, exigiram providências, mas basicamente delegaram a responsabilidade pela apuração dos fatos e a decisão final à agremiação e entidades esportivas. Até nas redes sociais de algumas das empresas patrocinadoras os posicionamentos já não são nem encontrados mais.
No episódio de 2021, a reação foi outra. Os patrocinadores do clube, Fiat e Gerdau, pressionaram por uma solução bem mais severa. Sem querer ver suas marcas associadas a uma atitude que incitava ao discurso de ódio e à discriminação, se posicionaram por seu desligamento da equipe, o que foi de fato efetivado 48 horas depois do incidente. Aposentado do vôlei, Maurício migrou para a política e foi eleito no ano passado deputado federal por Minas Gerais pelo PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro.
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